domingo, 18 de outubro de 2009

O que fazer com o elefante na sala de jantar ?

O Governador Sérgio Cabral colhe hoje a inelutável consequência de décadas de incúria e negligência, com respeito às favelas do Rio de Janeiro, seu crescimento descontrolado, e o continuado aumento do poder do tráfico.
A segurança é o calcanhar de Aquiles dos governadores, a quem incumbe em grande parte a luta contra o crime, seja organizado, seja desorganizado. A ajuda eventual do governo federal, através da força nacional, em muitos casos não é aceita por motivos políticos, como se o auxílio da União fosse confissão de fraqueza.
Por outro lado, ainda existem poucos presídios federais de segurança máxima. As cadeias estaduais sofrem de superlotação e de escasso controle sobre os presos, sobretudo aqueles mais perigosos.
Tampouco a legislação penal e a processual constituem instrumento eficaz, em grande parte dos casos. A excessiva benignidade na concessão das liberdades provisórias vem colocando nas ruas traficantes, a quem basta uma licença de saída para desaparecerem na ilegalidade.
No caso da cidade do Rio de Janeiro, o desastre de ontem constitui na verdade um irônico resultado, eis que a administração do governador Cabral e seu Secretário de Segurança se tem empenhado nessa inglória campanha contra um crime já equipado e organizado por decênios de demagogia, de prevaricação e de irresponsável negligência.
Permitiu-se – e não é de hoje, repito – que se entrincheirassem nos morros do Rio de Janeiro poderes paralelos, alimentados pelos vícios da cidade, municiados pela corrupção generalizada e valendo-se da incompetência das autoridades estatais.
A invasão de ontem do Morro dos Macacos foi uma tragédia anunciada. Apesar de informada na véspera, a Secretaria de Segurança não teve condições de deter o ataque, repetindo-se o quadro já prenunciado na Rocinha, em 2006.
No desastre de ontem, por primeira vez, o tráfico abateu um helicóptero da polícia. Assinale-se que esta aeronave dispõe de chapa blindada na sua parte inferior. Não foi bastante para a artilharia do tráfico que, pelo visto, possui armas antiaéreas de calibre suficiente para incendiar o helicóptero. Somente a habilidade do piloto evitou tragédia maior do que a morte de dois PMs, na tripulação de seis.
Há mais aspectos a serem sublinhados. Como os acontecimentos recentes em São Paulo e ainda mais recentes na Bahia têm mostrado, o crime se organiza também na estratégia, tendo as facções porventura em dificuldade o apoio de reforços, acionados por meios próprios. Não é de estranhar a impressão e o terror provocados no bairro de Vila Isabel, cujos logradouros vazios bem indicavam quem se julgava com vantagem na refrega.
A par disso, a destruição de oito ônibus reflete igualmente a incapacidade das forças da ordem de protegerem os meios de transporte, com a inevitável consequência da virtual interrupção desse serviço por bastante tempo, dada a compreensivel retirada de mais veículos das ruas pelas concessionárias.


Considerações Olímpicas.

Se a tragédia de ontem tivesse ocorrido há pouco mais de duas semanas atrás, não é necessária nenhuma bola de cristal para prever que a candidatura do Rio de Janeiro, sem embargo de todo o esforço presidencial, governatorial e prefeitorial, teria sido abatida ingloria e rapidamente por qualquer uma das demais três metrópoles que disputaram com o Rio a Sede Olímpica de 2016.
Ontem, a queda do helicóptero, derribado pela artilharia do tráfico, mostrou às autoridades do Rio de Janeiro – e ao Presidente Lula – que dentre as metas a seram atingidas até 2016, não dá mais para esgrimir por meio de parolagem inconsequente a concreta ameaça do tráfico e do crime organizado no Rio de Janeiro.
Não dá mais para armar aldeias Poniatowski, quando a czarina passar. Tampouco é hora para o discurso vazio de que as coisas estão sob controle.
Parafraseando o slogan que levou Bill Clinton a conquistar a presidência, “Olha pra segurança, ô cara !”
Não sei como, mas alguém terá de tirar o elefante da sala. Aparentemente, há tempo para isso. Mas que não se enganem. O tempo não é mais para tergiversações, nem conversa fiada.
Senão, corremos o risco de vexames antecipados.

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