Ainda sob o impacto da tragédia de sábado, dezessete de outubro, mas trasnscorridos três dias, os erros e as idiossincrasias que fazem parte dos atores e das circunstâncias coadjuvantes vão podendo ser, pelas entreabertas cortinas da observação, lobrigados não tão confusa e atabalhoadamente quanto nas primeiras horas.
A Polícia do Estado, na pessoa do respeitado Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, não ignorava a iminência do ataque por facção rival ao Morro dos Macacos. Tampouco desconhece a polícia as possibilidades dos calibres dos armamentos dos traficantes.
Esse Onze de Setembro carioca, nas palavras de Beltrame, não aconteceu por acaso. Certamente, não bastam as afirmações do Presidente Lula da Silva ao declarar ‘Vamos limpar a sujeira que essa gente impõe’.
E por que não bastam ? Pela simples empírica razão que tais assertivas são o eco de outras também estentóricas e igualmente ... vazias. É triste, confrangedor mesmo asseverar, porém a experiência está aí para advertir-nos de que não devemos dar tento a esses ocos compromissos, que tão só buscam não desafinar dos acordes do presente, inda que a nada conduzam, se não for outra melancólica adição às vãs promessas de Lula e quejandos.
O que dirão os burocratas que negaram ao Estado e a sua Polícia a utilização de armamento que a legislação e os regulamentos de tempos mais ordenados não prescrevia ao uso das polícias militares estaduais ? Que dirão aos familiares dos policiais estupidamente mortos no cumprimento do dever ? Nada, porque se sabe esgrimir com traços e garatujas raivosas o lápis vermelho da denegação, não costumam vir a público sequer lamentar os descaminhos e as consequencias das proibições de ranço tacanho e corporativo.
Entretanto, cumpre dizê-lo, a carapuça não se assenta apenas em tais cabeças. Outras estão aí e muito óbvias. Porque não carece de recuar ao primeiro obstáculo, sobremodo se o bom senso nos grita aos ouvidos que não faz nenhum sentido que se imponham tais esdrúxulos vetos, se bandidos e traficantes negociam e escolhem com requintes de consumidores exigentes armas de equivalente ou inda de mais pujante poderio ? O Secretário e o nosso viajor Governante não só poderiam, mas deveriam obtemperar ao Senhor Presidente Lula da Silva (e ao seu Ministro da Defesa, Nelson Jobim) que é passada a hora de esconder-se em impedimentos castrenses. Ao divisar os fumegantes restos do frágil Esquilo, quem disso se atreverá a duvidar ? Se já nesta vigésima quinta hora desde muito nos despedimos dos bons, velhos tempos do paradigmático Mickey Mouse ?
A esse respeito, em ‘Caiu a Medalha’, o delegado Alexandre Neto escreve sentidas e vividas palavras. Citá-lo semelha imperativo: “Qualquer força de segurança no mundo jamais autorizaria a incursão de uma aeronave inadequada (sem blindagem apropriada) numa área conflagrada e munida de armas de grosso calibre, prontas para abatê-las caso os marginais se vissem acuados.”
E não é, porventura, cortantemente grave a conclusão do articulista: “(...) (O)s governos de nosso estado – tanto os que já passaram como o atual – não se preocupam muito com a segurança pública cotidiana, pois sabem muito bem que qualquer evento internacional que ocorra em nossa cidade, além do seu caráter breve e passageiro, receberá o total apoio da União, com emprego maciço das Forças Armadas e da própria Força Nacional de Segurança – que findam por amealhar o verdadeiro legado do acontecimento, cabendo às Polícias Civil e Militar as migalhas do evento (...). Assim foi com o Pan e a Rio-92, e com outros encontros internacionais sediados em nossa Cidade Maravilhosa.” (meu o grifo)
O Secretário José Mariano Beltrame, que é policial federal, decidiu vir a público para reclamar da falta de cooperação do Governo Federal : “O Rio precisa que o governo federal assuma plenamente a responsabilidade legal de combate à droga. Se não assume, nós assumimos. (...) Tráfico de drogas é com a Polícia Federal. Infelizmente no Rio, não é. A Secretaria de Segurança faz as duas coisas aqui. Ou melhor, faz as três: a polícia de prevenção e de investigação, a polícia de combate ao tráfico de drogas e a polícia de proximidade, de reconquista dos territórios.”
Beltrame reclamou da burocracia para a aquisição de equipamentos – a secretaria só pode comprar armas após a autorização do Exército. Sobre os múltiplos entraves da burocracia: “Preparei mais de quarenta cabines blindadas, com ar-condicionado, micro-ondas (...) e geladeira. Aí contestaram um aspecto formal da licitação. Estão todas guardadas. (...) Quando decidirem se posso colocar as cabines, colocarei. Mas como não se decidem, os jovens policiais continuam indevidamente protegidos.”
São observações de quem afronta a refrega, e lamenta com carradas de razão não dispor de todos os elementos.
Não seria o caso de o Governador Sérgio Cabral, que mantém tão boas relações com o Presidente Lula, fazer-lhe sentir que passou o momento dos ditos tonitruantes, e é chegada a hora de a nossa proverbial onça beber água ? Sua Excelência há de encontrar tempo, nos cerca dos 50% dos dias em que se demora na Capital Federal.
E por outro lado, não esqueçamos o loquaz Presidente do Supremo Tribunal Federal - que ontem cobrou atuação mais consistente do governo federal no combate ao crime organizado. Não seria igualmente o caso de através do Conselho Nacional de Justiça a que preside, ser acionada a morosa Justiça para afastar os empecilhos à ação mais segura dos bravos helicópteros, para melhor enfrentarem a artilharia do tráfico, municiada esta pela lôbrega trindade de corrupção, prevaricação e banditismo organizado ?
( Fonte: O Globo )
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário