sábado, 14 de janeiro de 2012

A França e a nota da S&P

                             
        A agência de classificação de risco Standard  & Poor’s rebaixou ontem a nota de nove países da zona do euro. Dentre eles, é a França que desperta maior atenção. Caíu da classificação mais alta (AAA), baixando um degrau (AA+). Na zona do euro apenas quatro países conservam a cotação máxima: Alemanha, Holanda, Finlândia e Luxemburgo.
       A nota atribuída pelas principais agências de classificação de risco (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch) constitui, na verdade, apenas um indicativo para o investidor e, nesse sentido, a sua eventual influência não é automática, dependendo de uma série de fatores condicionantes no mercado.
      A esse respeito, semelha interessante assinalar que foi também a S&P que rebaixou a nota máxima antes atribuída à economia americana, quando da confusão armada pela oposição republicana (com fortes tintas do ultradireitista Tea Party) no que tange ao aumento do teto da dívida pública americana, e a consequente possibilidade de que o Tesouro estadunidense se visse em situação de inadimplência (default).
       Como se sabe, a S&P rebaixou de um ponto a nota da economia da superpotência, o que como agora assinala o Ministro das Finanças francês, François Baroin, é a mesma classificação que passou a ter o seu país. Assim, entende ele que, se não é  boa notícia, tampouco será uma catástrofe.
       Se as notas das agências de risco tendem a elevar a taxa dos juros a serem pagos pelo devedor, essas variações nem sempre são automáticas. Tome-se, por exemplo,as obrigações do Tesouro Americano que continuam a serem privilegiadas pelos inversores pela segurança proporcionada, a despeito de não ter os Estados Unidos a nota máxima.
      Outro aspecto que mostra o caráter assaz relativo dessas notas foi a  classificação atribuída por tais agências aos chamados CDOs (collateralized debt obligations), que estão na raiz da crise das hipotecas subprime. Tais certificados, ideados pelos financistas de Wall Street, juntavam tranches de dívidas hipotecárias (de mutuários de menor renda, classificados de subprime), com nota B (especulativa). Por um passe de mágica, os maços coletados  dessas obrigações, chegaria a obter a incrível nota máxima das agências classificadoras.  Com tal prestigioso carimbo, a atestada e suposta falta de risco seria uma das causas para a sua aceitação por ávidos e não muito prudentes inversores como o Banco Lehman Brothers e a resseguradora AIG (esta posteriormente salva pelo Tesouro americano). 
      O Presidente Nicolas Sarkozy tem sido o principal parceiro da Chanceler Angela Merkel durante a atual crise da zona do euro. O virtual diretório franco-germânico não será afetado, ao contrário do noticiário da imprensa. Na medida em que os dois líderes se conhecem bem, assim como as virtualidades das respectivas economias, há manifesto exagero em asseverar que a situação ficaria agora nas mãos de Berlim e de sua Chanceler. O papel protagônico da Alemanha se tem afirmado com prévios entendimentos da parte gaulesa. Cerceados pelas regras da unanimidade ainda prevalentes, as alianças têm de ser costuradas com habilidade, de forma a ganharem a força inercial que constrangerá as demais economias mais débeis a se conformarem com o rigor fiscal da Merkel, temperado pelas concessões inevitáveis.
      Semelha difícil, outrossim, alvitrar desde já que a rebaixa da França venha a prejudicar eleitoralmente  Nicolas Sarkozy. O seu principal adversário na disputa presidencial deve ser François Hollande, o candidato dos socialistas. Embora Hollande não seja nenhum François Mitterrand, restará determinar se as medidas por ele  preconizadas – que se diferenciam da propugnada austeridade do atual diretório europeu – representariam um risco para a construção da União Europeia.
       No momento, novas dificuldades colocadas pelo governo helênico em seu proposto acordo com os bancos parece ser o obstáculo da vez. Que se espera se possa superar como os demais, dada a aparente falta de alternativas razoáveis. Pois a quebra falimentar da Grécia seria um desastre muito maior, com consequências imprevisíveis.



( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo )    

      

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