domingo, 14 de junho de 2020

Alvo principal da polícia americana e brasileira ?


                  
        O Estado de S. Paulo, em sua primeira página, nos mostra - na verdade, nos repisa - que tanto o Brasil, quanto os Estados Unidos compartilham números desproporcionais de assassínios de negros pelas respectivas polícias.
           Dessarte uma pessoa de cor negra corre 2,9 vezes mais risco  de ser morta  por policiais do que uma branca em território estadunidense.
            Surpreenderá, acaso, de que no Brasil, esse risco é 2,3 vezes maior?
             Ainda para a mesma fonte,  só a polícia do Rio de Janeiro foi quase duas vezes mais letal do que a polícia americana em 2019. Só na metrópole carioca, a polícia matou quase o dobro do número de mortos por policiais americanos  em todo o país em 2019.

             A esse propósito, convém  recordar que a morte de George Floyd não foi algo fora de curva, pois basta assinalar que Eric Garner. pai de Emerald  Garner (28 anos) fora morto em New York após suplicar que o policial soltasse seu pescoço. Como George Floyd anos mais tarde, ele morreu em uma chave de braço, apesar de repetir várias vezes "eu não consigo respirar" (I cannot breathe)

                A generalização dos protestos multitudinários pela morte cruel e estúpida de George Floyd, em Minneapolis, estado de Minnesota, não foi decerto por acaso. A crueldade do policial ao sufocar Floyd constituíu, no seu sadismo - que se acreditava impune - a provocação final que desencadearia passeatas e movimentos de protesto pelos Estados Unidos afora, chegando mesmo a passeatas em outros continentes.

                 É, outrossim, de notar-se que Brasil e Estados Unidos compartilham números desproporcionais de assassínios de negros pela polícia. Como negro, Eric Garner corria 2,9 vezes mais risco de ser morto por policiais do que uma pessoa de cor branca. No Brasil, o risco é maior 2,3  vezes maior para os negros.  No entanto, a policia brasileira mata mais, mesmo com população menor. Só no Rio a polícia matou quase o dobro do número de mortos por policiais estadunidenses em todo o país em 2019.

              Entende-se, por conseguinte que Emerald Garner afirme que "se tivéssemos aprovado leis sobre o tema na época de meu pai, George Floyd  estaria vivo hoje".

                O exemplo brasileiro para essas duas vítimas americanas - Floyd e Garner - estaria com Wemerson Felipe Santos, que morreu em novembro na Vila Pica-Pau, na periferia de Belo Horizonte, no primeiro dia em que trabalhava, capinando em um terreno do bairro. Wemerson, nessa ocasião, sofreria  uma rasteira, um pontapé e um mata-leão de policiais que faziam uma operação no bairro, até ficar roxo e perder os sentidos, segundo o portal G1.  Por sua vez, em 2019, David do Nascimento Santos, de 23 anos, saíu de casa na favela do Areião, no Jaguaré, em São Paulo, para usar o Wi-fi de um bar da vizinhança, mas foi colocado dentro de um camburão e apareceu morto, com marcas de tortura.

                   Quase cinco mil brasileiros negros, jovens em sua grande maioria,  foram mortos pela polícia em 2018. A população negra do Brasil é quase o triplo daquela dos EUA e a Polícia brasileira matou dezoito vezes o número de negros que os policiais americanos assassinaram. É de notar-se que o número de mortos pela polícia americana se tem mantido no mesmo nível desde 2013.

                      Sob o nome de Jim Crow, as leis de segregação racial americana  tiveram vigência nos estados do Sul dos EUA, até a década de sessenta.  Brancos e negros não usavam os mesmos bebedouros públicos, banheiros, balcões de lanchanete, cabines de trem, escolas e ônibus. Os locais destinados aos negros eram precários.

                       Segundo Ellis Monk, do Departamento de Sociologia de Harvard, que pesquisa os paralelos entre  racismo nos EUA e no Brasil "O Brasil não teve o imenso sistema de leis codificadas que surgiu após o colapso da escravidão, como nos EUA de Jim Crow"
                          Ainda consoante Monk "existem muitas maneiras diferentes de manter hierarquias raciais e de cores. Você não precisa necessariamente de um "sistema Jim Crow" para atingir esse mesmo tipo de objetivo." Para o professor de Harvard "é mais fácil enfrentar  um problema que tem nome. No Brasil, é mais difícil nomear os alvos que mantêm hierarquias raciais quando não são tão óbvios como eram nos Estados Unidos."
                                O que têm em comum os dois países?  Na verdade, o passado da escravidão e exploração da mão de obra africana para formar  sociedade e economia, institucionalizando uma discriminação racial persistente em diversos segmentos da sociedade, como, v.g. a habitação.  Assim, nos Estados Unidos uma casa em bairro negro vale US$ 48 mil a menos do que uma propriedade de características e localização semelhantes, mas em um bairro branco. A diferença é chamada por pesquisadores de "custo racial".

                                 Outro exemplo do discricionarismo da polícia está na fala do Senador Tim Scott, negro e republicano da Carolina do Sul: "Em um ano, eu fui parado sete vezes pela polícia. Não cinco, nem seis.Sete." Essa história ser  a de um jovem negro brasileiro, mas foi expressa pelo citado Senador Tim Scott.
                                     Para a psicóloga Marisa Feffermann, da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio, que lançou recentemente a campanha "Fala Quebrada",  com vistas a reunir denúncias de ações policiais violentas, além de outras situações de desrespeito aos direitos básicos da Cidadania.

( Fonte: O Estado de São Paulo )       

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