segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Proposta do Grego Tsipras


                                  
         A dezessete de junho corrente haverá novas eleições na Grécia. O impasse criado pela rejeição do eleitor aos partidos que aceitaram as condições do ‘bailout’ concedido para que Atenas não efetivasse o calote forçou este novo apelo ao povo.   
         Os três partidos que poderiam liderar uma coligação – Nova Democracia, o Pasok e a Syriza – voltaram de mãos abanando ao Presidente Karolos Papoulias, eis que nenhum de seus programas de governo lograra reunir maioria com condições de governabilidade (na República Helênica, 151 deputados  é a metade mais um da representação junto ao Parlamento).
          Será diferente desta feita ? É o que acredita o homem novo no mundo político grego. Alexis Tsipras, o líder da Syriza, em conferência de imprensa, veio expor para a opinião pública helênica, o que pretende fazer se alcançar a maioria necessária para formar o gabinete.
         Seja dito de antemão que esta é uma jogada consciente do jovem líder da coalizão de esquerda que o último pleito colocou em segundo lugar (depois da direitista Nova Democracia e à frente do social-democrático Pasok). Fundado em pesquisas de opinião – em duas, estaria empatado com os dois partidos tradicionais, e na terceira, teria seis pontos à frente dos conservadores de Antonis Samaras.
         Como a lei grega proíbe a divulgação de pesquisas duas semanas antes dos comícios, para todos os efeitos o atual cômputo será o último antes que se abram as urnas, após o pleito de 17 de junho.
        Ao contrário dos dois líderes da diarquia europeia,a Chanceler  Angela Merkel e o Presidente François Hollande, que não o receberam, assinala-se no universo político helênico uma abertura crescente para a mensagem trazida por Alexis Tsipras.
       Tsipras elencou a série de medidas que pretende tomar, na hipótese de que a Syriza obtenha maioria parlamentar. A primeira seria a revogação das condições estabelecidas pelos acordos firmados com a União Europeia e os bancos para a salvação financeira da Grécia.
        Agindo sob o pressuposto de que as iniciativas do novo governo não serão de molde a provocar a saída da República Helênica da Zona do Euro, Tsipras apresentou diversos projetos de reforma, alguns dos quais do velho estampo da esquerda, a par de outros específicos para a crise na situação creditícia grega. A receita da Syriza inclui  além da extensão do seguro-desemprego (a Grécia enfrenta recessão de cinco anos) um plano de regeneração nacional, com vistas a atingir ‘uma solução europeia justa e viável’.
        Tsipras não estaria inovando com um novo plano de nacionalização de bancos. Nesse capítulo, já existem na Grécia diversos bancos estatizados por governos anteriores.
       Seriam revogadas, no caso de vitória da Syriza, diversas medidas estabelecidas pela troika de financiadores europeus e globais, inclusive a redução de 22% no salário mínimo de 751 Euros, assim como a abolição de contratos coletivos de trabalho. Ao invés disso, seria declarada moratória no pagamento da divida grega (principal e juros), que seria reencetado quando a economia voltasse a crescer.
         Alexis Tsipras comprometeu-se a estabilizar o gasto público em 43% do PIB, abaixo da média do zona do Euro de 46%, mas bem acima dos 37% exigidos pelos credores.  Tenciona aumentar as rendas públicas pela taxação dos ricos, suprimindo dezenas de loopholes fiscais [1], assim como a taxa sobre o valor aditivo (IVA), que é o imposto geralmente cobrado ao ensejo da compra do produto.
        A esse propósito especificamente, Tsipras frisou que ‘precisamos parar  de taxar a pobreza neste país, e principiar a taxar os ricos que sonegam os impostos’.
       O recurso ao eleitorado pode trazer para a mesa de negociação novos personagens, ou na verdade, até personagens antigos, mas com nova indumentária.
       Com efeito, graças ao choque político e as posturas da Syriza, recomeça a ficar de moda uma atitude menos caudatária e mais afirmativa dos políticos gregos. Nesse contexto, a Nova Democracia de Samaras, e o Pasok de E. Venizelos propõem agora a renegociação  das condições dos acordos com as autoridades financiadores estrangeiras (a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional).
        Parecendo um coro grego às propostas do protagonista – no caso, Tsipras – a direita, antes bem-comportada, de Antonis Samaras aparece no proscênio para solicitar por sua vez novas vantagens para o desemprego prolongado, e uma reversão na redução do salário mínimo.
        A plebe ateniense que,  na sua qualidade de mãe das democracias, dispunha e redispunha sobre as condições a serem cumpridas por seus executores – que incluíram em tempos mais ilustres figuras como Péricles – pode achar-se em vias de aprontar mais uma para a férrea Chanceler Angela Merkel, que, com a sua política de austeridade vem coletando derrotas nos diversos Laender[2] e, com a não-reeleição de Nicolas Sarkozy, nova situação na U.E., com novos ventos, não necessariamente favoráveis aos seus rígidos desígnios.




( Fonte:  International Herald Tribune )



[1] dispositivos legais que possibilitam a evasão fiscal.
[2] Estados-federados da RFA.

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