Funcionários categorizados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) chegaram à conclusão em análise confidencial filtrada para a imprensa de que o Irã “adquiriu informações suficientes para estar em condições de planejar e produzir uma bomba atômica operacional”.
O relatório elaborado por expertos da AIEA – e que se vale igualmente de consultas com especialistas de fora da agência – se intitula ‘Possíveis Dimensões Militares do Programa Nuclear Iraniano’. Na sua introdução, tem o cuidado de enfatizar que as conclusões são tentativas, e subordinadas a ulterior confirmação de dados. Os referidos elementos de juízo procedem de agências de inteligência e das próprias investigações dos técnicos da Agência.
Conforme se verifica, no entanto, as conclusões do citado relatório vão bastante além das posições tomadas por diversos governos, inclusive a dos Estados Unidos. Para alcançar essa nova avaliação, muito contribuíu a revelação da existência de um novo centro de enriquecimento nuclear, que está sendo construído nas vizinhanças da cidade santa de Kom.
Quanto ao estágio em que atualmente se encontram os iranianos, não há concordância entre as agências competentes dos Estados Unidos e dos demais países ocidentais. Com efeito, há dois anos atrás as agências de inteligência estadunidenses publicaram pormenorizado relatório que concluía haver Teerã sustado em 2003 os trabalhos para obter arma nuclear. A esse respeito, perguntado acerca da possibilidade de que o Irã estivesse agora mais perto da produção de artefato nuclear, o general James L.Jones, Assessor de Segurança Nacional da Presidência, reconfirmou a avaliação anterior.
No entanto, as agências do Reino Unido, França, Alemanha e Israel discordam da conclusão americana, ao afirmarem que o esforço nuclear iraniano foi retomado. O relatório da AIEA fornece elementos acerca da diversificação da coleta de informações pelo Irã para o eventual fabrico da bomba. Assim, além dos aportes colhidos de expertos nucleares avulsos e fora dos controles nacionais (rogue), o governo iraniano tem procedido a extensas pesquisas e a testes voltados para modelar os componentes do artefato.
O relatório em tela não fornece indicação, contudo, sobre o nível do progresso alcançado. Esboça o quadro de um complexo programa, sob a direção do Ministério da Defesa, “voltado para o desenvolvimento de carga nuclear a ser transportada (delivered) através do emprego do sistema missilístico Shahab-3”. Trata-se de um foguete de médio alcance, que pode atingir o Oriente Médio e partes orientais da Europa. O aludido programa teria sido encetado em princípios de 2002. Segundo o parecer de técnicos,o Irã terá dominado a parte mais difícil, que é de enriquecer o urânio que possa ser utilizado como combustível nuclear.
A divulgação do relatório da AIEA resulta de uma luta burocrática interna entre o diretor ElBaradei (cujo mandato está terminando) e a equipe técnica da Agência (com o auxílio colateral de governos interessados em aumentar a pressão sobre o Irã).
ElBaradei desde muito considera como contraproducente uma estratégia de confrontação contra o Irã. Dado o progressivo enfraquecimento de um diretor-geral que esteja de saída, não surpreende que a questionável proibição imposta por ElBaradei em tema tão sensível tenha sido afinal descumprida.
Há limites, na verdade, para a aceitação da suposta boa fé do governo de Ahmadinejad. A descoberta do sítio subterrâneo nas montanhas dos arredores de Kom – um local de extensos e sofisticados trabalhos de construção adrede mantido em segredo pelas autoridades iranianas – contribuíu de forma decisiva para minar qualquer subsistente credibilidade de Teerã no particular.
Dado relevante do relatório é de que o Irã dispõe de informação suficiente para planejar e produzir um operacional artefato de implosão nuclear, com base em urânio altamente enriquecido. As armas fundadas no princípio da implosão são consideradas modelos avançados, se comparadas com a rudimentar bomba lançada pelos Estados Unidos sobre Hiroshima.
Consoante a apreciação dos expertos da AIEA, é muito provável que a informação indispensável para planejar e fabricar uma bomba de implosão tenha vinda de ‘fontes externas’. Por enquanto se ignora o que em realidade implicam tais ‘fontes externas’. Tratam-se de cientistas avulsos, dispostos a colaborar por motivos venais, ou seria eufemismo para abranger entidades e/ou países comumente associados nos ‘usual suspects’ (suspeitos habituais).
De qualquer forma, depois da estranha e otimista avaliação de bom comportamento dispensada pelos órgãos de segurança americanos na era de Bush júnior, não será segredo para ninguém que irá aumentar a pressão sobre a Administração Barack Obama, no seu afã de impedir a ulterior deterioração da manutenção do desarmamento nuclear em situação tão problemática quanto a do Oriente Médio.
Afinal de contas, excluídos possivelmente a velhinha de Taubaté, o presidente Lula e ElBaradei, não restam muitos partidários da tese de que o regime teocrático do Irã e o seu controverso presidente Mahmoud Ahmadinejad estejam desenvolvendo um artefato com intenções exclusivamente... pacíficas.
(Fonte: International Herald Tribune)
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
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