sábado, 29 de setembro de 2012

D. Dilma: e a Economia, hein ?


                                
          A visão da Presidenta Dilma Rousseff em matéria econômica não corresponde decerto a seu preparo na matéria. Ao invés de seu predecessor – e criador – Luiz Inácio Lula da Silva, que, por não ser do ramo, deixava a coisa correr por conta do respectivo Ministro da Fazenda, dona Dilma, como é de seu feitio, gosta de ter a última palavra em tudo.
        Antes de pôr isso às claras, convém esclarecer que, com Antonio Palocci na Fazenda, e Henrique Meirelles no Banco Central, o primeiro mandato de Lula adequou-se à orientação do antecessor FHC. Como o PT ‘esqueceu’ convenientemente as suas posições passadas, a confiança dos mercados corresponderia ao dever de casa bem-feito, e com os bons índices econômicos e financeiros, o Brasil de devedor se transformou em credor do FMI, a par da estabilidade do real tornar a nossa divisa um dos valores crescentes no mundo econômico e financeiro internacional.
       No entanto, no segundo mandato, com o afastamento de Palocci, por causa de um primeiro escândalo (o do caseiro) e as características do sucessor Guido Mantega, se as grandes linhas permaneceram, principiaram a repontar ocorrências que antes não se entreviam. Na sua ânsia de aumentar os recursos do Tesouro, Lula  tomou gosto com as ditas ‘capitalizações’ do BNDES, que discrepavam da anterior ortodoxia fiscal.
      Veio em seguida a ‘marolinha’ que refletia a crise financeira global, desatada em quinze de setembro de 2008 com a falência do Banco Lehman Brothers. De repente, do mar de almirante de antes se passou às borrascas da Grande Recessão nos Estados Unidos e dos diversos estouros de caixa bancária na União Europeia, a partir da falência da Grécia e das sucessivas intervenções do BCE e do diretório europeu Merkel-Sarkozy para evitar o temido calote helênico.
      A economia brasileira dera mostra de  solidez que muito diferia das crises precedentes (e que indicavam  radical modificação para melhor  em nossa situação ), mas obviamente o entorno internacional mudara, com os consequentes reflexos macro-econômicos.       
      É inteligível a timidez do novo governo Dilma Rousseff em não versar – excluída leve menção no discurso de posse – perante o novo Congresso sobre a urgência de reformas para o Brasil, de que a fiscal e a política sobrelevam às demais. Eleita em segundo turno, o seu mandato correspondia a uma delegação do Presidente Lula. Posto que dos cueiros de manifestação inequívoca do eleitorado decorra  poder  considerável para os novéis mandatários – para o mal no caso do confisco de Collor –as areias correm rápido na mágica ampulheta. Se não são do estampo de Roosevelt, os cem dias marcam não a afirmação mas a inação, e volta a reinar a paralisia.
     Ao invés de valer-se do atacado, Dilma, por natureza ou necessidade, preferiu a minudência do retalho. É incontestável a sua capacidade gerencial, mas ela tem assinalado a própria ação em marcada minudência.
    Dessarte, retirou do Banco Central com o afastamento de Henrique Meirelles também a impressão de autonomia. Por força disso, o B.C. se descobriu sob a asa da Fazenda,  o que troca as bolas e confunde ou condiciona as respectivas prioridades.
    Se dermos preferência a minudências, corre-se o risco de implementá-las muito além de o que interessar possa às conveniências da economia brasileira.
    O governo parece ignorar o peso dos tributos. O cartaz do impostômetro é o retrato de uma permanente derrama – aquela, lembram-se ?, a ser usada pelos inconfidentes contra a coroa lusa sob as luzes da revolução americana.
    Os desequilíbrios na arrecadação conjugados com a esdrúxula feudalização do sistema político, com ministérios sob cancela fechada e outros da quota da Presidente, seriam um teatro do absurdo de Ionescu se não implicassem, na verdade, em enorme desperdício do sacrifício de pessoas jurídicas e físicas ex vi do ralo da corrupção.
    Se estamos diante de um desafio do porte da sobrecarga fiscal, e se a Administração age como se o varejo pudesse dar conta do atacado, estaremos mantendo um modelo que é apenas um avatar de  economia que continua na toada do agro-negócio com suas exportações de matéria prima.
    As intervenções governamentais para alavancar a indústria automobilística além de favorecerem as feitorias estrangeiras – com as remessas de lucro da mais-valia aqui colhida para minorar as dificuldades das matrizes no primeiro mundo – são tópicas e sequer cobram providências para que o efeito poluidor dos veículos seja pautado por regras ambientais europeias.
    Enquanto oneram as planilhas de nossas indústrias contas de eletricidade inchadas pela pantagruélica tributação, e a crise se estende à indústria manufatureira brasileira, a avidez dos poderes executivos – federal, estadual e municipal – não será estancada por analgésicos de emprego eventual – como nas desobrigações temporárias – mas em uma readequação de realidades. Com efeito, a nossa veia para a imitação – que já foi objeto de sátira por nossos vizinhos – deveria ser aplicada à vera, no que concerne às taxas de consumo, que, se comparadas com o primeiro mundo, são mais um exemplo do burro patrimonialismo de Pindorama.
     Daí, o Banco Central ora prevê crescimento de 1,6% na economia, e inflação de 5,2 % para este ano. A debilidade se mostra, igualmente, nas reduções do superavit primário, e na complacência com o subreptício retorno da inflação – que as donas de casa experimentam cada semana nos supermercados. O festival das taxas de fim de ano, com o seu  ágil gatilho de incrementos automáticos, alimenta o dragão da inflação.
     Com a farra grevista – agora exacerbada pelo pouco apetite do Planalto em coibir a demagogia sindical – o pensar pequeno das minudentes espertezas de Mantega (V. o endividamente do Tesouro que nos chega também pela porta dos fundos) se soma a uma geral impressão de consumado ativismo detalhista que desaparece em um quadro geral de um país com dois retratos coexistentes: o da propaganda oficial, que vemos nos filmecos laudatórios das benesses do assistencialismo, empreguismo e das onipresentes quotas; e o da realidade não-palaciana, com expressões como custo-Brasil, que nos trazem outra realidade, que o cidadão brasileiro vê nos hospitais, no transporte público, e na segurança entregue aos mistérios de Deus.

 

( Fonte subsidiária:  O Globo )  

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