domingo, 15 de março de 2009

Os bônus dos diretores da AIG - como interpretá-los ?

Edward Liddy, Diretor-Presidente da AIG, a mega-seguradora que teria falido se não fosse a ajuda recebida do Governo americano, anunciou que seriam pagos a diretores US$ 165 milhões, a título de ‘bônus e compensação’.
Poderíamos interpretar com simples desfaçatez estas vantagens atribuídas a executivos. É claro que este elemento existe, e talvez ele já nos auxilie a compreender melhor o porquê da gestão ruinosa desta companhia, e de outras mais. É preciso ser muito alienado para pensar em distribuir benefícios a diretores de uma companhia que só não fechou as portas por haver recebido 170 bilhões de dólares do Governo federal.
É de presumir-se que esses diretores tenham considerado ético desviar os 165 milhões da gratificações dos acima citados 170 bilhões.
No entanto, esse comportamento evidencia que muito ainda necessita ser feito e não apenas no campo das injeções de fundos. Simplesmente estamos diante de uma subcultura perniciosa, que carece de ser erradicada. Essa subcultura foi permitida não só por Alan Greenspan, que, a pretexto da liberdade do mercado, se recusou a fiscalizar, quando chefe da Federal Reserve, toda a farra do setor financeiro informal (shadow), que está documentada na série sobre a Crise Financeira Americana, mas também terá sido facilitada pela filosofia da desregulamentação, abraçada tanto pela Administração Clinton quanto pela de Bush júnior.
Seja a Administração Obama, seja o Congresso carecem de agir com energia, para erradicar esta nefasta subcultura, cuja ganância e irresponsabilidade estão na raiz de muitos dos problemas ora arrostados não só pelo setor bancário, senão por toda a economia estadunidense.
Em nenhum outro momento haverá oportunidade tão favorável para coibir tais práticas. Não é concebível que a Federal Reserve e a Secretaria do Tesouro venham transferindo tão vultosas somas do dinheiro do contribuinte americano para essas companhias – cujos diretores não primam por gestão séria e responsável – e não encontrem meios e modos de impedir abusos e extravagâncias dessa ordem.
Não faz muito, os presidentes da GM, Ford e Chrysler, quando convocados pelo Congresso - cuja ajuda pleiteavam para suas empresas à beira da bancarrota -, estes senhores não se pejaram de viajar para Washington cada um no jato executivo de sua quase falida companhia. Pela atitude agora dos diretores da AIG – que está sob intervenção federal – aquele comportamento anterior se afigura como um simples pecadilho, diante da desarrozoada reivindicação desses executivos da AIG, que parecem ainda não haverem despertado para a nova situação criada pela crise.
O futuro dirá se Congresso e Governo Obama serão capazes de mostrar que a situação realmente mudou. Porque, senão, como definir um tal desperdício de dinheiro público ?
Engraçado, discorrendo sobre o estapafúrdio comportamento dos diretores americanos, acudiu-me ao pensamento que talvez essa crassa alienação e desprezo pela opinião pública também possam ser encontrados em outros cenários mais próximos de nós...

Um comentário:

Rafuili disse...

A subcultura perniciosa dos CEOs de instituições financeiras e das "Big three" está intimamente ligada à "cultura", por assim dizer, do ganho fácil, da gratificação imediata, da satisfação pessoal através do consumo material sem limites. Pessoas e valores são relativizados até a quase irrelevância, dependendo, claro, do valor em questão e da condição geográfica e sócio-econômica dos indivíduos. Não é um mal que possa ser atribuído exclusivamente à sociedade norte-americana, embora esta pareça ser o exemplo mais triste dessa degradação.