A Revolução Síria chega a Damasco
O
presidente Vladimir Putin e seu governo tem recusado sistematicamente todo e
qualquer apoio no que concerne à resistência síria ao governo de Bashar
al-Assad. Como referido anteriormente, Fred Hof, emissário do State Department,
foi a Moscou para verificar da possibilidade de consenso quanto a uma
estratégia de transição. Um dos esquemas mencionados nas conversações com os
vice-ministros do Exterior Mikhail Bogdanov e Gennady Gatilov foi o modelo dos
acordos de Dayton, que pôs fim ao conflito entre sérvios e bosnios na antiga
Iugoslávia.
Mais uma vez a Federação Russa, arguindo os
perigos do precedente e das incógnitas levantadas pela desestabilização do regime
alauíta, preferiu continuar inamovível, armada do seu veto no Conselho de
Segurança. Para alguns expertos russos, os eventuais prejuízos para Moscou não
aparentam ser demasiado grandes: ‘se
tudo vier abaixo, o que perderá a Rússia?
Um pouco de prestígio e algumas vantagens na Síria? Bem os nossos
interesses já estão comprometidos, e quanto a prestígio, que importância tem ?’Talvez mais cedo do que pensa, o Kremlin terá de ponderar se a própria rigidez no apoio a Bashar al-Assad seria a postura adequada.
Alimentado por rancores motivados pelo fato de haver permitido – durante a presidência de Dmitri Medvedev – os bombardeios da OTAN em defesa da Liga de Benghazi, com a subsequente morte do aliado Coronel Muammar Kaddafi, o governo Putin prefere não abrir as portas para intervenção internacional, e a decorrente queda do ditador Bashar.
No entanto, além dos massacres que se encadeiam, diante da impotência da tropa desarmada de observadores das Nações Unidas, e o malogro confesso do respectivo autor do Plano Annan, a situação na Síria se agrava a olhos vistos, e não só com sinais de um descontrole de suas divisões militares repressoras, mas também agora com a evidência de o levante eclodir em vários pontos da capital Damasco. Os tiroteios na antes tranquila sede do poder alauíta colocam em questão a durabilidade do regime, eis que não mais semelha existirem pontos no território sírio em que a autoridade de al-Assad não se veja contestada. E tampouco se trata de manifestações pacíficas, mas de contestações armadas.
Se há a consciência generalizada que a ditadura vê espoucar por toda a parte a manifestacão de que o regime perdeu a legitimidade – e que o medo da repressão não constitui mais um fator para assegurar ambientes de segurança como na própria capital, a indagação que se impõe não parece ser outra de por quanto tempo ainda Bashar poderá falar de ataques de bandidos armados.
Depois de uma longa luta – e já são dezesseis meses – o alargamento da revolução e a sua presença em toda parte relembra outros cenários de combates internos. Pode configurar-se o presságio de súbita derrocada, precipitada por eventos internos, dentro de um movimento inercial que não pede licença a gerarcas e a antigos aliados.
O Presidente Viktor F. Yanukovitch e sua
bancada na assembleia de Kiev fez aprovar uma lei que, ao invés de unir a
Ucrânia, contribui para acirrar-lhe a divisão. Com efeito, uma das questões mais controversas na jovem nação ucraniana são
as relações com Moscou e a influência que a antiga metrópole venha a exercer na
independizada Ucrânia.
Na Ucrânia saída da dissolução da União
Soviética, há o partido nacionalista, de que a líder é a prisioneira Iulia Timochenko.
No atual momento, o fato de achar-se na oposição – e em minoria na assembleia –
é visto como determinante para uma
condenação judicial a sete anos de detenção, reputada por muitos como de
motivação política.A nova lei que introduz o russo como segunda língua oficial do país é vista por grande parte da população como divisória, e tendente a enfraquecer o ucraniano como o idioma nacional.
Na verdade, o filo-russo Yanukovitch, com a sua proposta de oficialização da língua russa, pretende enfraquecer a consciência nacional. No entendimento da oposição,tal poderia levar ao esmagamento do ucraniano, e à maior dependência de Moscou.
Esse grande país está dividido em região ocidental, onde predomina o ucraniano e o desejo de liberar-se da influência de Moscou; e uma oriental, no qual prevalece o uso do russo e a intenção de manter os laços com a antiga metrópole.
Achando-se com a popularidade em baixa, o presidente Yanukovitch segue uma política de mão única. Após tentar, pela prisão política da Timochenko, debilitar a oposição nacionalista, continua no seu propósito de virtual dependência da antiga metrópole, ao buscar golpear o idioma pátrio, com o recurso ao emprego do russo como segunda língua.
Há varios elementos que devem ser computados. A situação econômico-financeira não favorece decerto ao presidente em função. O ritmo das contratações não tem correspondido às expectativas. A outra face da chamada grande recessão está no preocupante incremento do desemprego, recentemente divulgado como atingindo a 8,2 nos boletins oficiais.
É óbvio que o aumento do desemprego, acoplado com o anêmico ritmo das contratações tende a ser um sinal amarelo quanto às perspectivas de reeleição de Obama. A insatisfação com o estado econômico do país – que se reflete negativamente para o cidadão comum – em geral repercute negativamente nas possibilidades do incumbent – i.e., o presidente em função – e, em geral, uma economia em crise leva o eleitor a voltar-se para o candidato da oposição. Somente em situações muito especiais há exceções para esta regra, como, v.g., no caso de FDR durante a Grande Depressão. No entanto, FDR, pelo caráter afirmativo de seu governo, a criação de diversos instrumentos de combate à depressão, conduzia o povo americano a reiterar-lhe a confiança em 1936, assim como o fizera em 1932, para negar a reeleição ao malogrado republicano Herbert Hoover.
Não é, decerto, o caso agora. Obama, durante o primeiro biênio de seu mandato, perdeu oportunidade preciosa de reforçar a economia. Pagou em 2010 parte da conta, com a derrota na eleição intermediária, em que a Câmara de Representantes passou para o GOP. Com os republicanos empenhados em fazer de Obama presidente de um só mandato, intui-se que o seu predominio na Câmara dos Deputados forçou um virtual bloqueio no governo.
A batalha entre Obama e Romney não está ainda decidida. Contudo qualquer aumento progressivo na taxa do desemprego implica em chances ainda menores para Barack Obama.
Se a cinco meses dos comícios de novembro ainda seja prematuro apontar vencedores, pode-se desde já asseverar que a eleição será bastante apertada e, por enquanto, de resultado imprevisível.
( Fonte: International Herald Tribune, CNN )
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