A querela em Honduras já se estende por muitos meses e mais acirrada se mostra desde o passe de mágica do coronel Chávez com a ‘aparição’ de Manuel Zelaya na porta da chancelaria da embaixada do Brasil. Como bem se sabe, valendo-se do esdrúxulo status de ‘hóspede’, Zelaya não tardaria a passar de servo a senhor, em termos de posição naquele pedaço de terreno que por antigas convenções internacionais goza do privilégio da exterritorialidade.
Não vale decerto a pena delongar-se em tais circunstâncias, embora talvez caiba assinalar que em símile não ocasional o que se contempla nas dependências da embaixada brasileira reflete haver a nossa diplomacia assentido em ser usada como mero instrumento tático das maquinações do caudilho Hugo Chávez e de seu discípulo hondurenho.
Quanto às negociações em si, depois do usual intermezzo ineficaz de outro intento da OEA, com a presença do Secretário-Geral José Miguel Insulza, cairam no domínio das frentes locais. Como toda a disputa interiorana, é de árdua solução, quiçá menos pelas questões substantivas, do que pelos respectivos egos contrapostos.
Não se diga, porém, que os campos se tenham limitado aos respectivos grupos de apoio nacionais. Enquanto a facção de Zelaya se vale, a par do previsível padrinho Chávez, de um esparso sentir de ferida legitimidade, que por seu peso relembra os ditos ‘apoiamentos’ dados a requerimentos de colegas por nossos congressistas, a título de descompromissada simpatia, a coligação de Micheletti vem empreendendo espertos contatos com o Senado da superpotência. Mais especificamente, esses ‘contatos’ se dirigem a senadores republicanos e são feitos com a experimentada e não-gratuita ajuda de proficiente lobby. Com custo até agora orçado em quatrocentos mil dólares, o governo interino de Roberto Micheletti se tornou, indiretamente, um incômodo para a Administração Obama, ao impedir, através de seus simpatizantes republicanos no Senado, a aprovação congressual do Assistente do Secretário-de-Estado para os assuntos do Hemisfério Ocidental e, interessante coincidência, do novo Embaixador estadunidense para o Brasil. Além disso, Micheletti et al. estabeleceram através de seus comissionados estreitos laços com agências bastante próximas da Secretária de Estado Hillary Clinton e do Senador John McCain.
Pelas implicações deste investimento em lobistas – exercício de resto perfeitamente legal se realizado nos padrões exigidos pela legislação pertinente – a pobre Honduras de Micheletti não se acha a bem dizer desamparada no embate, em que a posição da potência hegemônica não é fator a ser desconsiderado.
Retornando a Tegucigalpa, a negociação entre representantes do presidente deposto e do mandatário interino, após ultapassarem os obstáculos supostamente menores, esbarram em qual autoridade deverá chancelar o acordo definitivo que disporá, em algum momento, da reassunção de Manuel Zelaya.
A pedra no caminho para a aprovação do texto do acordo estaria na autoridade que o ratificaria: se o Congresso ou a Corte Suprema. Como o último passo para a trégua entre os dois acampamentos, na verdade, pode ser visto em tanto mutação das próprias posições que buscam fazer prevalecer, a opção do Congresso seria encarada como favorável a Manuel Zelaya, e a da Corte Suprema, reputada como mais propícia para Micheletti.
Talvez o prolongamento da crise hondurenha venha contribuindo para reduzi-la à sua expressão menos regional do que nacional, e a interessar um número progressivamente menor de países, excluídos aqueles que, ativa ou passivamente, nela tenham alguma participação.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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