O Ocidente acompanha com preocupação o envolvimento da Federação Russa no conflito da Síria. Nesse semana, a Secretária de Estado, Hillary Clinton, soou o alarma, aludindo a fornecimento pelo Kremlin de helicópteros de ataque para Bashar al-Assad.
Compreende-se que a Rússia tem a faculdade de inviabilizar, através do veto, qualquer iniciativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nesse sentido, as resoluções do Conselho se limitaram a recomendações, sem dar qualquer vaza para o uso eventual da força.
A diplomacia russa, com o tarimbado Ministro do Exterior, Serguei Lavrov, tem esta condição muito presente. Durante a presidência de Dmitri Medvedev, a OTAN foi autorizada a agir militarmente na Líbia. Se bem que a ação teve objetivos a princípio humanitários, Vladimir Putin quer evitar que o cenário se repita. Como se sabe, os bombardeios da OTAN foram determinantes para dar vantagem militar à Liga de Benghazi, na sua reação contra o governo de Muammar Kaddafi.
Putin não quer perder outro aliado, o que a seu ver aconteceria se houvesse autorização do Conselho de Segurança para uma ação armada. A blindagem do amigo Bashar pela Rússia chegou ao ponto de que o destacamento de observadores das Nações Unidas para a Síria – o chamado plano Annan – sequer permitiu que os cascos azuis levassem armas leves, de defesa pessoal.
Será sem dúvida pela ausência de qualquer meio de coação armada que o Plano Annan se tornou irrelevante, com o próprio fracasso admitido da tribuna da Assembleia Geral pelo seu autor, o ex-Secretário-Geral Kofi Annan.
Sem embargo, o alegado envio de helicópteros de ataque pela Rússia para o regime sírio corresponderia a uma inversão do óbvio escopo das Nações Unidas, que é o de promover a paz naquele atribulado país.
Se Putin manda armas ofensivas para o contestado regime sírio, processa uma clara escalada no envolvimento das grandes potências na luta entre Bashar e grande parte da população, que o rejeita com ênfase crescente.
Moscou nega que esteja fornecendo ao governo sírio esse tipo de armas. No entanto, notícia veiculada pela CNN reporta que um navio de transporte russo, o Nikolay Filchenkov, zarpou a sete de junho, do porto de Sebastopol, no Mar Negro, com destino a Tartus no Mediterrâneo Oriental.
Esse navio tem capacidade de carga de até 1.700 tons de equipamento e trezentos homens. Como se vê, não é exatamente embarcação pequena. Segundo se assinala, material e tropa se destinariam a reforçar a guarnição de Tartus, que é a única base de águas quentes da frota russa.
O Kremlin contraditou a assertiva da Secretária de Estado, afirmando que os helicópteros encaminhados para a Síria não são equipamentos novos, mas sim aparelhos reparados na Rússia, e que teriam fins exclusivamente defensivos.
É de intuir-se a inquietude do Ocidente quanto às características dos fornecimentos militares do governo Putin ao regime alauíta. De parte de Moscou, se increpam Qatar e Arábia Saudita como fornecedores de armas para o Exército Livre da Síria. Releva, por conseguinte, determinar a natureza desse auxílio militar de Moscou ao governo de Damasco.
Se a carga transportada pelo Nikolay Filchenkov reveste natureza ofensiva, a iniciativa russa marcaria um novo agravamento na crise. Com todo o equipamento de segurança de que dispõe notadamente os Estados Unidos – e a maior parte do material de informação decorrente é classificado como confidencial – o Kremlin dificilmente pensaria que uma tal ‘entrega’ com caráter de reforço ofensivo do regime sírio poderia efetuar-se sem ser assinalada pelos meios de observação da superpotência.
É de presumir-se, por conseguinte, que as declarações oficiais russas correspondam à realidade. Caso contrário, teríamos uma iniciativa inábil, que levaria à repercussão desfavorável para o Kremlin, com um ulterior acirramento da situação.
( Fonte: CNN )
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