terça-feira, 17 de março de 2009

O Brasil e a Crise

Ao contrário das declarações presidenciais ( Crise? que crise? vai falar com o Bush !), depois transformadas na hoje famigerada “marolinha”, desde muito, é forçoso reconhecer, a ficha da realidade caíu, desvelando, impiedosa, o caráter intempestivo das palavras do Presidente Lula.
Não se pode negar que a intenção presidencial visava a trazer nota de otimismo, e não agregar nenhuma previsão agourenta para cenário já bastante complexo. Esta preocupação foi decerto louvável, mas neste ponto o estilo preponderou, e o resultado não terá sido aquele desejado.
Seria um pouco tarde, para que se considere a oportunidade de avaliar a conveniência de que a maneira de ser do Presidente – sua espontaneidade, sua preferência pelo improviso - seja de algum modo matizada. Cabe, no entanto, a indagação do sentir que terá sido passado a Lula por seus assessores mais diretos no campo econômico-financeiro, tanto os oficiais (Mantega, Meirelles) quanto os oficiosos (Palocci e Delfim Neto).
Como não semelha crível que o Presidente Lula se haja manifestado sem auscultar os próprios colaboradores, sempre nessa linha de raciocínio, causa espécie que personalidades com tamanha familiaridade com tais questões, não tenham manifestado ao Primeiro Mandatário o seu temor de que a crise financeira – tão prontamente ressentida na Europa e na Ásia – também não chegasse até cá de forma um pouco mais agressiva do que a decantada ondinha do irrefreado otimismo de Sua Excelência. E por que razão me faço esta pergunta ? Simplesmente porque não me passa pela cabeça que esses senhores – não exatamente neófitos na matéria – hajam entretido a absurda previsão do que do alto de suas inexpugnáveis reservas de divisas, a fortaleza Brasil iria, sobranceira, ignorar os efeitos da crise.
A globalização não é um slogan, mas uma realidade. Por isso, se os leitores m’o permitem irei adiante, assumindo a suposição acima. Dessarte, se tais assessores eram de tal opinião, não se pode descontar, porém, que existissem nuanças nas respectivas opiniões. Talvez um que outro tenha sido mais acomodatício, mais possibilista, porém mesmo assim, com variações de ênfase nenhum experto que se preze nesta matéria poderia (salvo por aulicismo agudo) ter induzido o Presidente a acreditar que a crise não afetaria de modo sensível ao Brasil.
Pulando agora para a viagem do Presidente Lula à Casa Branca de Obama – tudo o mais são penduricalhos – é relevante assinalar um lugar-comum da diplomacia. Se visitas presidenciais não fazem milagres, tampouco devem ser desmerecidas por ineficazes. Pois elas, como neste caso, podem indicar uma tendência, da qual serão suscetíveis de cristalizar-se posições e iniciativas afins ou conjuntas. Do mesmo modo, nas alturas das reuniões de cúpula, o simbolismo é um aspecto a que não cabe desconhecer e muito menos desfazer.
Assim, queiram ou não a oposição e os colunistas de plantão, esta visita presidencial a Obama é relevante não só para o Brasil, senão para o seu Chefe de Estado, eis que o Presidente Lula foi o terceiro a ser recebido na Casa Branca. Só o futuro dirá se tal aponta para novo e profícuo relacionamento. Desde já, no entanto, não se afigura possível olhar para outro lado, e fingir que de nada importante ocorreu.

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