sábado, 16 de julho de 2011

Está no limite o modelo brasileiro ?

           Se não há dúvidas do resultado dos anos Lula que, ao deixar o cargo, levara o Brasil a crescer em ritmo asiático (7,5 % ao ano), as próprias características do sucesso colocam inúmeras incertezas quanto às perspectivas futuras.
           Ajudado pela valorização nas cotações internacionais dos produtos primários – uma das mais importantes categorias, senão a principal, de nossas exportações - o Brasil não se valeu dessa oportunidade de melhora de 30% nos termos de intercâmbio, para reduzir a dívida e estimular a poupança, preferindo gastar em importações.
           Tal exemplo não é o primeiro em nosso comércio internacional. Durante o governo Dutra (1946-1950), o país também desperdiçara ocasião de valer-se de modo produtivo do substancial saldo acumulado pela forçada restrição no comércio internacional causada pela Segunda Guerra Mundial. Então o que se havia amealhado foi queimado em explosão consumista.
           Como se assinala, ao nos valermos do saldo extra para o dispêndio em importações, e enjeitando a poupança que poderia ensejar investimentos em infraestrutura e indústrias de bens de capital, a consequência é o deficit na conta corrente de 2,3% do PIB. Se a brecha resultante é financiada por investidores externos, o real fortalecido acarreta a queda na competitividade da indústria, com os efeitos que se nos deparam.
           A alça no valor relativo do real em relação do dólar, além de tornar as nossas exportações mais caras e, portanto, menos competitivas, também contribui para tornar o produto estrangeiro mais barato para o adquirente brasileiro.
           Como efeito secundário desses fatores negativos, há um incentivo para a desindustrialização brasileira – eis que o concorrente alienígena fica mais barato - a par de reforçar o refluxo para o agro-negócio e outras exportações de commodities (produtos de base). A única condição para que esse modelo persista será a manutenção do boom nessas transações, de que obviamente não há garantias. Para a permanência dessas condições favoráveis, a posição dos produtores constitui apenas uma das causas determinantes, entre muitas outras, de um mercado que historicamente se afigura muito mais exposto às variações pronunciadas do que o dos bens com muito mais alto valor agregado industrial e tecnológico.

                                                                    *
           No contexto da evolução das contas públicas, se o comportamento do superavit primário (anterior ao pagamento dos juros da dívida) no corrente ano, conforme referido neste blog, é tranquilo (superavit acumulado até maio em 3,29% do PIB, e portanto acima da meta de 2,9% fixada para todo o ano de 2011), tal infelizmente não é o quadro previsto para 2012.
           As despesas estimadas para o ano próximo incluem o aumento no salário mínimo. Considerado restrito o incremento do mínimo em 2011, está marcada para 2012, uma correção maior. Dadas as despesas atreladas ao salário mínimo (previdência social, seguro desemprego e lei orgânica de assistência social), cabe a pergunta do interesse macro-econômico em onerar o Tesouro com a elevação política do mínimo. Nessa rubrica, teríamos impacto de R$23 bilhões.
           O aumento do funcionalismo, notadamente o reajuste dos militares, e ainda pressões por incrementos no Poder Judiciário são orçadas em despesas extras de R$ 20,6 bilhões. Por fim, os dispêndios com os precatórios, que se elevam a R$ 7,5 bilhões.
           O total geral é, por conseguinte, de R$ 51,1 bilhões. A propósito, a matéria de O Globo recorda que tal montante corresponde a quatro vezes a dotação alocada à Bolsa Família.
           Por conta dessa sobrecarga, os técnicos do governo comunicaram ao Congresso Nacional que planejam abater até R$ 25 bilhões da meta do ano que vem – de 3,1% do PIB – por conta de despesas como o reajuste do salário mínimo e do funcionalismo.
           Não só essas despesas a maior em cerca de R$ 50 bilhões representam um desafio para o fechamento das contas do ano vindouro. No ano passado, o Tesouro recorreu ao artifício de abater os investimentos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Outro problema serão as pressões inflacionárias, criadas com as estripulias fiscais dos últimos anos do governo Lula. Não é segredo para ninguém que incrementos substanciais no salário mínimo, a par dos aumentos ao funcionalismo só tenderão a reforçar essa corrente.
           Tudo isso monta um quadro que, seja no aspecto externo, seja no interno, não pode ser vislumbrado com otimismo.


( Fontes: Folha de S. Paulo e O Globo )

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