A notícia mereceu destaque do Jornal Nacional da Rede Globo e está nos jornais de hoje. Se nos preocuparmos com a
essência das motivações, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não
foi convocado por um acaso ao Senado Federal.
Se ele, um
técnico respeitado, comparece à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado,
Tombini, na verdade, está respondendo a um chamado da Inflação.De início, há duas premissas nessa matéria que semelham incontestáveis: (a) a responsabilidade da Presidente Dilma Rousseff com a alta sustentada dos índices de inflação; (b) a circunstância de que a autoridade monetária esteja manietada pelo Planalto no sentido de exercer a sua função precípua no controle da carestia, vale dizer a adequação da taxa Selic à oferta de crédito no mercado.
A convocação do Presidente do B.C. ao Senado se prende ao desgaste causado pelas declarações da Presidenta Dilma Rousseff na África do Sul – o exterior exerce por vezes efeitos de soro da verdade – que disse ser contrária a políticas de combate à inflação que causem redução do crescimento econômico.
Tangida pela forte reação do mercado financeiro com redução de juros futuros, a Administração intentou uma ação de minorar o efeito deletério de tal brutal franqueza. Nesse contexto, o presidente do B.C. recorreu a uma agência de notícias para ‘corrigir’ as declarações da Chefa, assim como Dilma veio a público para afirmar que sua fala fora ‘manipulada’. Para tanto, a presidenta convocou os jornalistas que a acompanharam para a reunião dos ‘Brics’ a rodar 40km a fim de ouvir essencialmente a mesma estória.
Em suas declarações à Comissão, Tombini disse: “A inflação tem mostrado uma certa resistência ao longo dos últimos meses. Há pressão dos preços de alimentos in natura, a inflação de serviços voltou a subir e existe maior difusão do aumento de preços na economia.”
O presidente do Banco Central disse ainda que o B.C. não se submete a qualquer tipo de pressão, que ‘não doura a pílula’ e ‘apresenta suas melhores projeções em relação à inflação’. Nesse quadro, Alexandre Tombini foi interrogado por senadores da oposição sobre um possível enfraquecimento do BC, reiterando a respeito que não há tolerância com a inflação e que, nessa diretriz, governo e BC monitoram e avaliam medidas para manter o controle.
Não tenho dúvidas quanto à competência profissional e funcional do Ministro Alexandre Tombini, presidente do Banco Central. Isto posto, infelizmente como referi em blog anterior, o presidente Fernando Henrique Cardoso preferiu imitar pela metade as grandes economias desenvolvidas, em a autoridade do Banco Central é autônoma, o que garante, e.g., ao Federal Reserve e ao Banco Central inglês, a necessária e indispensável independência das injunções políticas. Lamentavelmente FHC deixou a obra pela metade e se Lula deu razoável autonomia a Henrique Meirelles, o simples fato de que Meirelles haja pleiteado a manutenção dessa autonomia à sucessora Dilma Rousseff bastou para que ele fosse afastado da instituição que dirigia há oito anos.
É uma pena que FHC se tenha rendido à ambição de reter algumas migalhas de poder suplementar, ainda que fragilizando a necessária autonomia política do B.C. Pagamos agora o preço dessa sede irracional de poder, em área que o bom-senso de além-mar deixou por conta da autoridade financeira.
A situação presente é a seguinte. Por mais que se esforce o Ministro Tombini em asseverar que a inflação “está sob controle, mas encerra riscos à frente”, tomarei a liberdade, data vênia, de complementar o que no meu entender deva ser dito.
A única bala na agulha do revólver do Banco Central contra o dragão está na adequação da taxa de juros, consoante fixada em reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) às necessidades da situação financeira.
A pressão inflacionária atual grita por uma elevação da taxa de juros. Em um cenário mais flexível a essa situação conjuntural, como o foi no passado a presidência de Lula da Silva, não tenho dúvidas de que o Copom já teria determinado a elevação da taxa. É bom que se frise que é este o único recurso de que dispõe o BC para tentar controlar a inflação.
Há muitos outros aspectos da política macro-econòmica de Dilma Rousseff que deixam a desejar. Fiquemos hoje, no entanto, na avaliação de Tombini de que a inflação é resistente, e as cotações de alimentos e serviços estão pressionadas. Com isso, o mercado está de inteiro acordo. Sem embargo, no que tange à sua assertiva de que, se preciso for, elevará os juros, o índice de credibilidade decresce.
E tal não se deve à competência profissional do Sr. Alexandre Tombini, mas à circunstância de que dificilmente o Planalto de Dilma Rousseff lhe dará autorização nesse sentido.
( Fontes: Jornal
Nacional, O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário