segunda-feira, 8 de abril de 2013

Ucrânia: Injustiça Anunciada ?

                                   
          Dada a pressão sofrida de parte de Bruxelas e a evidente necessidade da economia ucraniana de ganhar maior acesso ao mercado da União Europeia, o indulto do governo do Presidente Viktor F. Yanukovich ao segundo prisioneiro político em importância, Yuri V.Lutsenko, não constituíu grande surpresa.
          Nesse sentido, o Presidente Bronislau Komorowski, da Polônia, declarou que os indultos – que abrangeram além de Lutsenko, ex-Ministro do Interior (detido em dezembro de 2010, sob a acusação de abuso no exercício das respectivas funções), também presos de menor peso político, como o ex-Ministro da Ecologia, Georgy Filipchuk – ‘foram um passo positivo que ajudará a restaurar a boa imagem da Ucrânia’.
          Assinale-se  que a Polônia é a defensora das aspirações  ucranianas no que tange à U.E.  Nesse contexto, o presidente Komorowski tem discutido com o seu colega Yanukovich  tanto o caso de Yuri Lutsenko, quanto o da líder da oposição, e ex-primeira Ministra.
          Sem embargo, a pedra no caminho da associação com a União Europeia para Viktor Yanukovich chama-se Yulia V. Timoshenko.  Detida desde agosto de 2011, com base em processos ou requentados, ou de dúbio fundamento, a antiga Primeira Ministra, que fora derrotada por estreitíssima margem nas eleições presidenciais de 2010, acha-se até hoje internada em cárcere hospitalar na cidade interiorana de Kharkov.
          Na verdade, a Timoshenko representa o verdadeiro desafio quanto à intenção democrática de seu rival e desafeto político Viktor Yanukovich.  Libertá-la e anular os processos montados contra ela  é um prato indigesto para o senhor presidente da Ucrânia.   
          Por quê ? Há muitas dúvidas quanto à lisura das apurações dos aludidos comícios para a Presidência da Ucrânia. Foram levantadas contestações pela oposição, mas no final terá prevalecido o partido pró-russo de Yanukovich.
          A perseguição que se seguiu  - vale dizer a judicialização do processo político, com acusações forjadas e processos a cargo de dóceis juízes, dentro do modelo lançado pela potência maior, i.e., a Federação Russa, e seu homem forte, Vladimir V. Putin – se coadunava com a suposta necessidade de acuar e intimidar a oposição ucraniana. Que melhor caminho para tanto que a condenação e prisão de sua líder inconteste, a carismática Yulia ?
           Obviamente, a autoridade europeia não pode aceitar, como insinuam alguns, eventual ‘solução’ que liberte um punhado de presos políticos, mas deixe no lazareto carcerário de Kharkov a principal líder da oposição. Se a porta de entrada para associação com a U.E. exige a ordem democrática no país beneficiário, Yanukovich não pode embalar-se com engodos do gênero de uma meia-libertação que se ‘esqueça’ da perseguição à Yulia Timoshenko.
           As hesitações desse presidente ucraniano se devem, como se afigura manifesto, ao temor de ter pela frente a ex-primeira ministra e possível nêmesis nas próximas eleições presidenciais.
          Enquanto não for virada a página da farsa dos processos penais – o que a sentenciou a sete anos, e outro ainda mais lúdicro, quanto a requentadas acusações de alegado envolvimento em assassinato nos anos noventa – e enfim libertada a autêntica chefe da oposição, com o seu retorno ao Parlamento e às disputas futuras para a presidência em Kiev, deverá continuar entre parêntesis  a associação da Ucrânia com a U.E.
          De forma incondicional, o jogo político carece de ser restabelecido em sua integridade. Anulados de pleno direito os processos contra a oposição, a começar da própria  líder, de que é um escândalo a sua continuada prisão, Viktor Yanukovich precisa reconciliar-se sem tardança com a democracia, e sem quaisquer recaídas.
          Assim como não há meia-democracia, o presidente Yanukovich não deve ter outra saída senão a da democracia plena, com a libertação incondicional de Yulia Timoshenko. E para tanto não haverá fórmula melhor para o futuro da Ucrânia que seja regido pela liberdade, sem restrições nem adjetivos,  sem vinditas de qualquer espécie, e em eleições limpas e não corrompidas pela fraude.  

 
( Fonte subsidiária : International Herald Tribune )

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