quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sarney e a Tropa de Choque

Não se ouvirão tilintar os cálices dos salvadores do cargo e do mandato do Senador José Sarney, porque os diretamente interessados evitariam esse gesto passível de interpretações contraproducentes. Metaforicamente, no entanto, o som dos cristais se torna a cada semana mais audível.
Será acaso prematura essa comemoração ? Afinal, o movimento Fora Sarney ! ganhou as ruas, chegando a incomodar Lula e seu ministério durante a parada do Sete de Setembro (matreiramente Sarney evitou comparecer ao desfile).
Decerto, a rejeição popular permanecerá alta. A opinião pública, se consultada, indicará a extensão do próprio repúdio ao coronel-oligarca do Nordeste. E, por isso, o veterano político há de evitar excessivas exposições a números respeitáveis de pessoas, no compreensível temor das vaias.
No entanto, a cada dia que passa, a cada sessão plenária que transcorre sem contestações, sem discursos pró-renúncia, sem cartões vermelhos e sem constrangimentos, será ulterior motivo na progressiva conscientização de um salvamento político que antes parecera impossível, mesmo para operadores da experiência de Renan Calheiros.
Sem dúvida, o Presidente da República, ao jogar as considerações éticas no lixo, terá contribuído para o feliz desenlace (sob o prisma do Palácio do Planalto e de sua candidata, tirada do bolso do colete).
Sem embargo da desmoralização do P.T. e de seus líderes Aloizio Mercadante e Ideli Salvati, o improvável resgate do velho oligarca se deve a três fatores: Renan Calheiros e sua tropa de choque, a desunião das bancadas contrárias à permanência, e ao próprio senador José Sarney.
A tropa de choque, na qual incluo Paulo Duque, segundo suplente de senador e presidente do Conselho de Ética, criou as condições para a manutenção do protegido de Renan na presidência. Fê-lo através da desmoralização do dito Conselho, evidenciada no menosprezo a qualquer escrúpulo de respeito às regras mínimas de decoro e de tramitação judicial.
Tangidas a princípio pelo temor de represálias – no discurso de Sarney, o da abertura das hostilidades, em que disse ser a crise do Senado e não dele - as bancadas, faltas de lideranças consistentes e determinadas, nunca souberam amalgamar-se em unidade de negação ao presidente de escândalos em cascata. Tudo acabou, por fim, em estranhas manobras, quando representações contra Sarney e Arthur Virgílio semelharam neutralizar-se.
Voto de louvor caberá sem dúvida ao bravo presidente do Senado que, oscilando entre hábeis táticas de refúgios e negaças (jamais estar presente em momentos de contestação explícita), mostrou não ser por acaso que é desde os anos sessenta praticante convicto de comprovadas técnicas de sobrevivência política.
Assim, se acontecimentos inesperados e para muitos benfazejos não irromperem em cena, nada há de impedir que José Sarney venha à tribuna para pronunciar lamentáveis discursos do jaez do ontem pronunciado, quando teve a coragem de criticar a imprensa, e dizer que são os parlamentares e não a mídia os verdadeiros representantes do povo.
Como sempre, o vice-rei do Nordeste confunde as coisas. Ninguém nega o caráter representativo do Congresso. Tampouco a tarefa dos órgãos de comunicação de veicular as posições da opinião pública. Esta tem a ver com liberdade de expressão, que deve ser sempre preservada e defendida.
Os senhores congressistas devem cuidar do real interesse da Nação e não dos próprios. Não faz bem à democracia que invistam contra os mensageiros da opinião pública.
Se o consenso dos ouvintes da alocução de Sua Excelência serve para algo, será para indicar que Sarney perdeu uma boa ocasião de ficar calado em sua curul.

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