terça-feira, 15 de março de 2011

O que fazer da Energia Nuclear ?

Pode servir como matéria de reflexão, e não só quanto ao Japão, a presente tragédia, comparada em gravidade com a de 1945, por ocasião dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
O terremoto que causou o duplo ataque à região costeira norte-oriental daquele país, teve o respectivo índice da escala Richter corrigido para 9.0
Sob o aspecto sísmico, tanto terrestre, quanto marítimo, verifica-se igualmente macabra remarcação dos totais de mortos (2.275) e desaparecidos (3.118). Existem, por outro lado, 1.889 feridos.
Infelizmente, todas essas estatísticas não são dados finais, mas apenas registros de progressão cujo término ainda não está decerto fixado. Com o avanço dos trabalhos de escavação e desobstrução dos escombros causados pelo maremoto/terremoto, o número dos desaparecidos tenderá em parcela substancial a aumentar o cômputo das vítimas fatais.
Diz muito da violência da tsunami e do reduzido pré-aviso decorrente de sua celeridade, que o número de mortos ascenda a tais níveis, mesmo em país tão assinalado pela organização e pelas medidas de preparação para calamidades como o Japão. O desafio terá sido demasiado grande.
A catástrofe japonesa enseja, no entanto, outras ilações. Provoca espécie a localização da central nuclear de Fukushima. Em país no qual as tsunamis não são raridade, se afigura bastante questionável que a central nuclear tenha sido construída em um sítio tão vulnerável às vagas de maremoto. Se se acrescentar o risco maior do terremoto, é difícil de entender a localização, dada a dupla exposição a estas duas ameaças, com a agravante do acrescido poder destrutivo da tsunami.
Também terá contribuído para a maior vulnerabilidade a superada tecnologia empregada pelas centrais de Fukushima. Houve nos três reatores da Usina Nuclear de Fukushima Daiichi problemas no funcionamento dos sistemas de resfriamento. A crise foi mais grave no reator nr. 2, o que impediu a manutenção debaixo d’água do núcleo do reator. Falharam repetidas tentativas de injetar água do mar nos reatores, o que determina a queda do nível de água no receptáculo. É crucial a manutenção da água nesse continente de metal do reator, para evitar a explosão e o derretimento das varetas (rods).
Em função dos danos provocados pelo terremoto e a tsunami, que afetaram sobretudo o sistema de resfriamento, aconteceram três explosões nos reatores e um incêndio que acentuou deveras a gravidade da crise. A situação no complexo da usina de Fukushima se deteriorou ainda mais. Não há dúvida quanto ao incremento nos níveis de radiação. Assim, o desastre de Fukushima passou do nível quatro anterior para o nível seis, da A.I.E.A, superando o desastre de Three Mile Island, e acercando-se do ponto máximo (7), atingido em Tchernobyl.
Os operadores do complexo nuclear de Fukushima , segundo disse um diretor da Tokyo Electric Power (a agência responsável) ‘estão basicamente em completo pânico’. E acrescentou: ‘Eles estão em total confusão. Eles não sabem o que fazer’.
Há contatos em alto nível entre o governo japonês e o americano, dando a clara impressão de achar-se sem condições de lidar com a crise, e de encontrar soluções técnicas eficazes.As autoridades nipônicas apelam em caráter extremo – e não se pode duvidar da inerente e genuina dramaticidade dessa instância – para a ajuda estadunidense. Pela descrição acima referida do estado de espírito dos operadores in loco, é de augurar-se que o auxílio americano nesta emergência ainda logre chegar com toda a eficácia necessária.
Como se vê, as vantagens proporcionadas pela energia nuclear – sobretudo para os países desprovidos de outras fontes de energia – podem ser anuladas por crises como a de Fukushima, com a irradiação e contaminação de largas áreas, e o consequente perigo para as populações radicadas na circunvizinhança das usinas.
O desastre de Fukushima acendeu a luz vermelha para as decantadas qualidades da energia nuclear, luz vermelha esta que tem levado governos responsáveis a repensar as respectivas políticas energéticas.
O Brasil, país que dispõe de abundantes fontes de energia hidrelétrica ainda disponíveis – além de tantas outras fontes não-convencionais - carece de reconsiderar com toda urgência os seus planos de construção de usinas nucleares. Além de Angra 1 e Angra 2, programa-se o funcionamento de Angra 3 para 2015. Causa espécie que, diante de sinalizações de tal gravidade, as autoridades continuem a entoar loas para a segurança de nossas usinas nucleares.
O movimento ambientalista deve ser mais incisivo no repúdio a esse tipo de energia, com os perigos que apresenta. Se nações como a Itália souberam dar um basta à utilização dessa tecnologia, é mais do que tempo de nos conscientizarmos do problema.
Para o Brasil o recurso à energia nuclear é um brinquedo desnecessário e potencialmente nefasto.

( Fonte: International Herald Tribune e O Globo )

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