terça-feira, 26 de junho de 2012

Querem arrancar o Pulmão de Ipanema

                        
       Recomendo não só ao morador de Ipanema, mas a todos aqueles que prezam este bairro que passem pela Praça Nossa Senhora da Paz. Dadas as intenções do Prefeito Eduardo Paes, mais do que importante, esta visita é crucial.
      Com efeito, a melhor maneira de conscientizar-se do atentado que se maquina contra o coração e o pulmão de Ipanema será vir até a praça, e caminhar ao longo de sua calçada com a Visconde de Pirajá.
     Não se gastará muito tempo. Ao invés disso, o passeio há de proporcionar  experiência que o Prefeito tem pressa em transformar em uma daquelas fotos de que nos fala o poeta Carlos Drummond de Andrade.
      Mais do que a simples lembrança e  dor trazida por um retrato na parede, não devemos conformarmos com espúrias alianças e enganosas promessas.
     As obras do metrô não devem deixar-nos um rastro de mostrengos arquitetônicos na superfície dos bairros a que é suposto servir como forma moderna e confortável de transporte.
     Aqui  não é o espaço de referir o atual escândalo de vetustas composições  - inauguradas com fanfarra presidencial – mas que apenas oferecem transporte incômodo e superlotado, o que se deve ao número insuficiente de vagões e às suas precárias condições. Miragens continuam a ser as novas composições, de que o governo Sérgio Cabral e a concessionária ritualmente prometem a entrega à sociedade civil que mereceria mais respeito.
     Causa espécie que um governador que viaje tantas vezes a Paris não tenha aproveitado as visitas à Cidade Luz para ver a integração do metrô parisiense com o entorno urbano. Ao invés de desfazê-lo e desfigurá-lo, como aqui é prática, lá ele carece apenas na sua grande capilaridade urbana de discretas entradas, com as mais antigas, de inícios do século XX, enfeitadas por grades e luminárias art-nouveau.
     O metrô não deve ser um transtorno – ou uma chaga – na urbe a que serve. Afinal, ele foi ideado como transporte subterrâneo de massas, em condições de conforto, limpeza e respeito à cidadania. Se frequentarmos metrôs de grandes cidades – como Paris, Londres e New York  - ou metrópoles médias  como Atenas -, ficaremos contristados se os compararmos com o precário e esquálido sistema a que se submete o povo carioca.
     Na bizarra distribuição de competências em Pindorama, o metrô constitui feudo do governador do Estado. No entanto, o seu aliado prestimoso – e todos sabemos o quanto Eduardo Paes deve a Sérgio Cabral pelo providencial, inda que abstruso, ponto facultativo que lhe deu a eleição no photochart  do segundo turno contra Fernando Gabeira – tem demonstrado enorme empenho em tornar a Praça da Paz mais uma dessas melancólicas lembranças de passado mais humano e ecológico.
    Sua Excelência quer transformar a praça do remanso que  é atualmente, com o seu arvoredo preservado,  seus canteiros e aléas percorridos por crianças, babás e moradores, em um monstro despojado das árvores cinquentenárias, para estranhamente virar outra gigantesca garagem. A especulação imobiliária tem pressa em valer-se desse pretexto do fantomático progresso, que só promete mais poluição, a par da irremediável feiúra do concreto que na sua ganância escarnece da serena beleza de um verde que não plantamos, mas que deveríamos conservar, e não só por amor às bucólicas vistas dentro de selvas de pedra.
     Recomendo ao meu leitor carioca que aproveite um instante nos seus compromissos para  breve caminhada no calçadão da Praça Nossa Senhora da Paz, ao menos no trecho da Visconde de Pirajá, entre Joana Angélica e Maria Quitéria. Ali gente bem-intencionada pendurou nas grades do parque algumas informações relevantes sobre o significado da praça e de sua arborização.
     O Prefeito Paes quer arrancar 113 árvores daquele conjunto. A praça – com a exceção do Jardim de Alá, que ladeia o canal entre o Atlântico e a Lagoa Rodrigo de Freitas, e é a divisória entre Ipanema e Leblon  - constitui o espaço arbóreo digno de tal nome no bairro que Tom Jobim divulgou no mundo.
     O jornalão O Globo de hoje nos diz que o Inea reduziu o ‘transplante’ de árvores de 113 para 77. Além do eufemismo da expressão, o suposto progresso continua a arrancar árvores, que é uma exigência do concreto modernoso, assim como o bom ruralista carece de desmatar a floresta, para plantar mais soja e ter mais savanas e areais no futuro.
     Por isso, é imprescindível dar força à proposta alternativa, apresentada por Ignez Barreto, Coordenadora da ONG Projeto de Segurança de Ipanema. Para evitar que o ‘progresso’ venha a prejudicar  nossa praça - as saídas deveriam situar-se na rua Visconde de Pirajá, entre as ruas Maria Quitéria e Garcia d’Ávila. Com isso, afastaríamos da praça as quarenta mil pessoas que por ela circulariam diariamente. Os acessos seriam em área vizinha da praça, mas não a afetariam diretamente. Representariam solução inteligente e ambientalmente preservadora.
    Paris não vale só visitas e missas, mas também deve ser imitada nas suas soluções inteligentes e respeitadoras de um meio ambiente criado ao longo de muitos anos. Vamos viver a Praça Nossa Senhora da Paz e não virar seus algozes !




( Fonte subsidiária:  O Globo )

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