Dada a pressão sofrida de parte de
Bruxelas e a evidente necessidade da economia ucraniana de ganhar maior acesso
ao mercado da União Europeia, o indulto do governo do Presidente Viktor F.
Yanukovich ao segundo prisioneiro político em importância, Yuri V.Lutsenko, não
constituíu grande surpresa.
Nesse
sentido, o Presidente Bronislau Komorowski, da Polônia, declarou que os
indultos – que abrangeram além de Lutsenko, ex-Ministro do Interior (detido em
dezembro de 2010, sob a acusação de abuso no exercício das respectivas
funções), também presos de menor peso político, como o ex-Ministro da Ecologia,
Georgy Filipchuk – ‘foram um passo positivo que ajudará a restaurar a boa
imagem da Ucrânia’.Assinale-se que a Polônia é a defensora das aspirações ucranianas no que tange à U.E. Nesse contexto, o presidente Komorowski tem discutido com o seu colega Yanukovich tanto o caso de Yuri Lutsenko, quanto o da líder da oposição, e ex-primeira Ministra.
Sem embargo, a pedra no caminho da associação com a União Europeia para Viktor Yanukovich chama-se Yulia V. Timoshenko. Detida desde agosto de 2011, com base em processos ou requentados, ou de dúbio fundamento, a antiga Primeira Ministra, que fora derrotada por estreitíssima margem nas eleições presidenciais de 2010, acha-se até hoje internada em cárcere hospitalar na cidade interiorana de Kharkov.
Na verdade, a Timoshenko representa o verdadeiro desafio quanto à intenção democrática de seu rival e desafeto político Viktor Yanukovich. Libertá-la e anular os processos montados contra ela é um prato indigesto para o senhor presidente da Ucrânia.
Por quê ? Há muitas dúvidas quanto à lisura das apurações dos aludidos comícios para a Presidência da Ucrânia. Foram levantadas contestações pela oposição, mas no final terá prevalecido o partido pró-russo de Yanukovich.
A perseguição que se seguiu - vale dizer a judicialização do processo político, com acusações forjadas e processos a cargo de dóceis juízes, dentro do modelo lançado pela potência maior, i.e., a Federação Russa, e seu homem forte, Vladimir V. Putin – se coadunava com a suposta necessidade de acuar e intimidar a oposição ucraniana. Que melhor caminho para tanto que a condenação e prisão de sua líder inconteste, a carismática Yulia ?
Obviamente, a autoridade europeia não pode aceitar, como insinuam alguns, eventual ‘solução’ que liberte um punhado de presos políticos, mas deixe no lazareto carcerário de Kharkov a principal líder da oposição. Se a porta de entrada para associação com a U.E. exige a ordem democrática no país beneficiário, Yanukovich não pode embalar-se com engodos do gênero de uma meia-libertação que se ‘esqueça’ da perseguição à Yulia Timoshenko.
As hesitações desse presidente ucraniano se devem, como se afigura manifesto, ao temor de ter pela frente a ex-primeira ministra e possível nêmesis nas próximas eleições presidenciais.
Enquanto não for virada a página da farsa dos processos penais – o que a sentenciou a sete anos, e outro ainda mais lúdicro, quanto a requentadas acusações de alegado envolvimento em assassinato nos anos noventa – e enfim libertada a autêntica chefe da oposição, com o seu retorno ao Parlamento e às disputas futuras para a presidência em Kiev, deverá continuar entre parêntesis a associação da Ucrânia com a U.E.
De forma incondicional, o jogo político carece de ser restabelecido em sua integridade. Anulados de pleno direito os processos contra a oposição, a começar da própria líder, de que é um escândalo a sua continuada prisão, Viktor Yanukovich precisa reconciliar-se sem tardança com a democracia, e sem quaisquer recaídas.
Assim como não há meia-democracia, o presidente Yanukovich não deve ter outra saída senão a da democracia plena, com a libertação incondicional de Yulia Timoshenko. E para tanto não haverá fórmula melhor para o futuro da Ucrânia que seja regido pela liberdade, sem restrições nem adjetivos, sem vinditas de qualquer espécie, e em eleições limpas e não corrompidas pela fraude.
( Fonte subsidiária :
International Herald Tribune )
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