Em terra europeia, onde se costuma apresentar em postura mais ambientalista, o presidente Lula descartou a proposta da Greenpeace de que o governo brasileiro adotasse até 2015 a meta do desmatamento zero.
Com a costumeira habilidade, Lula eludiu a essência da questão, eis que optou por uma resposta literal ao objetivo colocado pela ONG ambientalista. “Mesmo que o Brasil fosse careca (i.e., não tivesse nenhuma cobertura vegetal), sempre vai haver alguém que vai cortar alguma coisa”.
Semelha óbvio que a meta do desmatamento zero é compatível com abates esporádicos, cuja magnitude tenderia para zero, em especial num país de dimensões continentais como o Brasil. O desmatamento zero, se desejamos preservar a nossa floresta, com a sua biodiversidade, e os seus incontáveis recursos naturais, terá de ser o fim perseguido por um governo ambientalista.
Dessarte, qualquer outra variante – como as metas do Plano Nacional sobre Mudança de Clima, de redução do desmatamento, com 70% até 2017 e de 80% até 2020 – será sempre em teoria insatisfatória, porque em uma extensão finita e já bastante diminuída, continua a admitir a continuação do abate, em quantidades substanciais.
Admitir, como hipótese, o desmatamento zero seria dar uma feição não-derrotista e pró-ativa à política ambientalista.
Lula, com a sua ficha da MP da grilagem e do decreto de explotação das cavernas, sem embargo de suas mesuras (para efeito externo) pró-meio ambiente, dificilmente estará em condições de passar neste teste.
Dadas as projeções climáticas, a crescente preocupação de governantes (sobretudo os europeus) com a falta de compromissos mais vinculantes de países como a China e outros (inclusive o Brasil, que continuam a apegar-se às exceções válidas desde Kyoto, para os emergentes), não se poderá excluir que sejam adotadas medidas mais coercitivas do que os apelos genéricos até hoje vigentes.
O Brasil, em termos de desmatamento, é considerado o vilão ambiental, responsável por 20% das emissões globais de gases do efeito estufa. Nesse sentido, é importante assinalar que JBS-Friboi, Marfrig e Bertin, principais produtores de carne no mundo, se comprometeram publicamente, desde 22 de junho último, a não mais comprar carne de gado criado em áreas desmatadas.
Dessarte, se a reunião em Copenhague for um fracasso, os desmatadores e seus simpatizantes (ocultos ou não) carecem de saber que dificilmente safarão as respectivas economias nacionais, com uma tal atitude regressiva e irresponsável.
Cansados talvez de pregar para ouvidos moucos – ou para aqueles que se associam de boca às políticas ambientalistas, mas que, em regressando aos respectivos palácios, logo tendem a esquecer os piedosos compromissos assumidos – principia a ser articulado o que se poderia chamar de ‘protecionismo do bem’.
Assim, além da vertente nacional, existe outra, aplicável ao comércio exterior. O primeiro ministro sueco, Friedrik Reinfeldt, lembrou que a Suécia e mais três países europeus adotam imposto sobre o consumo de carbono. São impostos nacionais, que funcionam como estímulo para que as empresas e os consumidores procurem produtos sem incidência de taxa por consumir menos carbono.
O reverso da medalha desse tributo interno, seria tarifa de importação – iniciativa da França – a ser cobrada de produtos provenientes de países que não tenham assumido compromissos de redução de gases.
Desse modo, tais países – e não necessariamente apenas por motivos de proteção do meio ambiente – estariam provendo o arsenal ambientalista de argumentos não apenas suasórios (e dependentes da concordância dos transgressores), mas também de armas de efeito mais concreto, tornando mais caros os produtos oriundos daqueles países reputados vilões em termos da frágil atmosfera de nosso planeta.
Assim, toda vez que se planejar a construção de mais uma termoelétrica, ou a cumplicidade com alegres desmates promovidos por frentes ruralistas, ou autorizar a construção de rodovias através da mata virgem, os mais avisados disporão de melhores instrumentos de convencer os estultos inimigos do ambientalismo de renunciar a promover uma ruina não só anunciada para eles próprios, mas também para os demais co-nacionais.
Afinal, a reação os fará entender que, quer queiram ou não, estamos todos no mesmo barco.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
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