sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Dilma trará de volta a inflação ?

                                   

        Mais uma vez a sopa dos números-índice nos traz um resultado indigesto para a economia.  Outro aspecto que não pode ser posto debaixo do pano é que, de uns tempos para cá, os recordes negativos em termos de inflação se repetem na dança de princípio de mês.
        E qual é o recorde às avessas do mês?  O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,86% em janeiro, a maior inflação para o mês desde 2003 (naquela época, com o temor, não confirmado, que o governo Lula mandasse o Plano Real para as urtigas).
       Desse modo, o índice oficial já acumula uma elevação de 6,15% nos últimos doze meses. Como o teto da meta do governo em matéria de alça dos preços é de  6,5%, mesmo o mais panglossiano dos observadores há de convir que a economia se acha bem próxima deste suposto máximo.
       Antes de levar avante a análise, parece importante sublinhar que o governo fala de teto da meta, pois já foi para as urtigas a média desejável para a inflação. O que se tentaria manter é o suposto teto, o que torna a partida bem menos fácil.
       O jornal O Globo anunciou com destaque as declarações do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, à colunista Miriam Leitão.
      As observações se encaixam na linha de comportamento responsável da autoridade financeira. Diante da alça do IPCA, a assertiva de que a situação “não é confortável”  será o máximo que se poderia esperar do presidente do Banco Central. Projeções otimistas para daqui a seis meses também se podem antecipar dentro da ótica do entrevistado, porque não seria lícito nem provável admitir-se o cenário oposto.
        Infelizmente, a autoridade financeira – no caso o Banco Central – não é autônoma, como ocorre no Norte Maravilha. Nem FHC com todo o seu liberalismo concordou com essa suposta capitis diminutio[1], embora tenha dado liberdade de ação ao presidente do BC, o que Lula da Silva terá seguido em boa parte. Como essa autonomia era consentida, mas não apoiada em texto legal, sua manutenção, colocada por Henrique Meirelles para a presidente-eleita foi bastante para que Dilma Rousseff resolvesse designar outro encarregado para o Banco Central.
       Se a pressão inflacionária é suficiente para justificar a previsão do mercado de uma alça da taxa de juros Selic hoje em 7,25% ao ano, para 7,5% na próxima reunião do Copom, essa moderadíssima reação do Comitê de Política Monetária (uma elevação de apenas 0,25% nos juros para lidar com tão manifesta pressão inflacionária) já diz muito para o observador independente.
      As razões do mercado financeiro são muito claras e evidentes. Na verdade, elas atendem pelo nome de Dilma Rousseff que, sob um discurso reminiscente do passado – a chamada retórica anti-inflacionária, palavras apenas defronte da moto-niveladora da carestia – a pretexto de ativar a economia, tem infelizmente criado condições para redespertar o dragão.
        As evidências da pressão inflacionária têm repontado por toda parte. E não obstante isso, o mercado ousa projetar uma elevação pelo Copom da taxa Selic de ínfimos 0,25%.  
        Na verdade, no governo Dilma Rousseff o BC não tem qualquer autonomia em matéria financeira e, por isso, malgrado  sua necessidade – que outro controle serio da inflação resta disponível ? – as possibilidades de que a senhora Presidenta concorde com esse tímido aumento da taxa Selic são deveras escassas.
        Gostaria de estar enganado, mas até o presente o comportamento dílmico aponta para um varejismo desenfreado – se não é um congelamento de preços, ora tristemente reeditado em outra economia, são também medidas assistêmicas, que podem até maquiar cotações, mas tem efeito similar aos planos heterodoxos do passado em termos de combate à inflação.
        Por isso, a previsão de Alexandre Tombini de melhora para daqui a seis meses – apesar de admitir a Miriam Leitão de que está “desconfortável” com a inflação – não me enche as medidas. Como disse um outro ministro, o futuro a Deus pertence.
        Com a visão de Dilma e o seu intervencionismo, com esse ministério da Fazenda e seus malabarismos, é difícil acreditar em um combate sério à inflação. Como a Velhinha de Taubaté seria muito bom que houvesse motivos fundados de pensar que as coisas vão mudar para melhor.
        Mas em ano pré-eleitoral e com o temperamento conhecido, dá para fiar-se em um novo cenário ?
        E creio não estar sozinho em desejar contra a própria percepção e entendimento, eis que não é coisa de somenos pôr a perder o Plano Real, essa grande conquista – que pensávamos duradoura - da sociedade brasileira.
        Afinal, por mais estúpido que se seja, nunca será programa de governo trazer de volta a Inflação.

 

( Fonte:  O  Globo )  



[1] Perda de capacidade jurídica na matéria.

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