terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Manaus é a capital com cinco vezes mais mortes

           Por força da Covid-19 e de sua terrível chusma de variantes (cepas) no corrente ano  de 2021, Manaus apresenta cinco vezes mais mortes por milhão de habitantes, do que a média das capitais brasileiras nesse tenebroso ano.  

             Nesse contexto,  a escassez de oxigênio, que atingiu o seu terrível ápice em catorze de janeiro último, quando a falta do vital insumo nos hospitais da capital  levara a mortes por asfixia.  Essa falta de oxigênio que desencadeou o drama  naquele dia catorze já se fazia temer faz muito. Qualquer um pode entender o que significa uma morte por asfixia em um hospital como o de Manaus, sob o látego de uma terrível doença como a Covid-19, que se apossa dos pulmões dos infelizes ali hospitalizados. Foi o que ocorreu a catorze de janeiro, rasgando o drama vivido pelos doentes, faltos de oxigênio e portanto presas da asfixia pela incapacidade do nosocômio de dispor daquele insumo vital, indispensável para a humana subrevivência e que uma série de fatores também cruelmente humanos viera a determinar  o próprio fim sob a angústia, as constrições de  insidiosa e crescente sufocação, que é decerto um dos modos mais cruéis e bárbaros de dispor de um fim existencial de um ser humano. Não se trata de uma câmara para combater a morte, mas a recuar diante de sua face terrível e destarte precipitá-la  pela conjunção de fatores a princípio incompreensíveis de chofre adentrem o espaço hospitalar que, sem qualquer intervalo, nega ao moribundo o que é sinônimo da vida e, por certo, com a existência se confunde, que é capacidade de respirar, melhor de inspirar, e de sentir nos pulmões ressurgir a vida, a existência, que o ser humano pela respiração associa à própria existência. Todo mergulhador encara com naturalidade essa transição a que esse esporte condiciona o atleta. Mas o cenário se transforma e de forma tão brusca quanto cruel, quando a dificuldade não é ocasional, e venha a ser determinada por um eventual acidente de percurso.

             Aqui estamos em outro ambiente. A cruel enfermidade enrijece os pulmões e lhes dificulta a sua capacidade  de inspirar, de absorver o oxigênio que é sinônimo de vida, a tal ponto que o enfermo de covid, com seus pulmões afetados, carece da vital ajuda para superar esse cruel suplício que é a dificuldade de trazer o ar puro para as próprios pulmões e artérias, a ponto de que o enrijecimento infligido representa um obstáculo a cada minuto mais soez e mais cruel, como se o respiro se transformasse em cruel tortura, na faina cada vez mais árdua e pesada de trazer o bendito oxigênio para os respectivos alvéolos pulmonares.  Não há morte mais cruel do que aquela por asfixia, eis que representa um sádico gesto da natureza de negar o elixir precioso da vida `aquele que atravessa há muito uma dura faina, que é a de trazer o ar bendito para o interior cada vez mais recalcitrante dos pulmões respectivos. 

               As mortes por asfixia - como as torturas - são naturalmente proscritas nas nações civilizadas. Aos hospitais que são as fábricas da vida, repele a possibilidade de que um paciente possa vir a ter como causa mortis a asfixia. Estamos por isso habituados a ver nos hospitais - nas casas da saúde ! - o aceno, senão alegre, pelo menos resoluto de que a medicina, mais do que promessa de vida é o seu próprio conduto, e não estamos mais a encarar as medievais caricaturas das casas de saúde, em que a presença da morte, por mais insistente, cruel  e sinuosa que ela seja, deve ser repelida em todos os campos, inclusive aquele que no ser humano é rasgado pelo choro da criança renascida, e que assim marca a sua entrada nesse mundo. Sabemos que a medicina  não é só sinônimo de vida e de promessa existencial. Ela é também o espelho da determinação do médico, que é o do reflexo da inconformidade com  o que significa atraso, regresso, sofrimento e tudo o mais que possa prender o ser humano a uma condição inferior àquela que motivou o sacrifício de sua mãe, o labor de seu pai, a alegria da própria família e tudo o mais que tenha a ver com a saúde e a vida do ser humano.

                      É de perguntar-se, portanto, o que levou a retardar demasiado essa carência desse insumo  vital para o ser humano que é a capacidade de respirar. A sensação trazida a todo o ser humano que seja por causa fora de seu controle afastado da capacidade de inspirar o ar existencial que é o arauto da vida não pode ser procrastinada, atrasada ou prejudicada de qualquer forma. É uma sensação muito humana e que nunca será demasiadamente humana aquela de inspirar com gosto e paixão o ar puro que a todos se oferece e que a ninguém pode ser negado.

                      Uma palavra final para trazer de volta os médicos não só aos hospitais, mas também ao seu ministério, que  é o da saúde. Já fizemos experiências demais, sem falar das inúteis postergações.  Não estamos diante de uma vil gripezinha, como em hora de rara  infelicidade, se veio proclamar nas horas iniciais desse percurso presidencial.

                      É hora  de chamar os médicos não só aos seus gabinetes de trabalho, mas a sentar-se, como o fez com distinção Mandetta, na chefia do Ministério da Saúde.  O Brasil é grande demais e também importante demais para a própria gente para que continue a conviver com sucessores não-médicos daquele que primeiro assumiu  nesse Governo Bolsonaro o nobre encargo de cuidar da saúde do Povo brasileiro.

                       Essa pandemia custa demasiado a partir e ela não irá por golpes de magia, nem com falsos medicamentos.  Tampouco podemos conviver com a postergação dos problemas e dos consequentes desafios  em que a classe médica sempre mostrou capacidade, firmeza e determinação.

                        Não é mais hora de postergações e de atrasos que não mais se justificam. O Povo brasileiro faz por merecê-lo e a hora é essa, e devemos fazê-la acontecer.

                        Chamemos sem mais delongas e atrasos alguém que esteja à altura desse enorme desafio.

                         Senhor Presidente Jair Bolsonaro,  é hora de chamar para a Saúde um médico à altura de  desafio que tem levado brasileiros demais !

                

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