segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Notícias do Front (4)

                                    
Manifestação em favor do juiz Garzón

     Milhares de pessoas participaram no domingo de passeata em apoio ao juiz Baltasar Garzón, que enfrenta três processos no Tribunal Supremo. Afastado de suas atividades desde 2010, Garzón corre o risco de pena de suspensão da magistratura, em até vinte anos, consoante referi no blog Os processos contra o juiz Garzón.
     Se dependesse do apoio popular, Garzón sairia fortalecido dessa provação. Um cartaz exibido pelos manifestantes madrilenhos dá ideia de como é vista a ofensiva do Tribunal Supremo: É prevaricação  processar o juiz Garzón.
      Entrementes, se acumulam os arrazoados jurídicos para acabar com a carreira de Baltasar Garzón. A terceira ação, relativa aos cursos ministrados em New York, segundo a acusação privada – não há acusação pública, eis que a promotoria se recusou a participar da farsa – implicaria não só cumplicidade, mas também extorsão continuada, o que, de acordo com a legislação espanhola, é  delito que acarreta pena de  prisão.
     Por outro lado, mais um juiz do Tribunal Supremo, Manuel Marchena, é acusado de suspeição pela defesa de Garzón, eis que acolheu a queixa das chamadas escutas ilegais no processo contra a Gurtel, e agora também atua na questão do Santander.
     Como se vê, o exemplo do juiz Luciano Varela se repete em outro processo. Acumulam-se, portanto, os indícios que apontam para  sentença contrária não só ao juiz Garzón, senão ao sentir da maioria da sociedade civil.
     Em outras palavras, um verdadeiro auto-de-fé na antiga terra da Inquisição.

Resistência Tibetana

      O Império do Meio enfrenta uma vez mais a insatisfação das nacionalidades subjugadas. Com o controle das comunicações, inclusive de telefone e da internet, as autoridades chinesas  procuram evitar que a perturbação se alastre, como aconteceu nos motins de Lhasa em 2008.
      Neste mês de janeiro, quatro tibetanos se auto-imolaram, ateando fogo às vestes. A repressão das tropas chinesas não tardou em intervir, diante da continuação de movimento de protesto que já provocara onze mortes desde março de 2011.
     O arrocho do poder colonial atua notadamente através do cerceamento das comunicações, e da presença maciça de tropas em áreas como Chengdu, na província sudoeste de Sichuan. Se não basta a tentativa de intimidação, se passa à violência letal, dentro de escalada que visa  conter a revolta através da aplicação, se possível gradual, dos métodos da cartilha neocolonialista.  
     Em alguns pontos os destacamentos chineses atiraram contra os manifestantes. Segundo fontes chinesas, dezoito civis e um policial morreram, em atos de violência supostamente perpetrados contra os migrantes Han, cuja crescente presença exacerba os ânimos nos naturais da terra, os tibetanos. Como se sabe, a etnia Han, preponderante na China, é a ponta de lança do colonialismo interno no Império do Meio.
    Consoante o ponto de vista tibetano, essa mesma violência matou muitos habitantes do Tibete, pela conjunção dos detestados chineses Han e as forças de segurança.
    Em suma, o resumo da resistência tibetana chega ao Ocidente após atravessar a rede de controle e triagem disposta por Beijing em uma das regiões-problema da República Popular da China.
    É uma verdade relativa que, a despeito dos esforços imperiais de amordaçá-la e sufocá-la, grita sempre mais forte, no destino reservado aos povos submetidos ao tacão e ao fuzil do dominador estrangeiro.
    Nesse contexto, será acaso muito difícil entender o porquê de tibetanos que persistam em sacrificar-se, enquanto gritam ‘ Longa vida ao Tibete e ao Dalai Lama’?


A Violência Religiosa no Iraque


     O Iraque tem sido palco de uma série de atentados, que lançam dúvidas sobre as perspectivas políticas do país.
     Já criara perplexidade a acusação do Primeiro Ministro Nuri al-Maliki, que é xiita, contra o sunita e   primeiro Vice-Presidente Tariq al-Hashemi. Acoimado de fomentar o terrorismo, al-Hashemi se homiziou a princípio na região autônoma do Curdistão.
    Os sunitas, como se sabe, constituem importante minoria no Iraque. Para a construção da democracia iraquiana, é de presumir-se, por conseguinte, que o chefe do governo tenha interesse em fomentar se não a concórdia, pelo menos um entendimento pacífico entre as seitas islâmicas.
    Como o comportamento de  Nuri al-Maliki parecia tendente a alijar os sunitas do poder, esses se retraíram, através de boicote das sessões do Parlamento. Assinale-se que o bloco sunita tem a maioria relativa na Assembléia, mas não lograra formar governo.
    Agora, a Iraqiya – o bloco sunita – decidiu terminar o seu boicote, e voltar ao parlamento. Surge assim a possibilidade de que, em encontro nacional, as três principais facções étnicas iraquianas (xiitas, sunitas e curdos) discutam sobre a reconciliação nacional.
     Como evoluirão tais negociações depende do bom senso dos líderes envolvidos. Em dezembro, os sunitas se retiraram do parlamento, ao cabo de uma série de detenções de seus representantes e de funcionários, assim como a prisão de antigos auxiliares do Partido Baath do finado Saddam Hussein. Viram em tais ações uma tentativa do Primeiro Ministro Maliki de reforçar o respectivo poder, com  a marginalização dos sunitas.
      Também provocara inquietude gestos de Maliki, interpretados como eventual intento de aproximação com líder de corrente xiita radical, Moqtada Sadr.
       Essa mistura de parlamentarismo ocidental e de práticas reminiscentes do Velho Oeste não semelha a receita apropriada para formar  base sólida de governança. Os ódios sectários não se afiguram tampouco o caminho mais adequado para construir a democracia no Iraque. Será que George W. Bush estava errado quando desencadeou a guerra do Iraque, com bilionário prejuízo para o Tesouro estadunidense, movido, consoante declarou, do desejo de trazer a democracia para aquele conflagrado país ?


( Fonte: International Herald Tribune )

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