Dentro
do Labour - e em cotejo com o partido Conservador - tem sido até maiores as
divisões de seus representantes diante
da política oficial do líder Jeremy Corbyn,
contra quem pesam as acusações de antissemitismo e de pouco ou nada
fazer para evitar o brexit. Outra
imputação de peso contra o líder está "nas maquinações da extrema
esquerda".
Adotando a aloofness
(distanciamento) como uma de suas
características mar-cantes, Corbyn desrespeita em muitos aspectos o que um máximo
dirigente partidário deva adotar como postura de princípio. Esse secretivismo tende a despertar
suspicácias entre os seus correligionários, eis que essa virtual falta de
comunicação entre guia e os seguidores só contribui para estimular múltiplas incerte-zas
acerca dos reais propósitos quanto ao eventual (e efetivo) alcance de suas
diretivas e da extensão de que propósitos não-enunciados (e, ipso facto, mantidos em segredo)
efetivamente estejam entre os motores de suas iniciativas, que, por
considerações que guarda para seu próprio intelecto, não julga seja o caso de
inseri-las no seu diálogo com os militantes e, em especial, os próprios deputados.
Ao adotar essa estranha postura em quem pretende liderar, intui-se a
insegurança de seus deputados, como se o máximo líder Corbyn os deixasse
acessar os móveis declarados de sua política, mas não aqueles que o chefe do Labour guardaria debaixo da manga, como
cartas que reputa impor-tantes e delicadas demais para partilhá-las, e não só com
a militância, mas também com aqueles que supostamente deveriam cerrar fileiras
com o capo nas lides parlamentares.
Essa excessiva discrição de Corbyn tende a afastá-lo da militância e, em
especial, daqueles que são seus coadjuvantes diretos nas lides parlamentares.
Tal postura conspiratória do
líder não contribui decerto para a aglutinação da bancada, mas em especial
tende a ser um facilitador para interpretações por vezes estranhas, e até mesmo
absurdas das suas reais motivações na avaliação e na implementação
parlamentar de seus escopos políticos.
Há vários estilos de
liderança, mas não creio que para a implementação de diretrizes
político-partidárias se possa considerar o esoterismo como válido e prático
meio de influenciar os respectivos militantes, sobretudo aqueles de que, por
condições práticas da política, dele esperam explicações e sobretudo aclarações
válidas quanto ao alcance e escopo da eventual atuação parlamentar em termos de
política, tanto aqueles atos de efeito imediato, quanto outros supostamente
mediatos.
Essa escassa permeabilidade do líder pode ser
componente eventual em orientações de cunho messiânico, mas dificilmente se
compatibiliza com o dia-a-dia da política partidária, e ainda mais com
determinações que pelo próprio obscurantismo tende a levantar dúvidas e
incertezas no que concerne aos seus
reais objetivos.
Tudo isso tende a
criar para Jeremy Corbyn muitas suspeitas quanto aos eventuais escopos que
perseguiria, muito além da Taprobana habitual
de outros líderes partidários.
Dessarte, um
resultado palpável dessa falta de diálogo está na saída do maior partido de
oposição no Reino Unido de sete parlamentares trabalhistas, em protesto contra
o líder Jeremy Corbyn, que é acusado de antissemitismo e de pouco empenhar-se
para que se evite o brexit. Nesse sentido, o grupo acoima o atual líder de
haver "sequestrado o partido pela política de maquinações da extrema esquerda".
Também a
insatisfação dos deputados trabalhistas se exacerba com a virtual negativa de
Corbyn de encetar um combate efetivo contra o antissemitismo.
Como já foi
assinalado, cresce no povo inglês o movimento pela realização de um segundo referendo sobre a separação do
Reino Unido da União Europeia. Tal convicção se deve às circunstâncias estivais
que estimularam o menor afluxo ao primeiro referendo de 2016 - que favoreceu
aos irredentistas e saudosistas do império, quando a Grã-Bretanha era a grande
potência com as suas extensas posses coloniais e a hegemonia na marinha de guerra. Outro fator determinante na vitória do
chamado brexit estival
(a despeito dos fracos percentuais que o caracterizaram) foi a inépcia da então
liderança conservadora de David Cameron (e a própria relativa indi-ferença do
inescrutável Corbyn). Quanto ao malogro de Cameron, seria ela determinante
para o seu definitivo afastamento de Downing
Street 10. É de crer-se que a mediocridade
da então escolhida Secretária do
Interior, Theresa May, compõe o
melancólico quadro que tudo indica levará a uma saída ruinosa do Reino Unido do
Mercado Comum.
(
Fontes: Luis de Camões, O Estado de S, Paulo )