Sediar as Olimpíadas em 2016 nasceu como um sonho, diante da natural descrença, motivada não só por fracassos anteriores, senão pelo fato de que nenhuma cidade da América do Sul houvesse sido escolhida até agora como sede das Olimpíadas.
Não obstante, o profissionalismo da apresentação de sua candidatura pelo Brasil, o desenvolvimento de nossa economia e, por fim, haver sabido transformar a suposta fraqueza em argumento determinante – trouxe afinal a prestigiosa competição para um Continente até então não honrado com a sede olímpica.
Dentre as cidades sul-americanas não existe nenhuma que se lhe possa comparar em beleza natural e tampouco em entusiasmo e simpatia de sua gente. O Rio de Janeiro tem dois notórios pontos fracos, a segurança, e as deficiências em infraestrutura, notadamente na sua rede de metrô e em hotelaria. O Rio soube convencer os membros do C.O.I. através dos recursos que promete destinar para corrigir tais problemas – que foram, de resto, os mais altos com relação às outras três cidades concorrentes. O futuro dirá se saberemos superar o chamado cenário do Pan-2007, e corresponder à expectativa.
A Votação
No primeiro turno de votação, Madri saíu na frente, com 28 votos, seguida pelo Rio de Janeiro, com 26 e Tóquio, com 22. Para surpresa de muitos, e consternação da delegação estadunidense, Chicago seria a primeira eliminada, ao totalizar somente 18 votos.
O resultado representou derrota pessoal para o Presidente Barack Obama. Por primeira vez, um presidente americano viria pessoalmente tentar convencer os delegados do COI. Tudo indica que Obama perdeu boa ocasião de imitar seus predecessores, com que evitaria o inútil desgaste da tentativa de salvar a candidatura de Chicago.
Nesse primeiro round, a política dos delegados do COI se orienta muitas vezes não em votar na candidata preferida, mas em manter na competição outras cidades. Foi o que teria ocorrido com a votação do grupo asiático em Tóquio.
Na segunda votação, o Rio de Janeiro, confirmando o seu favoritismo, passou a 46 votos, Madri, 29 votos, e Tóquio, 20. A votação do Rio aumentava de vinte sufrágios e Madri, apenas de um.
Eliminado Tóquio, no terceiro turno entre Rio de Janeiro e Madri, a contagem seria de 66 a 32, em favor do Rio. Como se verifica, portanto, a tendência dos sufrágios, anunciada no segundo round, se confirmaria e se reforçaria no terceiro.
Assim, quando o Presidente do COI, Jacques Rogge, fez o anúncio da escolha do Rio de Janeiro, o resultado refletia uma vitória folgada, com o apoio de dois terços dos delegados.
Fatores do triunfo.
Já foi mencionada a acurada preparação da candidatura brasileira, não só no acompanhamento junto ao COI, mas também na qualidade da apresentação para os delegados votantes. Menção é devida ao presidente do COI brasileiro, Carlos Nuzman. No que concerne ao indispensável apoio governamental, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a figura emblemática. Com o seu empenho pessoal, a sua tangível ligação com o esporte, a sua presença em Copenhague, e o seu hábil discurso aos delegados, o presidente Lula se constituíu em um fator determinante do êxito do Rio de Janeiro em ser designado como a sede olímpico de verão para 2016.
A par do Governador Sérgio Cabral e do Prefeito Eduardo Paes, teve inegável importância a colaboração na reta final de Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos. Também auxiliaram, dentre outros, o ex-Presidente da Fifa, João Havelange, o escritor Paulo Coelho e o tenista Gustavo Kuerten.
Os Compromissos Assumidos.
A persuasão logrou alcançar a meta colimada, vale dizer, a eleição do Rio de Janeiro pelo COI para a sede das Olimpíadas em 2016. Muito depende do Governo Federal, Estadual e Municipal para que se viabilize a realização do grande certame. Estou certo de que o Presidente Lula não deixará de cumprir com a palavra empenhada.
O problema que se me depara é que o Rio tem longa caminhada pela frente. Deve começá-la o quanto antes, não só para que os consignados compromissos sejam atendidos, mas também para que o evento esportivo seja um efeito multiplicador para a população do Rio de Janeiro e do próprio Brasil.
Por ser longa a caminhada, a parcela dos atuais governantes, se relevante, carece de ser inserida no contexto maior. Tudo dependerá, em última análise, da vontade do eleitorado do Estado do Rio de Janeiro. A escolha dos candidatos para o governo do Estado e do Município, se me afigura determinante. Se escolhermos, como se fez em passado recente, demagogos populistas, teremos dado um passo determinante para malbaratar os propósitos de melhorar o Rio de Janeiro.
Já temos a experiência amarga de que os políticos brasileiros são bons de promessa. A facilidade com que resolvem problemas decenais que confrontam a sociedade nos meses que antecedem à eleição representa uma séria advertência para que não se desperdice esta oportunidade de instrumentalizar as Olimpíadas para um escopo além da sua efêmera duração. Que ela seja a ocasião feliz de um autêntico progresso de nossa sociedade: no transporte, na infraestrutura hospedeira, na despoluição da baía de Guanabara, da Lagoa e das demais lagoas da Barra, e da construção e reforma de 33 instalações esportivas.
Pelo engajamento da população e pelo voto, nós podemos contribuir para tornar realidade o futuro que hoje desejamos.
sábado, 3 de outubro de 2009
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Um comentário:
Esta vitória do Rio deveria ser reconhecida por todos, por diversos motivos, mesmo no caso dos que preferiam não haver Olimpíada.
Contudo, mais uma vez o discurso sectário e ufanista do Presidente e alguns outros (notável exceção do governador e do prefeito do Rio) azedou um momento de festa. Para ele o mundo e traidores internos (a oposição e sua obsessão FHC) conspiram contra o Brasil na derrota e na vitória. Para Lula, quem não estiver com ele ou não lhe der tributo não é brasileiro. Porque será que ouço menos ironia nesse discurso do que outras pessoas que viveram ou lembram-se do "Brasil ame-o ou deixe-o"? Duas perguntas: qual será o verdadeiro legado de Lula para o Brasil? E qual o papel do Brasil no legado de Lula?
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