quarta-feira, 18 de março de 2009

Imagem e Violência

É conhecida a preocupação dos meios turísticos com a imagem do país. Se não me engano, na série deste blog já houve análise da questão. Se não é minha intenção ora desenvolver o tema, acredito oportuno assinalar para o leitor a minha principal ressalva ao problema da imagem. Assim, se uma campanha, seja privada, seja oficial, se proponha melhorar a imagem respectiva da atividade ou do país, a pergunta que se pode colocar será em que medida se respeitará a realidade objetiva de que a imagem não é mais do que projeção.
O Brasil pela sua natureza, praias, recantos apraziveis e famosos, fornece matéria suscetível de motivar o interesse do turista estrangeiro, e, em especial, europeus e americanos, pela oportunidade de escapar dos rigores do inverno boreal e gozar das delícias do verão (e outono) tropical. Que belas e apetecíveis fotos propiciam os ambientes paradisíacos das praias do Nordeste, do Rio de Janeiro, de Búzios, de Santa Catarina, entre tantas outras!
A dificuldade que pode se apresentar para esta divulgação é que esses mares, essas praias, não existem no vazio. Além das palmeiras, das brancas e finas areias, das águas turqueza, plácidas e convidativas, há populações que, em geral, os fotógrafos não costumam incluir em seus instantâneos.
Nada contra tal exclusão. Todo turista, por mais alienado que seja, terá presente que compensará as passagens aéreas mais caras do hemisfério sul com os preços digamos mais atraentes de hospedagem e alimentação. O povo brasileiro é alegre, hospitaleiro e, em muitos casos, nas áreas de menor poder aquisitivo, vê no visitante estrangeiro fonte subsidiária para auferir recursos honestos em ampla gama de atividades legais.
Não há de surpreender a ninguém que haja gente que não esteja exatamente de acordo com este approach.
Ultimamente, os jornais e a televisão nos tem trazido muitas imagens e notícias que não casam muito bem com a visão idílica dos cartazes das agências de turismo. Não me reporto ao turismo sexual, que chega a motivar estranhas e amiudadas frequências aéreas, mas a outro tipo de atividade, decerto mais violento, que se tem especializado em assaltos conjuntos a indefesos hotéis de várias estrelas.
Nesse contexto, penso no brutal arrastão em prazerosa pousada de Búzios, realizado por oito bandidos armados, que cortaram a inesquecível temporada de trinta turistas, a maior parte argentina. Qual a imagem que transmitirão eles para amigos e familiares, ao retornarem para seus países ? O que representa um encontro traumático desse gênero para sua imagem da segurança e da eficácia da polícia local ?
O mesmo cabe dizer do crime contra um europeu em praia do Rio Grande do Norte. Uma cousa se pode garantir: se para os jornais brasileiros, após o dia imediato, a ocorrência deixará de ser notícia, a ferida levará mais tempo para cicatrizar na terra do turista.
Tampouco estas investidas criminosas constituem ataque inesperado em um Brasil de que a população, morigerada e trabalhadora, não tem de se preocupar com a face hedionda da violência. Para tanto, se desejássemos viver esta experiência, teríamos de voltar para os anos cinquenta. O retorno tranquilo para casa, caminhando na calada da noite. Quem se animaria a tal prova, nos dias que correm ?
Por isso, só há de surpreender às polícias militares estaduais que se reserve aos estrangeiros, mutatis mutandis, a sorte diuturna que cabe ao brasileiro. Aqui se ouve muita vez a expressão de que é Deus quem se ocupa da segurança. Não se pensa decerto no Jeová, demasiado presente do Velho Testamento, mas numa divindade algo longínqua, no teísmo da profissão de fé do Vigário da Savóia, de Jean-Jacques Rousseau.
A cada eleição, ouvimos as promessas de nossos governantes de que as coisas vão mudar, e a segurança será priorizada. Talvez queiramos acreditar, mas é dificil, diante dos antecedentes.
Excetuado o Bope do Capitão Rodrigo, a PM do Rio de Janeiro só se aperfeiçoa nos comunicados em que procura explicar a própria incapacidade de prevenir e dominar a violência. O mesmo quadro se repete pelos brasis afora.
Assistimos ao armamento desenfreado do crime organizado. Quem não terá lido as risíveis declarações das várias corporações que, ao invés de admitir a sua parcela de responsabilidade, só cuidam de promover um cinico jogo de empurra ?
Que terra é esta em que as autoridades não intervêm para assumir as próprias responsabilidades, bem como rasgar as fantasias, dar nome aos bois, e apurar as culpas ?
Não é que tais autoridades – da mais alta para baixo – sejam taciturnas e falem pouco. Pelo contrário. Muitas vezes, falam muito, até demais, como se fossem comentaristas, espectadores privilegiados de realidade com a qual deveriam se ocupar ex-officio. Apreciaríamos que falassem menos e agissem um pouco mais. Não em aumentar o superavit primário. Cada acréscimo neste instrumento dos banqueiros representa menos educação, menos saúde, menos transporte e menos segurança.
Que não se espantem, portanto, senhores, se a imagem para inglês ver ora se desfigure e algo desta realidade vá respingar nos turistas estrangeiros.

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