terça-feira, 7 de abril de 2020

Os ditadores e o coronavírus


                        
         Para o homem forte da ainda pobre Rússia, o festejado Vladimir Putin vestiu traje de plástico, em amarelo canário, para visitar hospital de Moscou com pacientes da Covid-19. Em seguida, gospodin Putin despachou para a Itália quinze aviões militares cheios de suprimentos médicos, com o slogan "Da Rússia com amor."
          Para o Ditador do Egito, Abdel Fatah al-Sissi,  a pandemia do coronavírus foi associada ao envio de tropas de combate à guerra química, com soldados vestidos com roupas de proteção e armados de desinfetantes, mandados às ruas do Cairo, em uma teatral tentativa de demonstração de poderio militar projetado pelas mídias sociais.
           Já o Presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, esse cruel, mercurial e também corrupto inimigo dos jornalistas,  poderia reivindicar o título de prodígio em termos de jogar  nas tenebrosas masmorras turcas todos os inimigos (reais e imaginários) pelos pretextos mais risíveis.
             No Turcomenistão,  um dos países em que a repressão (e todos os seus sinistros penduricalhos)  é levada a extremos, nenhuma infecção foi oficialmente declarada, enquanto o presidente vitalício Gurbanguly Berdymukhamedov promove seu livro sobre plantas medicinais  como uma possível solução para a pandemia.
             Segundo Kenneth Roth, diretor da Human Rights Watch, o "coronavírus é o novo terrorismo. É o pretexto mais recente para violações de direitos, e temo que persista muito depois que a crise terminar."
               Já em países voláteis por natureza, o vírus minou cruelmente o poder da dissidência. As revoltas populares no Líbano, Iraque, Argélia e Chile pararam nas últimas semanas e, dados os riscos à saúde, é improvável que recuperem impulso em breve.
               Mas a pandemia também embaralhou os planos de muitos ditadores. Vladimir  Putin foi forçado a cancelar um referendo que lhe permitiria permanecer no poder até 2036.  Já o governo do Egito anunciou silenciosamente que o vírus havia matado dois de seus generais mais graduados, alimentando especulações de que a doença se espalhou amplamente no Alto Comando Militar.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )



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