Parece que a atribuição pelo COI à cidade do Rio de Janeiro da sede das Olimpíadas de 2016 está sendo confundida por um número crescente de personalidades e de observadores na cena internacional como se fosse a unção simbólica do Brasil por atingir um novo status de potência no cenário internacional.
Se não se deve desmerecer do galardão – e da responsabilidade – recebidos, como alguns se apressaram em fazê-lo, tampouco se afigura seja o caso de acolher a óbvia distinção como se representasse o signo ineludível de uma súbita ascensão de nível internacional.
Esse cumprimento pode vir de fontes simpáticas ao Brasil e à sua influência no mundo, mas também será encontradiço em outras partes, em que a suposta homenagem constitui apenas o degrau para coonestar exigência descabida. A esse respeito, José Manuel Durão Barroso, Presidente da Comissão Executiva da União Europeia, nos dá significativo exemplo. Durão Barroso, louvando-se em nossos avanços internacionais, se apressa em cobrar do Brasil um papel mais responsável nas negociações diplomáticas, comerciais e ambientais.
Por força de um alegado novo status, Durão Barroso cobrou “mais empenho do Governo brasileiro para destravar as negociações da Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio, e de acordo de livre comércio Mercosul-UE." Segundo ele, as negociações estão emperradas por causa da dificuldade de acesso aos mercados industriais dos países em desenvolvimento.
Quanto às questões ambientais, Durão Barroso disse querer que o Brasil se alie aos europeus em torno de compromisso concreto sobre redução de gases poluentes. Para adoçar as inúmeras exigências, Barroso defendeu as gestões do governo Lula em Honduras, dizendo que apoia “todos os esforços brasileiros para resolver o problema”.
Durão Barroso deu especial ênfase a que o Brasil ajude a pressionar o Irã a ser mais transparente em relação ao seu programa nuclear. “Espero que o presidente Lula utilize não só a força e a influência do Brasil, mas também sua própria autoridade política para avançarmos no objetivo da não-proliferação nuclear”.
Nesse tom magisterial, o presidente da Comissão da União Europeia assinalou que “ser maior significa ter maior responsabilidade, não é só mais poder e influência.Com a influência vem a responsabilidade.”
Talvez seja útil recordar ao presidente Durão Barroso que, a par de uma suposta acrescida responsabilidade, os indícios de maior presença internacional (um dos líderes do G-20, a circunstância de sermos atualmente a oitava potência econômica, o prestígio internacional do Presidente Lula, a vitória na eleição de Copenhague quebrando um velho tabu) pressupõem igualmente um certo respeito. Partindo do braço executivo da União Europeia, uma das potências econômicas que mantém a próprio mercado agrícola sob intricada teia protecionista, surpreende a desenvoltura de Durão Barroso, quiçá animado pela sua recente re-confirmação à testa da Comissão Executiva, com que se abalança a exigir prestações, como um cavaleiro sem medo, e paradoxalmente das terras de là bas, as sempre atenciosas antigas possessões coloniais.
E é aí talvez que more o perigo do novo status do Brasil. Não nos apressemos em aceitar o galardão, porque é mister não esquecer que o Brasil se acha em meio a um processo.
Para que o país do futuro dele afinal se assenhoreie, muitos outros índices precisam ser alcançados. Então nossa natural grandeza não mais careceria de ser alardeada a cada instante.
domingo, 4 de outubro de 2009
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