Herdeiro de Hugo Chávez, Nicolás Maduro se descobre, na prova de fogo das urnas, com a metade mais um de uma frágil maioria. Parasitas do capital político amealhado pelo Comandante ao longo de seus catorze anos de poder, os seguidores da coalizão montada pelo coronel se descobrem com um líder de vôo tão baixo quanto o do constrangedor passarinho.
Graças a Chávez, o novel presidente tem o apoio institucional de toda a maquinaria do Estado de que o caudilho se apropriara ao longo de sua escalada. Essa maciça sustentação, decorrente do domínio chavista de todas as expressões do Estado, constitui na sua falsa unanimidade uma mais do que dúbia sustentação, eis que os seus paramentos legais não dispõem de legitimidade.
Tais construções, como já se viu alhures, privadas da força primeva mas real do coronel Chávez, por quanto tempo aguentarão o embate da oposição – que já reúne metade do povo venezuelano – e o da aliança chavista, forças disparatadas e cozidas seja pela farda do caudilho, seja pela ideologia populista, essa beberagem de fôlego curto com que os demagogos logram o volúvel apoio das periferias ?
Elas possuem fachada que pode impressionar aos visitantes profissionais e aos ideólogos sempre disponíveis, mas que, a exemplo de outras montagens, não tem resistência que lhes permita subsistir sem a presença da força que as plasmou.
Dessa maneira, com a nação dividida pela metade, e o fantasma de Hugo Chávez sobrepairando dois agrupamentos que, na verdade, se neutralizam, tal a sua equipolência, de pouco servirá aos chavistas instrumentalizar um apoio institucional que não reflete a realidade nacional.
Os distúrbios entre chavistas e oposicionistas deixaram pelo menos sete mortos e 63 feridos, segundo noticia a Folha. A equiparação nos sufrágios e as dúvidas decorrentes das apurações terão acirrado a diferença, diante das muitas instâncias de fraudes acoimadas aos caciques chavistas.
Cioso dos seus 50,75% dos votos, contra os 48,97% do adversário, Maduro, em cadeia de rádio e TV, prometeu ‘radicalizar’ a revolução. Como se preparava uma passeata pelo líder Henrique Capriles, talvez o presidente interino temesse que a manifestação crescesse demasiado, a ponto de colocar em dúvida a vantagem obtida pelo chavismo.
Capriles optou por curvar-se diante da proibição de Nicolás Maduro, e mandou suspender a convocação à marcha. Por causa do resultado, e da virtual igualdade com o campo do sucessor de Chávez, as oposições não carecem de aceitar provocações emanadas dos organismos estatais de se assenhoreou o chavismo.
Nesse viés caem as ameaças da Procuradoria-Geral do Estado, e do Presidente da Assembléia, que, em aparente ordem unida, acenam com processos contra Henrique Capriles, por suposta incitação à violência.
Na verdade, a tática provável da oposição será dar a corda de mais dois anos para a administração Maduro afundar na própria previsível incapacidade de reordenar a herança quase maldita deixada por Hugo Chávez. Findo esse prazo, soará a campainha do ‘recall’ – a possibilidade constitucional de revogar nas urnas o restante do mandato supostamente ganho pelo filho de Chávez, no domingo catorze de abril. Esse recurso já fora tentado no passado contra o Comandante que lograra, com dificuldade, dele desvencilhar-se na contagem final dos votos. Difícil será prenunciar a essa altura que Nicolas Maduro terá igual sorte.
( Fonte: Folha de S.
Paulo )
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