segunda-feira, 28 de março de 2011

Dilma: Primeiro Trimestre

O mês de março se acerca do fim, completando o primeiro trimestre de Dilma Rousseff. As pesquisas apontam para boa aceitação, na mesma linha do Presidente Lula, no segundo mandato. Ao invés do antecessor – e criador -, a Presidente Dilma não fala muito. A sua presença, no entanto, tem sido marcante, para quem pensa poder ignorar-lhe a atenção. Veja-se, por exemplo, o caso do Presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), que acreditou lograr inserir artigo que prorroga os contratos de concessão de lojas comerciais em todos os aeroportos. O veto por Dilma da esperteza politiqueira de Maia – que o líder Candido Vaccarezza antecipara – sublinha a postura presidencial dentro de sério propósito de realizar geral reforma na administração de nossos aeroportos. Em termos de gerência, a Presidente não carece de treinamento no cargo. Para tanto, ela dispôs do segundo mandato de Lula. Por outro lado, os primeiros cem dias – que se completam em abril – atravessam período em que os feriados virtuais – e o carnaval não é decerto o menor deles – poderiam representar um empecilho para o trabalho. A imagem de Dilma – que brilha nas colunas – não semelha haver sofrido muito com tais interrupções. Do lado da política externa, assinalam-se reajustes relevantes, como a normalização das relações com Washington e a primeira correção quanto ao ‘amigo Ahmadinejad’. Nesse capítulo, preocupa-me, no entanto, a suposta ênfase de Dilma na ‘diplomacia de resultados’. Recordo de Ministro das Relações Exteriores, indicado pelo Presidente Tancredo Neves, e que pretendeu caracterizar a própria gestão sob esse slogan. Cedo ter-se-á arrependido do rótulo que não convive bem com a atividade diplomática. Ao contrário de outras atividades, a diplomacia sói ser exercício paciente, em que se privilegia a filosofia básica e o modus faciendi. Demasiado açodamento na marcação de metas e objetivos tende, em geral, a dificultar-lhes a eventual implementação. Por isso, a discrição - conjugada com habilidade e paciência - é a norma básica do negócio das relações exteriores. Muito alarde sobre resultados só serve para tornar mais pesado o fardo do diplomata – e provocar desnecessárias cobranças. A imagem de Presidente tampouco se afigura um produto imediato. Coerência, tenacidade e firmeza não se provam na pena ligeira de um jornalista. Por isso, o retrato para os pósteros não se obtém em corridas de cem metros, mas exige a aturada resistência de um corredor de fundo. Quantos presidentes não encetaram o mandato sob gerais aplausos, para saírem de cena, ou quase inadvertidos, ou debaixo de apupos? Por isso, não nos precipitemos em coroar de louros a presidente que mal inicia longa, árdua e traiçoeira jornada. Nessa trajetória, a chefe da nação será pesada em muitas balanças. Ela se houve bem nos primeiros entreveros com o Congresso e na convivência com uma equipe (?) ministerial, da qual grande parte não teria sido escolhida por ela. Para a respectiva imagem futura, contará e muito o modo com que souber livrar-se dos pangarés e dos não afinados com o seu programa. Na sua rota, antevejo escalas problemáticas. O Presidente Cezar Peluso pode igualmente não estar julgando adequadamente a nova titular do Palácio do Planalto. O seu anúncio de que vai conversar com ela sobre o exame prévio pelo Supremo das leis havidas como ‘problemáticas’ parece indicar que ele conta incrementar o poder do STF à custas das prerrogativas constitucionais da Presidente da República e do Congresso. Outro sinal vermelho, também localizável na Suprema Corte, se acende no caso de eventual nova decisão do Supremo, revendo a anterior, e determinando a extradição de Cesare Battisti. Já desperta espécie a manutenção da prisão deste refugiado político pelo presidente do Supremo. Entre os problemas que vão cair no colo de Dilma – pelas negaças e contemporizações de seu antecessor – está o da sorte de Cesare Battisti. Manda a jurisprudência e a decisão do Presidente Lula – inda que na vigésima-quinta hora – que, de acordo com a tradição democrática brasileira, seja dada acolhida por nossa terra, à postulação desse antigo asilado do Presidente François Mitterrand. Não ficaria bem para o Brasil – e muito menos para sua primeira Presidenta – que Battisti seja escorraçado para cárcere italiano, sob a dúbia justificativa de uma sentença à revelia, baseada na suspeita denúncia de um delator premiado.

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