sábado, 25 de abril de 2020

O que significa a Demissão de Moro ?


                             

       Em uma sucessão de crises avança trôpego o Governo Bolsonaro. Que essa trajetória cresça em dificuldades, o ambiente político nesse fim de semana  constitui o reflexo dessa inegável realidade.  As próprias acusações do ministro demissionário da Justiça - se confirmadas - expõem os desmandos do Chefe da Nação e, o que é pior para o presidente, tornam inescapável que as autoridades competentes abram investigações para apurar crimes comuns e de responsabilidade, que lhe são ora atribuídos.
         Assim, movido pelo temor de que inquéritos da Polícia Federal  pudessem vir a atingir a sua família, o Chefe do governo optou por intervir na Corporação, cuja autonomia constitui mandamento legal.
          A gravidade da questão pode ser sumarizada na circunstância de que a autonomia da P.F. é um mandamento legal, e, portanto, não deve ser dos menores o temor do presidente Bolsonaro, a ponto de que o leve a demitir o seu Ministro de maior peso político, uma vez exonerado o diretor da P.F.
           Como pergunta o editorial da Folha de S.Paulo, é preciso saber o que o Presidente teme a ponto de levar o seu ministro mais popular a se demitir, depois de exonerado o diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo.
            Há muitas implicações de crimes, em tais medidas, eis que, segundo acusa o Ministro Moro, o Palácio do Planalto também teria fraudado publicação e assinatura do decreto de exoneração, em ação que configura o delito da falsificação do documento e a consequente prevaricação, cuja gravidade torna imperiosa a competente denúncia pelo atual Procurador-Geral do Ministério Público perante o Supremo Tribunal Federal.
              Dada a estatura política do Juiz Sérgio Moro, e a linearidade de sua atuação, no que tange à Justiça e da Segurança Pública,  choca a atitude de Bolsonaro, se confirmados os procedimentos que lhe são imputados.
               Observando as fotos do hoje ex-ministro Moro, lê-se nos seus olhos e no próprio rosto, surpresa e indignação quanto ao procedimento de seu chefe, o Presidente da Republica. Na verdade, em seu semblante, conforme estampado pela Folha e o Estado de S. Paulo, nele se escreve com as brutais letras de atônito espanto, a indignação quanto ao comportamento do Chefe de Estado. Nele, o já célebre Juiz da Lava-Jato, essa operação que se tornara tanto realidade política, quanto objeto de orgulho de grande parte do Povo brasileiro, que nas suas operações viu restabelecidos padrões existenciais de conduta, que semelhavam esquecidos, tal o assomo e a arrogância dos procedimentos contra o interesse público.

              Não foi à toa que a fisionomia do corajoso magistrado cresceria aos olhos da gente brasileira, que nele viu o defensor de costumes e de procedimentos que semelharam, diante da anterior inação da Justiça, um guardião da Lei e, sobretudo, um símbolo contra as más práticas que aviltavam a Nação brasileira.

               Na fisionomia desse varão de Plutarco, se vê hoje desenhada a justa cólera contra um procedimento inesperado e inaudito, em que o Presidente Bolsonaro buscou transformar a atitude de enraivecido espanto do seu Ministro da Justiça, intentando trazê-la para níveis a que está mais acostumado, como se, ao invés de uma questão de Estado, se tratasse de interesse mais egoístico e comezinho. Quem por acaso perlustre os jornais de hoje, 25 de abril, verá a indignação de um grande brasileiro a ser tratado nos moldes do Senhor Bolsonaro, ele que constitui exemplo de uma geração, em termos de afirmação da Justiça e de um Porvir de esperança para o nosso Povo. Na indignação desse paradigma de larga geração da Nação, eu  vejo a vontade de pôr cobro a tais práticas, que são assacadas contra o Ministro Sérgio Moro, símbolo de uma geração, e a quem compreensivelmente repugna que venha a ser tratado da maneira ora desvendada. Temível é a justa indignação desse grande brasileiro, não por acaso homenageado por tantos compatriotas, que se sentem orgulhosos em mostrar os respectivos princípios, recorrendo ao procedimento de envergar-lhe na singela camisa a sua própria efigie. Compreendo, por conseguinte, tanto a ira deste grande brasileiro, quanto a reação de muitos outros, que se convencerão que o próprio exemplo - sobretudo à vista de tais desmandos - não só perdura, mas encontrará em todos os terrenos em que haja patriotas que respeitem a lição já escrita por esse grande magistrado, e eventuais ações do gênero daquela do atual presidente, mais do que indicam, na verdade determinam, de que é mais do que tempo de trazermos de volta costumes e princípios, em que a Justiça prevaleça, e o horizonte de novo mostre um panorama que mais se adeque aos princípios da Ética e do Direito, sem nada a ver com a triste cena proporcionada pelo atual regime.    

( Fontes: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo )

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