A Itália tem um governo !
Para cimentar essa difícil união, Letta indicou como vice-primeiro ministro e ministro do Interior, Angelino Alfano, que é secretário da aliança política encabeçada por Berlusconi.
Letta, um moderado, integrara a Democracia Cristã (DC) até a implosão da antes formação majoritária no parlamentarismo italiano, e é considerado jovem diante dos padrões peninsulares (nasceu em agosto de 1966).
Começa o próprio trabalho diante da insatisfação da ala mais à esquerda do respectivo partido, com a forçada coabitação com a bancada de Berlusconi.
Letta carecerá de muito energia e sagacidade para contornar os escolhos e arrecifes que há de defrontar e não só do descontentamento de parte da bancada da liga das esquerdas. Decerto, eles têm sobejos motivos para desconfiarem da associação com Berlusconi. Nessa tarefa, Enrico Letta carecerá da astúcia que não teve Massimo D´Alema, ao se deixar envolver pelo Cavaliere (alcunha de Berlusconi), e da firmeza que não evidenciara Massimo Prodi, na seguinte epifania do governo das esquerdas.
É um senhor desafio.
O Dilema Americano na Síria
Quiçá, a única explicação para tal continuado titubeio se prenderia ao crescimento da ala islâmica mais radical na liga dos revolucionários sírios. Os Estados Unidos tem dúvidas em apoiar radicais nesse campo. Talvez um dos poucos atrativos do regime alauíta para muitos dos admiradores do atual governo em Damasco (e não faltam na mídia ocidental) é seu caráter laico, avis rara no mundo árabe, embora a última reforma constitucional teria aberto as primeiras exceções à norma.
Essa excepcionalidade do regime sírio, diante das transgressões aos direitos humanos e de seu caráter despótico, pode parecer enfeite de bolo, de mais do que dúbia validade.
Por outro lado, não deveria despertar espécie que em país muçulmano – a própria etnia alauíta, minoritária mas até hoje dominante na Síria, é indicação disto – as seitas islâmicas participem do governo.
O temor, decerto, é o radicalismo. No entanto, pela extensão do conflito, e a dificuldade enfrentada pela parte rebelde, ser-lhes-á difícil enjeitar o apoio proveniente desta linha, a que não sói faltar o caráter aguerrido.
No entanto, a sovada máxima o inimigo do meu inimigo é meu amigo deveria pesar nas considerações do Ocidente e dos Estados Unidos. O Irã dos ayatollahs e a Rússia são os principais aliados da ditadura de Bashar al-Assad. Ambos não têm escolha no partido que tomam. Além de aumentar-lhe o isolamento com relação ao mundo árabe e islâmico, Teerã também veria o ocaso do Hezbollah, ao se descobrir sem mais acesso à ajuda do regime xiita de Ali Khamenei; e o Kremlin, corre o risco de perder a sua única base naval de águas quentes, com a queda do aliado Bashar.
Protelar a inação de parte americana poderá produzir dois resultados: ganhar a desconfiança e a inimizade da Liga Rebelde; e não associar-se ao triunfo desta, quando o regime alauíta implodir pelo paulatino acúmulo de suas derrotas nas diversas frentes de batalha.
A sabedoria popular aconselha que não se faça ameaça se não se tem a intenção, ou a força de cumpri-la. Como é que fica Barack Obama diante desta situação, à vista de sua anterior postura sobre o emprego de armas químicas ?
( Fontes: Folha de S. Paulo, International Herald
Tribune )
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