quarta-feira, 25 de março de 2020

Bolsonaro culpa mídia por clima de 'histeria'


             
        Em seu terceiro discurso em rádio e TV sobre a Covid-19, o presidente Bolsonaro continuou a manter posição que acintosamente discrepa daquela dos governadores e do grande público nacional.

            Diante desse enorme desafio à coletividade brasileira - desafio este que é mundial, como o demonstra, dentre outros, a mortandade na Itália, notadamente na Lombardia, e a crise no atendimento já refletida na Espanha - é de estranhar que o presidente se obstine em falar de "gripezinha", o que semelha incompreensível  deboche de um flagelo, que na História só vê levantar-se a horrenda figura da chamada gripe espanhola, que seria o carrasco de uma geração, em época de ainda profunda ignorância quanto aos meios científicos de debelar o fenômeno que foi o terror espalhado pelo contágio dessa peste, a praga dos morticínios e das incríveis condições da higiene nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial. Dentre os mais velhos, quem não terá antepassado que haja caído vítima desta maldição das trincheiras e do cruel e traiçoeiro despertar de tais epidemias, em época de escassos, quase nulos, meios tecnológicos para lidar com tal terrível desafio, no sentido toynbeeano[1] do termo?

             Há várias teorias daqueles que não temem mergulhar nas profundezas dos raciocínios, por vezes delirantes, que se empenham em trazer para as áreas do bom senso e da consequente imperiosa necessidade de arrostar esse desafio à nossa cultura e à nossa civilização. Se todas as gerações se vêem ameaçadas por tal flagelo que vem abatendo mais pessoas na Itália do que na China, ninguém tem o direito de debochar desse monstro que é o cronavirus, que tem carregado, no seu sinistro carrinho, os cadáveres de tantas crianças, homens e mulheres.
               A tal respeito, vendo essas mostras levianas que partem de personalidades em que se estimaria encontrar as palavras do bom senso, me vem à mente a comparação entre a crítica ao fechamento das escolas e o menosprezo à chamada "gripezinha".

                Não trepido um só instante entre preferir o bater das caçarolas e das panelas pelo Povo justamente enraivecido, a essas posturas negacionistas irresponsáveis, que, ao parecer, julgam possível servir-se da morte como parceira.

( Fontes: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo )




[1] Arnold Toynbee, autor de A Study of History.

Nenhum comentário: