Ao aproximar-se a Conferência de Copenhague, crescem as pressões internacionais por metas mais ambiciosas para a redução das emissões de carbono não só de parte dos países desenvolvidos, mas também dos países em desenvolvimento. Nesse sentido, o ex-Secretário Geral das Nações Unidas Kofi Annan nos recorda em palestra que tão só no último ano mais de vinte milhões de pessoas se deslocaram no mundo por causa de desastres climáticos. Para que a terra reduza de modo significativo as emissões globais até 2020 e em 50% até 2050 (em relação aos níveis de 1990), é indispensável um esforço de todos. Assim, as nações mais industrializadas devem baixar de 25% a 40% suas emissões até 2020, e os países em desenvolvimento – Annan citou Brasil, China, India e África do Sul – carecem de ter empenho significativo para igualmente diminuirem as próprias emissões.
Diante das informações disponíveis, a atmosfera que circunda a importante conferência internacional está ainda permeada de indefinição no que tange às expectativa de sucesso. Se eventual malogro seria mais do que deplorável – pelas consequências climatéricas que prenunciaria – na verdade, por ora, é difícil mostrar-se otimista. A despeito das cobranças do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, aos países em desenvolvimento (e ao Brasil em especial, v. blog) de um maior empenho para reduzir as respectivas emissões, o quadro apresentado pelos europeus tampouco é dos mais alentadores nesse capítulo.
Quanto aos Estados Unidos, há grande atenção. Depois do destoar da gestão Bush, o mundo espera muito, quiçá demasiado da administração Obama. O projeto de lei relativo ao clima muito provavelmente não será votado pelo Senado estadunidense a tempo da conferência em Copenhague. Por outro lado, e não só por influência dos republicanos, ele já chega à Câmara alta bem aquém dos propósitos que informaram o projeto inicial.
Sem embargo dos esforços do governo Obama, forçoso se afigura admitir que ainda o povo americano não parece estar sintonizado com a gravidade do desafio climático. Para o professor de Columbia Jeffrey Sachs “os americanos não estão mobilizados. Até agora, as mudanças na área da saúde dominaram as discussões no Congresso”.
No campo dos países em desenvolvimento, inesperadamente é a China, antes uma vilã para os ambientalistas, que vem sendo elogiada. Se os chineses são hoje responsáveis por 22% das emissões mundiais (o maior volume mundial), os dirigentes da R.P.C. têm indicado ultimamente opções por fontes energéticas mais limpas, a par de comprometimento em realizar cortes significativos (a China possui hoje a maior concentração de painéis de energia solar no planeta).
E o Brasil ? O que levaremos em nossa bagagem para Copenhague, além das termelétricas da Ministra Dilma, da chamada MP da Grilagem (a Medida Provisória 458), e das diversas derrotas sofridas sucessivamente pela Ministra Marina Silva e por seu sucessor Carlos Minc, diante dos ruralistas, sob o benévolo olhar do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ?
Tem-se a impressão de que, depois da façanha olímpica, ocorreu uma certa conversão ambientalista em nosso presidente Lula, homem de poucas letras, mas de muitas luzes políticas. Em dia anterior os jornais noticiavam que a União cederia 2,9 milhões de hectares a indígenas, posseiros e fazendeiros, retirados de antigas unidades de conservação, em florestas, parques e reservas. Por sua incapacidade de controlar invasões e conflitos, o Governo federal se desfaz dessas áreas. Em consequência, sete das áreas de conservação referidas terão o tamanho reduzido, enquanto outras serão ampliadas. Essas alterações – que já não pressagiam a preservação da floresta amazônica para a qual as zonas haviam sido ideadas – terão de passar pelo Congresso, e, dados os antecedentes, não se pode excluir um traçado ainda mais desfavorável para a causa ecológica.
Hoje, ao contrário, se anuncia que o Presidente Lula confirma o seu desígnio de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia. Por cima de tal compromisso, já prenunciado no momento da euforia da vitória no COI, o Ministro Carlos Minc desvela para a imprensa metas ainda mais ousadas: o congelamento das emissões de gás carbônico, mantido o crescimento econômico de 4% ao ano.
Como se obterá esse congelamento ? A resposta, segundo o Ministro do Meio Ambiente, seria através da redução do desmatamento e a ampliação do uso dos biocombustíveis e dos investimentos em hidrelétricas.
Diante do comportamento pregresso do governo Lula, será mister aguardar. Auguramos sinceramente que a presente proposta – a da redução em 80% do desmatamento e da ênfase em energia mais limpa – não esteja sendo feita pro domo sua, isto é para dinamarquês ver. Há sempre o temor que cerca esse tipo de proposição, que se baseia no discurso e em ações vindouras,mais do que em bases concretas preexistentes.
Dessarte, não nos resta alternativa senão cruzar os dedos e esperar que desta vez Lula se haja realmente convencido de que se trata de compromisso não suscetível a chuvas, trovoadas, negociações com ruralistas, acordos eleitoreiros e quejandos.
Presidente Lula, é mais do que importante ter em mente que, nesta encruzilhada,
não é só a sua palavra que está em jogo. É o nosso destino comum, como passageiros que somos do planeta Terra.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
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Um comentário:
É fundamental que o Presidente Lula segure esta onda da redução de 80% senão o naufrágio será total
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