sábado, 2 de fevereiro de 2013

Manipulações na Política Econômica

                    

        Desde 2007 sob intervenção governamental, o Indec tem calculado na Argentina um índice oficial manipulado da inflação. Como a carestia não costuma obedecer a decretos, o governo de Cristina de Kirchner vive em mundo do faz-de-conta, o qual tem, no entanto, consequências bastante palpáveis ao prejudicar todas as categorias que dependem de reajustes salariais, acionáveis ou não pelo nível da inflação.
       Com os cuidados dos organismos internacionais, o Fundo Monetário Internacional por fim emitiu declaração de censura. No entender do texto do FMI, há “falta de progressos na implementação de medidas corretivas para solucionar a qualidade das estatísticas oficiais.”
       Com os circunlóquios e as mesuras próprias de tais resoluções, o Fundo está sinalizando a necessidade de o Indec  (o IBGE argentino que vem manipulando a inflação a partir de 2008: alça dos preços – 8,6% (oficial) e 21,1% (real) ) restabelecer a realidade econômico-financeira. Em tal sentido, o FMI recomenda a Argentina alinhar seu índice de preços e a mensuração do PIB aos padrões de estatísticas internacionais e às regras para assegurar quantificações mais precisas.
      A censura é o primeiro passo no procedimento previsto pelo FMI para expulsar um país que não apresente estatísticas confiáveis do organismo multilateral. Depois, se impediria o acesso a empréstimos e, em seguida, a decretação da perda do direito a voto na instituição.
     Se agora sabemos o que pensa o FMI de Madame Christine Lagarde sobre a Argentina de Cristina viúva de Kirchner,  tampouco é segredo o juízo do grande escritor argentino Jorge Luis Borges sobre a ínsita boçalidade do peronismo.
     Não surpreendem, por conseguinte, os toscos métodos empregados pelos funcionários da administração peronista. Talvez o que mais espante é que o organismo internacional tenha aguardado tanto para expor uma situação em que os números da inflação vem sendo burocraticamente fraudados desde 2008.
     Se a carestia obedecesse aos índices oficiais, estaria tudo resolvido em termos de combate ao dragão. É uma pena que a inflação não respeite as instruções do Indec: assim, nos dois últimos anos, ao invés do 21,2% (2011) e 25 % (2012), prevaleceria a inflação oficial do peronismo, que marca 9,8% nos dois anos.
      Tudo isso me faz pensar no Brasil de d. Dilma Rousseff.  Por enquanto o IBGE continua autônomo na sua função de calcular os índices inflacionários, e é bom que assim seja.
       Sem embargo, a contabilidade oficial de Mantega & Cia. tende a preocupar, pelas liberdades fiscais evidenciadas nas contas públicas nos últimos tempos, não sendo a menor delas os malabarismos para o cálculo do superávit primário.
       Agora, a balança comercial brasileira registra em janeiro o pior resultado mensal em 20 anos. Estamos diante de registro tardio das importações de petróleo e derivados realizadas pela Petrobrás (devidamente autorizada por instrução normativa da Receita Federal que concedeu à Estatal mais tempo para contabilizar as operações), assim como a explosão de compras no exterior: o déficit da balança é US$ 4,03 bilhões, o maior desde o início da série histórica, encetada em 1993 !
       O quadro não se torna mais róseo – ou menos preocupante – se tivermos presente o que diz a coluna de Miriam Leitão, em O Globo: Em 2012 a indústria nacional encolheu 2,7% , ao passo que o setor de bens de capital caíu em 11,8%.
       No ano passado, o governo atuou para enfraquecer o real e elevar o dólar. Esta semana, no entanto, houve um movimento inverso, visto que o Banco Central vendeu dólares para fortalecer o real.
       As dificuldades nesse campo são notórias, eis que, como bem assinala Miriam Leitão, agradar a todos com a taxa de câmbio é uma missão impossível : (real caro favorece a importação de máquinas, facilita investimentos e ajuda no combate à inflação; mas ele prejudica em termos de exportação, pois o produto nacional chega mais caro no estrangeiro).
        Por isso, talvez, que as declarações do Ministro Mantega pareçam confusas.
        Daí decorre a lição de que economia e finanças não é assunto para amadores, nem para experimentalistas.
        Com um capitalismo de estado, a divisa subvalorizada, e ainda a contenção dos baixos custos laborais, a China é a atual locomotiva do comercio internacional, o credor-mor da Superpotência, com os títulos do Tesouro americano, e os enormes saldos acumulados em divisas.
        Nas potências ditas emergentes, a RPC é a líder dos BRICS. E o Brasil, o que deseja ser ?
         Eis uma pergunta que o experimentalismo, o varejismo e a contabilidade criativa do governo Dilma Rousseff nos tem escamoteado a resposta.

 

(  Fontes:  O Globo,  Folha de S. Paulo  )

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