quarta-feira, 11 de março de 2020

A chamada Gripe Espanhola


                              
      Quem, em pessoas de minha geração, não ouviu na infância comentários e observações de seus familiares sobre a chamada gripe espanhola ? Ainda criança, ouvia de meus avós e de minha mãe - a morte por acidente aeronáutico de meu pai não o inclui entre essas testemunhas do pós-primeira guerra - a menção a vários parentes - entre eles a primeira esposa (Maricota)  de meu avô materno Antonio Mendes Filho - que tinham sido levados  por esse flagelo da segunda década do século vinte.

        Com efeito, as comparações se acumulam, mas a pandemia da gripe espanhola de 1918 continua a ser a mais letal da história, muito à frente do novo coronavírus. Depois da carnificina das trinchei-ras, ela matou pelo menos cinquenta milhões de pessoas em todo o mundo, o equivalente a cerca de duzentos milhões hoje, sendo meio milhão delas habitantes dos Estados Unidos.
          Talvez o mais alarmante é que a maioria dos mortos pela doença estava no auge existencial - geralmente entre vinte e quarenta anos- e não idosos ou pessoas com a imunidade enfraquecida.
           Segundo assevera o New York Times, mesmo com a atmosfera de medo - com o uso de máscaras cirúrgicas, armazenamento de alimentos e assembleias públicas sobre a prevenção da doença - e possíveis consequências econômicas similares às de 1918, a realidade médica é bem diversa.  "Enfermeiras costumavam dar de cara com cenas que remetiam  às dos anos da praga do século  XIV", segundo escreveu o historiador Alfred W.Crosby em "America's Forgotten Pandemic".

             Como assinala o artigo do New York Times, em 1918, o mundo era um lugar muito diferente.  Os médicos sabiam que existiam vírus, mas nunca haviam visto um - não existiam microscópios eletrônicos, e o material genético dos vírus tampouco havia sido descoberto.  Hoje, sem embargo, os pesquisadores não só sabem como isolar, mas conseguem identificar sua sequência genética, testar medicamentos antivirais e desenvolver vacinas.  No passado, era impossível testar pessoas com sintomas leves para que pudessem ser colocadas voluntariamente em quarentena. E era quase impraticável fazer o rastreamento do contágio, pois a gripe parecia infectar - e causar pânico em - cidades e comunidades de uma só vez.  Isso sem falar na escassez  de equipamento de proteção para os profissionais da saúde. Tampouco existiam aparelhos com respiradores, que podem ser usados por doentes graves hoje.   

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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