sábado, 20 de abril de 2013

Terroristas da Chechênia ?

                                              
                             
         A Chechênia, uma pequena república integrante da Federação Russa, na prática desde a dissolução da URSS luta pela sua independência. De maioria muçulmana, no sul do Caucaso, essa província tem sido mantida a ferro e fogo na Rússia, desde o governo de Boris Ieltsin,  menos pelo valor do respectivo território, do que pelo efeito disruptivo que a sua eventual secessão provocaria quanto a outras nacionalidades também sob o domínio de Moscou.
        A repressão na Chechênia, e a participação nela do sátrapa governista – que não é um herói em termos de respeito aos direitos humanos – tem provocado muitos atentados terroristas em Moscou e em províncias russas. Dentre esses, se insere o assassínio em outubro de 2006 da jornalista investigativa Anna Politkovskaya, abatida sob encomenda, no modesto saguão do prédio moscovita onde residia. O móvel do crime estaria supostamente  em suas revelações quanto a violações aos direitos humanos naquela infeliz república, embora até hoje sucessivos juízos não tenham individuado o mandante.
       Diante do comportamento integrado dos dois irmãos chechenos – os Tsarnaev emigraram com a família, via Quirguistão, para os EUA em 2002 – cerca alguma perplexidade a aparente incoerência do atentado terrorista contra a maratona de Boston e o comportamento pregresso dos dois irmãos.
        Tamerlan Tsarnaev, residente permanente nos EUA desde 2007, nascera em 1986, e se casara com Katherine Russell, americana de Rhode Island. Treinara sem sucesso para integrar a equipe olímpica de boxe, e também em 2009 foi detido por violência doméstica (agressão a uma namorada). Tornou-se devoto do Islã, e viajou de New York para Sheremetyevo, na Rússia, em 2012, onde permaneceu por seis meses. O FBI procura saber se recebeu alguma formação terrorista nesse período. Ao contrário do gregário irmão mais jovem, Tamerlan admitia não se ter integrado na vida americana: “não tenho nenhum amigo americano. Eu não os entendo”, disse a Johannes Hirn, autor de ensaio fotográfico da faculdade Bunker Hill, onde o irmão mais velho estudava engenharia.
        O temperamento do irmão caçula,  Dzhokar Tsarnaev, difere bastante. Simpático, alegre, e muito inteligente, estuda medicina na Universidade de Massachusetts em Dartmouth. Com dezenove anos, cidadão americano desde onze de setembro de 2012, ganhou bolsa de US$ 2,5 mil, doada a 45 estudantes promissores em Cambridge, onde se formou em 2011, no ensino médio. George McMasters, diretor de esportes aquáticos de Harvard, contratou Dzhokar como salva-vidas por dois anos e meio. O ex-fuzileiro naval – empenhado na busca de terroristas no Iraque – nunca levantou qualquer suspeita contra o rapaz: ‘Sempre na hora, atento e sem problemas com os outros salva-vidas’.
        No quarto dia da caçada da polícia de Boston, junto com o FBI, as forças da ordem se teriam visto com a dupla individuada pelas câmeras de segurança, que se tornara a maior ameaça ao país desde os ataques de onze de setembro de 2011.
        Na madrugada desse dia dezoito, a perseguição teria chegado aos irmãos Tsarnaev.  Na troca de tiros, Tamerlan, de 26 anos, morrera (o policial Sean Collier teria sido morto antes pelos irmãos), e Dzhokar, ferido, lograra escapar.  Em carro roubado, Dzhokar conseguiu furar o cerco, e se refugiou em quintal de casa em Watertown.
        A perseguição foi retomada quando o dono dessa casa, Edward Davis, após descobrir o ensanguentado Dzhokar escondido em um barco, denunciou o fato às autoridades.  Horas depois, a operação – com contornos hollywoodeanos – chegava ao fim, com a prisão do suspeito nr.  dois.
        O Presidente Barack Obama saudou o fim da busca e cumprimentou as forças da ordem pelo dever cumprido.
         Sem embargo,  tempo passará até que todas as dúvidas sejam dissipadas. Se o irmão mais velho, Tamerlan, tem perfil que pode encaixar-se como o suspeito nr. 1, o que dizer do simpaticão irmão caçula, Dzhokar ? Que interesse e motivação poderia ter?
         E com respeito aos indícios juntos pela polícia para individuar os suspeitos ? Onde estaria escrito ou sinalizado que os dois estavam a fim de desestabilizar a maratona de Boston ? Qual o propósito da dupla ? Se o inadaptado Tamerlan pode encaixar-se como candidato, que dizer de Dzhokar, com exitosa vida pela frente, e, sem embargo, de repente entrando às cegas em tresloucado plano terrorista ?
         Se a opinião pública tiver acesso à versão de Dzhokar – não importa qual – pode ser que o quebra-cabeças venha a ser montado a contento.
         Agora, para público que já viu tantos filmes onde inocentes são individuados, perseguidos, encurralados e afinal ou detidos, ou abatidos, parece indispensável que a verossimilhança da culpa dos irmãos Tsarnaev venha a ser esmiuçada e comprovada com o necessário rigor.
          O próprio Barack Obama, que tem acompanhado com grande interesse esse episódio ligado à maratona de Boston, cidade aonde possui tantos laços existenciais e de carreira, reconhece que ainda há dúvidas remanescentes sobre o ataque a serem esclarecidas.

    
(Fontes:  O  Globo, Globo on-line )      

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