Foi há quanto tempo o escândalo dos atos secretos no Senado Federal ? Considerado o maior responsável pela crise, o Presidente do Senado, José Sarney, para evitar cenas desagradáveis, se via forçado a ir de seu gabinete ao plenário da Câmara alta recorrendo ao acesso pela garagem.
O festival dos atos secretos e do número inchado de diretores no Senado levara a opinião pública a questionar-lhe a serventia. Houve senador que, a princípio, chegara a aventar a convocação de plebiscito para decidir de sua supressão. Mais tarde,temeroso talvez da ira corporativa, mandara recado através de colunista político, dando o dito por não dito.
Ainda sob a mesma atmosfera de irada contestação, Senador da tribuna produzira cartão vermelho para a presidência, como se a permanência de Sarney na alta curul não mais fosse admissível.
Foi então, ainda neste mesmo junho de 2009, que o Presidente Lula da Silva veio a público para demonstrar, se preciso fosse, que a sua escala de valores tinha sofrido radical mudança.
Não estava mais ali o aguerrido tribuno que chamara José Sarney de ladrão. Agora vinha socorrer in extremis o presidente do Senado. O que disse, embora contrariasse cláusula pétrea da Constituição, representou a mão salvadora, que livrou o Senador José Sarney de inevitável naufrágio.
A instâncias de Lula, portanto, Sarney não foi tratado como um cidadão comum. Em consequência, nada mudou no Senado. O Presidente Sarney lá continua, e a crise, que muitos consideravam terminal para a Câmara Alta, breve se transformaria em outro episódio superado.
Eis que, de novo o seleto clube senatorial se vê ameaçado. É demasiado conhecida a situação do Senador por Goiás, Demóstenes Torres, antes DEM e hoje sem partido.
Corre agora o processo de sua cassação por procedimento incompatível com o decoro parlamentar. Ao invés de Catão do Senado, ele era o amigo do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Sem embargo, estamos no Brasil e ainda mais, no Senado Federal. Amparados pelo voto secreto e um férreo corporativismo (que já salvou por duas vezes Renan Calheiros), os pais da pátria estariam por concertar uma incrível operação de salvamento, a ser facilitada pela providencial ausência de muitos membros.
De escândalo em escândalo, o Senado se afunda. A pretexto de manter a companhia de alguém que, pelo próprio comportamento e o peso de incontáveis escutas telefônicas, é candidato à cassação, a Câmara alta dá inquietantes indicações de que se forma movimento que pretende afundar ainda mais instituição.
Será que não há ninguém por aqui que pergunte a esses senhores, como o fez Joseph N Welsh, em junho de 1954, dando o golpe terminal no demagogo Joseph McCarthy: será que o senhor não tem qualquer senso de decência ?
Quer queiram, quer não, é de decência e de vergonha que aqui se trata. Será que o Senado da República tudo perdoa, como se a honra e o decoro fossem requisitos que aos membros dessa companhia não se aplicam ?
( Fonte: O Globo)
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