sábado, 26 de setembro de 2009

O Grupo dos Vinte

Há austero simbolismo na circunstância de que Pittsburgh tenha sido escolhida como sede para esta reunião do G-20. Que o antigo centro da pujança do aço na economia americana seja o cenário dos ritos de passagem do exclusivo G-8 para o abrangente G-20 só não hão de ver os que se recusam ou não podem enxergar a nova realidade.
Desenvolvimento desse gênero seria impensável na Administração de George W Bush pelo unilateralismo de sua política exterior e pelo consequente apego a situações que os novos tempos, com a sobrevinda dos países emergentes, tornavam já inadequadas e insatisfatórias.
Em tal contexto, o Presidente Barack Obama representa, de um lado, o retorno do bom senso e do multilateralismo, e de outro, a necessária adaptação a novo quadro econômico e político no mundo.
Desde a primeira participação do Presidente Obama no Grupo dos Oito, em L’Aquila (Itália), firmaram-se suas dúvidas sobre a capacidade do grupo restrito continuar a lidar com as questões mundiais. Daí a passagem para o G-20, atendida a relevância dos BRIC (Brasil, Rússia, India e China) e de outras nações para compor o novo quadro. Por ora, o G-8 deveria continuar com suas sessões bianuais, porém somente para cuidar de aspectos de segurança.
Embora não seja o momento para bravatas, é inquestionável o progresso alcançado. O próprio Presidente Obama tem ressaltado a importância de China, Brasil e Índia na economia mundial. A União Européia – que é o vigésimo membro do G-20 – tem sentido o interesse estadunidense de apoiar o esforço de outros países, como o Brasil, de forjar acordo global de comércio para derribar barreiras nas áreas de agricultura e de serviços.
Conquanto a participação dos BRICs no Banco Mundial não tenha sido atendida em Pittsburgh segundo as suas pretensões, haverá no FMI a transferência de pelo menos 5% das cotas dos países ricos para este grupo, e de 3%, no Banco Mundial, o que foi bem recebido por Lula e demais líderes interessados.
No final da reunião do G-20 a entrevista do Presidente Obama, na qualidade de anfitrião do grupo, despertou a previsível atenção.
A respeito, tampouco há de despertar espécie que a próxima reunião, em outubro, de Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha com representação do Irã haja motivado o maior número de perguntas dos jornalistas credenciados.
Obama sublinhou o consenso existente – não só entre os ocidentais, mas também de China e Rússia – quanto à inadmissibilidade do programa nuclear iraniano. Nas palavras do presidente americano, este programa ‘representa ameaça direta para as próprias fundações do regime de não-proliferação’.
A situação diplomática do Irã não se fortaleceu com a revelação da existência neste pais de usina subterrânea secreta para a fabricação de combustível nuclear. Essa é portanto a segunda usina destinada ao fabrico de combustível nuclear. Obama decidiu tornar pública a descoberta, pelo fato de que Teerã se dera conta da quebra do segredo pelas agências ocidentais de inteligência, como comprova críptica carta oficial dirigida à AIEA pelo governo iraniano, em que comunicou estar em construção uma ‘usina piloto’. Obama, Gordon Brown e Sarkozy – com a anuência de Angela Merkel – exigiram que o Irã permita logo uma inspeção pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no local, que se supõe distar 160 km de Teerã, nas cercanias da cidade de Kom.
Na entrevista, Obama deixou claro que daria prioridade à diplomacia para resolver a questão, nisso enfatizando o apoio inclusive de China e Rússia. Não excluíu, porém, o recurso a outros meios, dependendo da atitude do Irã. Nessa oportunidade, disse : “Eles têm de fazer uma opção. Desejam seguir o caminho de maior prosperidade e segurança para o Irã, renunciando à aquisição de armas nucleares, ou ... então continuarão na senda que levará à confrontação ?”
A esse respeito, a assertiva do presidente Mahmoud Ahmadinejad de que as acusações de Obama não tinham qualquer base não há de surpreender a ninguém, pela credibilidade das negações do regime iraniano.

(Fontes: CNN, International Herald Tribune e Folha de São Paulo)

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