quarta-feira, 25 de março de 2020

A crise do vírus vai atrapalhar Putin ?


                 

        O coronavírus tenderá a atrapalhar os planos de gospodin Putin que pretendia transformar, dentro de seu estilo autoritário-personalista, o corrente ano de 2020 em uma espécie de apoteose de suas duas décadas no poder.

           Dada a situação internacional, e os avanços da Covid-19 em outros países,  cresceu o desconforto - sobretudo na Rússia - e a suspicácia no exterior, diante do baixo número de infecções pelo vírus, afinal os segmentos competentes do Estado sob as ordens de Vladimir Putin acabaram por reconhecer  no dia 24 do corrente que tal se deve à subnotificação por falta de exames.
            O estado presidido por Putin, dentro da linha autoritária por ele privilegiada, seria candidato natural para que - ao contrário da grande maioria dos países - houvesse uma diminuição estatística da temível presença da Covid-19. Na mão do estado de Putin pesa o legado autoritário que obedece não aos interesses da população, mas àqueles de suposto "prestígio", dentro do formato do Estado "forte" que caracteriza a atual governança.
              Assim,  o governo russo admitiu  a 24 do corrente, que tal se deve à subnotificação por falta de exames.  Nessas condições, disse o prefeito de Moscou, Sergei Sobianin, coordenador  nacional dos esforços contra a pandemia: "O número de doentes é significativamente mais alto.  Ninguém sabe (...), afirmou, segundo  a Tass."
              As atuais características da governança de Putin explicam o mistério - ou melhor dizendo - a baixa valorização da realidade estatística. Não surpreende, portanto, que o Estado russo, com sua herança autoritária, valorize a subnotificação dos casos da doença, dadas as deformações estatísticas condicionadas por considerações de "prestígio" nacional.  No artigo de Igor Gielow se aponta o caso do jornalista Iuri - que pede para não revelar o sobrenome - sendo exemplo da aplicação da chamada subnotificação: apesar de ter sintomas (febre e tosse por duas semanas), foi informado de que não seria testado para a Covid-19,porque os seus sintomas eram leves e os kits são destinados a quem for internado.   

                 Sem embargo, a pandemia originária da China (Wuhan) promete atrapalhar as cerimônias relacionadas com as celebrações ligadas ao ciclo Putin. Com a usual manobra na Duma, que a Corte Constitucional chancelou, ele poderá disputar um quinto e - quem sabe? - um sexto mandato à frente do Kremlin.  A prorrogação no poder exigirá um referendo. Marcada para 22 de abril, mas o porta-voz Dmitri Peskov já disse que a consulta será adiada devido à emergência da pandemia. Quem sabe em junho, Putin verá atendida a sua aspiração (que é superar a permanência no poder do camarada Jossif  Stalin).

                    A outra data - também importante para gospodin Putin - é o nove de maio, que celebrará os 75 anos do triunfo da União Soviética sobre  a Alemanha nazista  na IIª Guerra Mundial. O quê fazer  diante da epidemia da Covid-19 e a imprevisível situação sanitária ?  Como organizar as festividades - com a presença de líderes estrangeiros?  Especula-se na fórmula de colocar quinze mil soldados e quatrocentos veículos militares nas largas avenidas moscovitas, com a condição de não haver público...

( Fonte: Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: