Realizar-se-ão no próximo domingo novas
eleições na Grécia. De seu resultado depende não só a situação da República
Helênica, senão as perspectivas para a Zona do Euro e da própria União
Europeia.
Na verdade, o desafio não vem só da antiga
terra dos helenos, embora sua eventual
conformação muito há de contribuir para a evolução futura na U.E. Salta aos
olhos que a simples política de austeridade, despojada dos recursos keynesianos,
está fazendo água e que, em consequência, a posição da Chanceler Angela Merkel não se afigura com a predominância de
antes.Com a eleição de François Hollande, Merkel perdeu um grande suporte. Ao invés da rigidez anterior, com a saída de Nicolas Sarkozy, a segunda economia na Zona do Euro passa a advogar política economico-financeira mais pró-ativa, com ênfase no crescimento e não na suposta disciplina orçamentária.
Como nos membros da Zona do Euro, a crise econômica prevalece, e são poucos os exemplos de países com as contas em ordem, afigura-se natural que a maioria vá pender para a maior flexibilidade financeira, segundo a cartilha de Lord Keynes.
Por outro lado, aguarda-se com óbvia ansiedade o que dirão as urnas na Grécia. Se o Siryza de Alexis Tsipras sair dos comícios com a bancada reforçada, a disjuntiva negociação ou calote volta a colocar-se. Diante do imponderável da ruptura, as pressões tenderão a aumentar para que uma solução de compromisso seja atingida.
A par disso, a Nova Democracia de Antonis Samaras acena com nova disposição de acordos menos unilaterais, em que os ultimatuns de Bruxelas se transformem em possibilidades de continuação do esquema precedente, dentro da filosofia referida no romance de Giacomo di Lampedusa de que se mudem as coisas para que tudo fique como era antes.
Depois da farra do euro e da vida no vermelho da dívida, o povo grego confronta a tristeza da penúria. Misturam-se temores e esperanças na realização de que, em uma economia diminuta como a helênica, podem estar tanto os germens da calamidade, quanto acenos de tempos melhores.
Que os militares recuperem um poder contestado e que predomina no Egito desde a derrubada do rei Faruk em 1952, não é um fator que deixe em calma a praça Tahrir.
Ao ensejo da eleição em segundo turno que contrapõe Mohamed Morsi, da Fraternidade Muçulmana, e Ahmed Shafik, antigo partidário do regime de Mubarak, coloca-se a opção entre islamismo e o regime anterior.
Com as Forças Armadas a disporem, por cortesia da Corte Constitucional, do poder legislativo, o resultado dos comícios presidenciais coloca o Egito em uma encruzilhada, em que a volta às ruas e às manifestações que levaram à queda de uma ditadura de trinta anos volta a ser uma inquietante possibilidade, sobretudo se pairarem muitas dúvidas acerca da legitimidade de uma eventual vitória de Shafik.
Na Síria.
Duas forças se opõem desde março do ano passado: o regime alauíta, com mais de quarenta anos no poder, e uma oposição, que foi crescendo,mês após mês, alimentada pelas falsas promessas de Bashar al-Assad e aguilhoada pelas tropelias, sevícias e massacres das chamadas forças de segurança.
Se manifestações pacíficas de rua constituíam motivo para que covardes atiradores exercitassem a respectiva mortal pontaria, a cólera popular foi crescendo e se espraiando pelo vasto interior da Síria, a partir da sulista Deraa.
A estória é longa e demasiado conhecida para que aqui se repita. Vale notar a propósito o antigo ditado francês: ‘É um cão muito perverso. Se o atacam, ele se defende’.
É o que, na linguagem resumida da experiência, ocorre nessas plagas orientais.
Dos comícios desarmados, eles passaram, graças à repressão dos esbirros do ditador, para a resistência. Na terra fértil da violência obtusa, o povo foi colhendo os encantos da prometida liberdade.
O cinismo é a postura que tem acompanhado a gente de Bashar e seus aliados estrangeiros, que compensam a exiguidade do número na disposição do apoio. Com efeito, o regime dos ayatollahs bem sabe o que lhes significaria a queda de al-Assad, com o fechamento do duto generoso para manter as milícias do Hezbollah e a influência no Líbano e alhures.
Por outro lado, o Kremlin despejou demasiados fundos em bases navais, financiamentos militares e laços comerciais para que, depois da brutal perda do amigo Kaddafi, venha a consentir em novo tropeço. Para tanto, dispõe do mecanismo do Conselho de Segurança, e dos vetos oportunos. Afinal, os demais membros permanentes também dele se utilizam com desenvoltura, para que possam reclamar dessa disfunção na intervenção supranacional.
Entrementes o povo sírio, aquela maioria rebelde, tem de sofrer a inoperância dos observadores desarmados do Plano Annan e o que é bem pior, os massacres da população civil, a mando das milícias e da divisão blindada do irmão Maher al-Assad.
A par disso, Moscou tem muitos escritores a seu serviço, a aconselhar, a quem tiver juízo, comedimento e compreensão com a conduta da Federação Russa.
Por sua vez, ignaros da longa história da batalha contra a injustiça, os rebelados sírios reagem aos massacres, com as suas parcas armas. A luta é longa, como ela se chama depende das circunstâncias, e seu desfecho está escrito, mas permanece lacrado sob o selo do futuro. Distúrbios, levante, revolução, guerra civil são criaturas e títulos de uma situação que evolui, e que, como as nuvens, vai tomando a forma que os eventos lhe vão emprestando.
(Fontes subsidiárias: CNN, International Herald
Tribune)
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