quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Linha Vermelha de Obama

                                 

       Há cerca de um ano atrás o Presidente Barack Obama ameaçou Bashar al-Assad  de que o emprego de armas químicas constituía uma linha vermelha para os Estados Unidos. Se o governo sírio a cruzasse, esse atentado contra os direitos humanos não ficaria impune.
       Qualquer governante que preze a própria autoridade e as implicações de suas palavras saberá que as respectivas ameaças, caso deseje ser levado a  sério, não são palavras jogadas ao vento, mas aviso de ação futura, na hipótese de serem desrespeitadas.
       Ignoro como o Presidente dos Estados Unidos pretende agir quanto ao vergonhoso ataque pelas forças de Assad contra civis e muitas, muitas crianças, como o demonstram as fotografias. Os antecedentes não fornecem indicações de firmeza anterior, eis que dois outros atentados semelhantes não produziram qualquer reação efetiva de Washington.
       Falam de investigação das Nações Unidas. Resta saber se Damasco concordará com o ingresso de inspetores em condições de determinar se o ignóbil atentado ocorreu efetivamente. Entrementes, as agências de notícia também transmitem a zoeira das denegações do governo Assad, e a declaração do aliado russo que inculpa os rebeldes por lançarem foguete com um ignoto agente químico.
        Dadas as dificuldades no terreno, o número de mortes e a sua provável causa só serão determinadas se o pessoal especializado das Nações Unidas tiver acesso aos sítios em que o morticínio terá ocorrido, e dispuser da necessária latitude de ação para determinar-lhe as causas.
       A fumaça, no entanto, é demasiado forte, com as fotos de crianças mortas, para que seja crível se trate de rumor sem fundamento. O próprio documento do Kremlin que reporta inaudita capacidade missilística do exército rebelde sírio, com uma carga de agente químico indeterminado, mais parece fazer parte de  tentativa diversionista, diante de evidências muito óbvias. Mas a verdade costuma ser a primeira vítima das guerras.
       A guerra civil síria por uma série de fatores – dos quais não é dos menores a débil e frouxa ajuda prestada pelo Ocidente, sobretudo pelas reticências de Obama, à Liga Rebelde – entrou em nova fase, com  aparente recuperação de Damasco, que desfruta do apoio sem tergiversações de Moscou e de Teerã.
       Diante de mais esta afronta às suas palavras da linha vermelha a não ser cruzada, a Administração Obama se declara muito preocupada com a ocorrência e as incômodas fotos de tantas inocentes crianças estupida e covardemente sacrificadas.
      As advertências, se desejam ser levadas a sério, não devem ser arreganhos de momento, palavras inconsequentes.  Para que mereçam consideração e respeito da parte adversa, precisam traduzir-se, caso ignoradas, nas ações anunciadas. Senão elas serão reconhecidas pelo que parecem ser – bazófias.
      Terão dito – e esperado – que os passados vacilos de Barack Obama tivessem a ver com a respectiva inexperiência. A esse propósito, o episódio recordado foi o do primeiro embate com os radicais da Casa de Representantes, saldado pelo recuo do 44º presidente, com a sua queda nas avaliações da opinião pública, e o desconforto nas fileiras democratas. Posteriormente, Obama terá reagido com mais firmeza às chantagens do GOP, e a tal deve em parte a recuperação nas pesquisas e a vitória nas urnas sobre Mitt Romney.
      No entanto, o dito célebre de Buffon[1] continua a pairar, incômodo, em torno das ações do Presidente. As suas tergiversações na questão síria – chegando a contrariar toda a anterior hierarquia de segurança nacional – têm passado mensagem de um recuo dos Estados Unidos, e da mudança no rumo da longa guerra civil síria.
      As palavras decerto têm peso, e a sua significação está estreitamente ligada com o respeito que lhes é devido. No entanto, se quem as pronuncia, não lhes confere as devidas implicações, que peso elas terão?
 

 
(Fontes:  International Herald Tribune,  O  Globo )



[1] O estilo é o homem.

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