quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quatro candidaturas ?

                                         

        2014 ainda está longe e já repontam no horizonte  candidaturas com perspectiva política. É lógico que não me reporto àquelas ridículas ,de uma constrangedora sopa de legendas, cujas duas serventias são a tentativa de promoção pessoal e os cabides de eventuais  prebendas.
        A par da Presidenta, pairam esperançosos os pleitos de Aécio Neves (PSDB), Marina Silva ( ? ) e Eduardo Campos (PSB).
       Antes encarado como o antagonista natural, o neto de Tancredo Neves, além do sobrenome, não semelha poder aspirar por ora à visceral habilidade e capacidade de agregar forças do presidente cuja má-sorte (e a clínica brasiliense) transformou em irrealizada esperança.
        A ambição, quando demasiada, pode transformar o prelibado elixir em beberagem. Maltratando o candidato José Serra com picuinhas pequenas e grandes, Aécio não atinou quiçá em que dividiria os tucanos. Com o desapoio que prestou a Serra – recusando formar como vice a chapa da união partidária, e com uma relativa cristianização nas Minas Gerais – o neto de Tancredo não reforçou a legenda, nem se tornou credor de um apoio futuro do rival mais antigo.   
        Por outro lado, através de preposto, Aécio continuou a semear ventos na granja do PSDB. A desunião dos epígonos de FHC chega a ser comovente. Por outro lado, para ganhar discutíveis vantagens corporativistas, o pré-candidato tem desperdiçado boas oportunidades de utilizar a oratória e a retórica, apesar de seus decantados dons de facúndia. Até agora, portanto, Aécio não tem imitado o grande antepassado. Muito pelo contrário. Com a sua míope ambição, não adubou o terreno partidário para apoios futuros, mas sim, e sem ser militar, plantou a cizânia.
       Tem esquecido, por outro lado, que há um limite para a discrição da oposição. A mudez das cautelas excessivas tende a confundir-se com o amorfo fundo de quadro que por não apresentar alternativa, nem arriscar-se à contestação significativa parece compor o cenário ideal para o situacionismo, por não apresentar-lhe crível ameaça.
      Marina Silva surpreendeu em 2010 com os seus quase dezenove milhões de votos, o que foi decerto prazerosa revelação de um relativo sucesso eleitoral, arrancado de condições adversas – a grotesca injustiça de pouco mais de minuto em termos de espaço de propaganda, e a habilidade de suscitar tantos apoios malgrado a indigência do tempo.
      Sem embargo, a casa verde não lhe é mais disponível, por estar sob controle burocrático. A quem domina a legenda não semelham interessar altos voos, porque talvez implicariam em afrouxar-lhe o mando, que é limitado, mas corresponde às pretensões do atual donatário.  Por isso, Marina tem de procurar inventar outro teto, o que há de implicar em ulteriores restrições no tempo da propaganda. Tudo isso pode colaborar a, por vez repetida, encaminhá-la à bela, posto que malograda, campanha de primeiro turno.
      Eduardo Campos é o homo novus na campanha presidencial. Com o relativo êxito do PSB tanto em 2010, quanto em 2012,  o sobrinho do governador Arrais se tornou o fator político preponderante em Pernambuco, e uma presença importante que não se limita apenas ao Nordeste.  Seria uma alternativa ao PT – este último que não mais lembra a ética e aguerrida agremiação de antanho, deformado que foi pelos ouropéis do poder – embora o PSB de Campos deva estar alerta, dadas as tentações do exercício do mando municipal, como o evidencia a atitude nepotista do novel Prefeito Alexandre Cardoso, em Duque de Caxias.  
      Depois de notícias contraditórias – que se inserem na usual artilharia que sói preceder os grandes movimentos das ambições sucessivas – se indica que o presidente do PSB vence mais uma etapa na sua caminhada. Após negar a candidatura presidencial em encontro com Dilma Rousseff, marca reunião com o líder máximo Lula da Silva para confiar-lhe o que o mais modesto cabo eleitoral já sabia: Eduardo Campos, misto de prócer carismático e de coronel nordestino, irá comunicar-lhe não poder mais renunciar à missão presidencial que lhe confiam o partido e as próprias irrepressas ambições.
      Ou muito me engano, ou a candidatura Campos não é a expressão de uma reivindicação a prazo. Trocando em miúdos: terça armas em 2014, mas a autêntica  meta estará em 2018, se o bom Deus assim o dispuser.
      O quadro vindouro se completa – se Nosso Guia se satisfizer em continuar a tutelar a sua pupila presidencial e não pretender um terceiro mandato - com a candidatura à reeleição da Presidenta. A sua popularidade permanece nas alturas, como se fosse a candidata teflon, que pressupõe a coluna editorial de Eliane Cantanhêde.
      Acreditando-se apoiada pelas bolsas família e miséria, Dilma Rousseff, da singular aprovação em estratosféricas alturas nas pesquisas prévias teria de vento em popa a reeleição em 2014.
      Mas, ‘pera aí, será que tal resultado se deve às limitações, ínsitas ou não, dos adversários, mais do que às supostas qualidades da gestão de nossa gerentona ?
      No horizonte, há muitas nuvens. A inflação continua a crescer, zombando das enérgicas declarações de Dilma a que não correspondem providências concretas. O pibinho de 1% está aí, junto com a contabilidade fiscal criativa e o descontrole da Fazenda, sob Guido Mantega e todos os seus procônsules. A Petrobrás, nas mãos da amiga Graça Foster, é mais uma vítima da dílmica administração impulsivo-varejista, que mais se preocupa em gestos tópicos do que em afrontar reformas autênticas.
      Quanto à falha comparação entre o presidente chileno Sebastián Piñera e Dilma Rousseff, a despeito da barriga da Cantanhêde – constitucionalmente Piñera não pode disputar a reeleição imediata – as pesquisas favoráveis à Dilma devem ser atribuídas a outras condicionantes, que não à qualidade objetiva de sua gestão. O mais engraçado é que no caso de sua muy amiga Cristina eterna viúva de Kirchner a atuação desastrada se reflete em desaprovação do eleitor...
      Por enquanto, malgrado o governo inchado e clientelista – está à vista o 40º e deveras simbólico ministério – e tantos outros personagens nos ares da intemerata Brasília (além dos aviões de carreira do mítico Barão de Itararé, o velho conhecido Aparício Aporely), o petismo de Dilma Rousseff por enquanto marcha, no seu desencontrado ritmo, para outra singular vitória do assistencialismo desvairado.

 
(Fontes:  Folha de S. Paulo, O Globo )

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