sábado, 5 de dezembro de 2020

O Centro do Rio e o que oferece para o pensamento inovador.

     É considerável a demora nos testes de Covid. Se em S.Paulo já chega a cerca de dez dias, na velha Cap, os atrasos são muito maiores. Decerto avulta como característica no Rio de Janeiro que por causa  da desorganização e mesmo bagunça que prevalecia na Prefeitura, os pobres carentes de diretivas médico-hospitalares se viam forçados a pacientarem por largo tempo, tal a desordem existente.

      Mas não é que tal desorganização se haja dissipado tão logo figuras  como Wyzel e Crivella ou estejam afastados, às voltas com o Judiciário - o que de certa forma lhes explica a patética situação, pois quando no poder agiram como se tais condicionantes não existissem - ou se aprestem à longa caminhada que é reservada àqueles que enjeitam o favor do Povo.

       Ao novo Prefeito  Eduardo Paes - que já passou pelo Rio e de que a gestão assoma muito maior do que à da dupla acima, mas quem sabe? importa ainda pacientar, pois se mostra mais capacidade executiva, ainda nos cabe esperar, eis que Sua Excelência carece de desmanchar um tanto o considerável esvaziamento do centro citadino carioca, que, com a devida vênia. ele o transformou quase em um beco das almas - pois onde havia movimento,  comércio, bons restaurantes, livrarias e dadivosos sebos, deparamos agora a pasmaceira de um bairro em que antes as gentes conversavam, circulavam e se instruíam (em livrarias e sebos vivos), hoje se atravessam becos desertos, em tal situação que mais parecem áreas que se vestem daquele perigoso ermo de gente.O centro carioca, pelo que participa do ethos  do povo do Rio de Janeiro, não deve ser condenado a um enterro antecipado, pois naquelas travessas e ruelas ainda tem condições de viver o espírito carioca, que pode, a um primeiro olhar, não luzir com a força do modernoso, mas que ainda guarda a inteligência das longas conversas e dos bons livros que esperam pacientes por leitores com feeling e inteligência para perlustrá-los na sapiência que, en passant podem nos passar.

      O núcleo central da polis carioca pode ambicionar um novo re-nascimento. Ao invés de ruas mortas - que só servem para carros e taxis buscarem o caminho da Zona Sul ,  o centro do Rio mereceria conviver com a recuperação dessa parte central, que não carece de ser sufocada como se fosse inimiga do progresso. Os sebos,  livrarias e  bares são círculos potenciais de inteligência e não de atraso ou de velharias saudosistas, e como tal devem ser tratados, imãs que são da cultura, que é o reverso do abandono do  atual remanescente que não merecia ser decretado em processo de desfazimento.   

        Estou certo que o novo Prefeito volta à lide carioca consciente de que sua obra renovadora deve ser continuada, mas, creia-me, seria atar-lhe ao pescoço um peso desproporcional e - convenhamos - pouco condizente com a alma carioca que o velho Centro venha a ser  declarado inútil, quando ainda teria muito a trazer em termos de cultura, espírito   e inteligência à modernidade carioca. 

         Para tudo há tempo de repensamento e de reinvenção. Aquele velho centro do Rio, tinhoso talvez, pode nos ensinar a boa lição de que a cultura é também uma plantinha  que, com todos os seus anos, e com o seu mostruário de reviveres e de reencontrares oferece aos políticos inteligentes senhora oportunidade, sobretudo a eles  que guardam para a sua progressão com a velha mas provada arma da possibilidade de reinventar-se.  Para tanto, a experiência de uma pausa pode ser muito relevante, eis que ela dá a oportunidade de proceder nesse trabalho de reinvenção do centro carioca com a preservação de suas grandes características,     que na verdade aí estão solícitas e gárrulas como sempre, para mostrarem que dedos de prosa e estantes com bons  livros merecem a atenção que a cultura sempre fez por preservar e merecer.

          Senhor Prefeito Eduardo Paes, traga a gente da cultura e da conversa de volta ao centro do Rio. Com o seu tino e o seu espírito, afaste dele os fantasmas do abandono e da decadência. Traga a esse punhado de ruas de paralelepípedos e asfalto um senhor sopro de século XXI, bem ciente de que a grande maioria dessa boa gente vê com muita simpatia a sua força pela mudança, e por conseguinte, a natural projeção da própria  visão de um tempo melhor em que se abra largo espaço, generoso mesmo,  à inteligência, sem muito atentar para os trajes respectivos, e tampouco  para os seus costumes, eis que governar é a grande magia de abrir espaços - sempre generosos - e, se me permite, sendo Vossa Excelência ainda jovem, pode-se permitir conviver com todas as idades, desde que tragam consigo um sopro de esperança e o espírito da tolerância. Juscelino Kubitschek, com quem tive a oportunidade de praticar quando no esplendor de seu  governo, mas também na hora difícil do seu desterro, ele nos traz o perfil  do personagem que sobrepaira à paisagem e as eventuais contingências da sorte.

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