quinta-feira, 7 de junho de 2012

Tirando o Elefante da Sala

                                 
     É o próprio Governo que admite a conveniência do adiamento da votação da MP do Código Florestal para depois da Rio + 20.
     Em meio às evasivas desculpas e cortina de fumaça, a medida constitui mais do que embaraçosa,  confrangedora confissão de impotência legislativa diante do poderio da bancada ruralista.
    Houve mesmo indicações de fonte governista de que a iniciativa visava a evitar vexaminosa derrota para a Frente ruralista durante a conferência Rio + 20, com negativa repercussão global da adoção de normas na contramão da tendência ambientalista.
    Na verdade, tais providências, se confirmadas, desvelam apenas um jogo de cena, pondo a nu, em última análise, a superficialidade do comprometimento do Brasil no plano internacional, eis que manifestamente desligado da penosa realidade interna.
    O governo  Dilma não deseja cair no ridículo. Esperava-se que tivesse o objetivo de reverter, de acordo com o real interesse brasileiro, um resultado ruinoso na campanha pela preservação do meio ambiente.
    Não creio que essa grei ruralista vá deixar-se impressionar por resoluções de conferências internacionais. Como no desembestado avanço dos lemingues, ela  também tem pressa, embora não meça as consequências do próprio açodamento. O que ela quer é o ganho rápido na produção, pouco importa se obtido à custa do desmatamento e da consequente perda das riquezas de Mãe-natureza.
     O que em verdade me impressiona no capítulo não é a torpeza do adversário, mas sim a incompetência parlamentar da Administração Dilma Rousseff. Deixa-se sempre surpreender pelas articulações da frente ruralista. Assim, este tigre de papel que é a base de apoio costurada pelo grande lider Lula da Silva para a eleição e sustentação da Administração de sua criatura, por certo não parece assustar a ninguém.
    E a pergunta difícil de calar é a do porquê este Governo com tal esmagadora preponderância numérica sequer consegue que a bancada do PMDB – para citar tão só uma de suas componentes – o apóie quando dela necessita. O que se viu – e não  há tanto tempo assim – foi a rancorosa arrogância do respectivo líder, se bravateando de rebeldia contra o interesse do governo. Não vá, de resto, pensar-se que estejam indo para a oposição. Muito pelo contrário. Se fazem o que bem entendem, continuam, não obstante, a reivindicar as gordas tetas das verbas federais.
    No plano da realidade, quero crer que o plantel governista, com a respectiva ministra e seus líderes, deveriam baixar à terra e abandonar as mesuras de palácio. Por incompetência ou fraqueza, ou, quem sabe, a mistura dos dois fatores, não logra fazer valer a maioria que diz ter.
    Dada a debilidade na ação e a indigência numérica da oposição nominal, neste Congresso quem contraria o Governo Rousseff é a própria situação. Não foi do líder máximo Lula da Silva a iniciativa da criação da CPMI, o que na tradição sempre fora instrumento das oposições ?    
     Não nego que,apesar de tudo, nutra simpatia mais por Dilma Rousseff do que por seu governo, dada a inteligência e preparo, mas quero crer que a sua Administração careça do aporte de um líder à  altura, como na passada República Velha havia dirigentes de pulso, como o Senador Pinheiro Machado, com quem não se faziam molecagens.
    E talvez nem seria necessário ir tão longe na evocação de parlamentares com controle das bancadas. Houve gente de nomeada  sob a Constituição de 1946 e até na Nova República.
    Com energia e discernimento poderiam até ser individuados. Pois o Governo Rousseff deles tem muita precisão.




( Fonte subsidiária:  O Globo )

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