O presidente Donald
Trump expressara pouco alarme há cinco semanas atrás. Pensou que o número de
sessenta casos de coronavírus podiam servir de indicativo. Enganou-se feio,
porque confiou em que a epidemia estivesse sob controle.
Fiando-se em que tinha a lidar com uma
gripe comum, errou de modo a comprometer as próprias possibilidades de
reeleger-se para o segundo mandato.
Já na terça-feira, de súbito, o quadro
mudara. Mais de 187 mil casos tinham sido registrados e, por conseguinte, numa
aritmética que nada de bom lhe prometia em termos políticos, estava diante de pandemia
que levara mais americanos do que os ataques terroristas de onze de setembro de
2001.
Essa nova versão da gripe espanhola -
realidade que até então se recusara a aceitar -
tinha nos próprios gráficos uma previsão entre cem mil a 240 mil americanos ceifados pelo flagelo,
mesmo que cumprisse as restrições sociais que sufocariam a economia e levariam
milhões para a pobreza.
Se a pandemia não é uma guerra, e
se Trump não teve escolha, ele será
julgado pelo modo com que respondeu tardiamente ao desafio. Apesar das críticas - que são muitas - o
presidente se defende fracamente, ao dizer que minimizou a seriedade da ameaça
porque tinha de tranquilizar a população.
A par de decisão de limitar, em
janeiro, as viagens da China - que
ocorreu, aliás, depois que as companhias aéreas já cortassem por conta própria os
voos procedentes daquele país - a sua determinação apenas atrasou a chegada do
vírus aos EUA.
Pleitear ser reeleito depois de
haver falhado na previsão de controlar o avanço do flagelo, não é bom ponto de
partida para disputar a reeleição. Há
muitos prognósticos que apontam para a morte de cem mil a 240 mil
americanos, mesmo com o país cumprindo
as restrições sociais que sufocariam a economia e empobreceriam milhões.
Dentre as previsões, os Estados
Unidos não utilizaram o tempo que tinham para acelerar os testes da vacina.
Tampouco o presidente explicou por que
os exames tardaram. A pandemia de 2020 parece ser tão mortal quanto foram os
anos entre 1918 e 1920, quando 675 mil americanos morreram de causas em que sinistramente se misturam a gripe
espanhola com a 1ª Guerra. Outra
pandemia, a chamada gripe asiática, em
1957, matou cerca de 116 mil nos EUA.
Durante grande parte do
briefing de duas horas desta terça-feira, a mais longa aparição pública de sua
presidência, Trump adotara abordagem sombria. Mas antes de terminar, voltou a reclamar da "farsa do
impeachment" e renovou seus ataques ao ex-diretor do FBI, James Comey, e
ao ex-vice-diretor Andrew Mc Cabe...
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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