Em uma sucessão de crises avança trôpego
o Governo Bolsonaro. Que essa trajetória
cresça em dificuldades, o ambiente político nesse fim de semana constitui
o reflexo dessa inegável realidade. As
próprias acusações do ministro demissionário da Justiça - se confirmadas -
expõem os desmandos do Chefe da Nação e, o que é pior para o presidente, tornam
inescapável que as autoridades competentes abram investigações para apurar crimes
comuns e de responsabilidade, que lhe são ora atribuídos.
Assim, movido pelo temor de que
inquéritos da Polícia Federal pudessem
vir a atingir a sua família, o Chefe do governo optou por intervir na
Corporação, cuja autonomia constitui mandamento legal.
A gravidade da questão pode ser
sumarizada na circunstância de que a autonomia da P.F. é um mandamento legal, e,
portanto, não deve ser dos menores o temor do presidente Bolsonaro, a ponto de
que o leve a demitir o seu Ministro de maior peso político, uma vez exonerado o
diretor da P.F.
Como pergunta o editorial da Folha de S.Paulo, é preciso saber o que
o Presidente teme a ponto de levar o seu ministro mais popular a se demitir,
depois de exonerado o diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo.
Há muitas implicações de crimes, em
tais medidas, eis que, segundo acusa o Ministro Moro, o Palácio do Planalto
também teria fraudado publicação e assinatura do decreto de exoneração, em ação
que configura o delito da falsificação do documento e a consequente
prevaricação, cuja gravidade torna imperiosa a competente denúncia pelo atual
Procurador-Geral do Ministério Público perante o Supremo Tribunal Federal.
Dada a estatura política do Juiz
Sérgio Moro, e a linearidade de sua atuação, no que tange à Justiça e da
Segurança Pública, choca a atitude de
Bolsonaro, se confirmados os procedimentos que lhe são imputados.
Observando as fotos do hoje
ex-ministro Moro, lê-se nos seus olhos e no próprio rosto, surpresa e
indignação quanto ao procedimento de seu chefe, o Presidente da Republica. Na
verdade, em seu semblante, conforme estampado pela Folha e o Estado de S. Paulo, nele se escreve com as brutais
letras de atônito espanto, a indignação quanto ao comportamento do Chefe de
Estado. Nele, o já célebre Juiz da Lava-Jato,
essa operação que se tornara tanto realidade política, quanto objeto de orgulho
de grande parte do Povo brasileiro, que nas suas operações viu restabelecidos
padrões existenciais de conduta, que semelhavam esquecidos, tal o assomo e a
arrogância dos procedimentos contra o interesse público.
Não foi à toa que a fisionomia
do corajoso magistrado cresceria aos olhos da gente brasileira, que nele viu o
defensor de costumes e de procedimentos que semelharam, diante da anterior
inação da Justiça, um guardião da Lei e, sobretudo, um símbolo contra as más
práticas que aviltavam a Nação brasileira.
Na fisionomia desse varão de
Plutarco, se vê hoje desenhada a justa cólera contra um procedimento inesperado
e inaudito, em que o Presidente Bolsonaro buscou transformar a atitude de
enraivecido espanto do seu Ministro da Justiça, intentando trazê-la para níveis
a que está mais acostumado, como se, ao invés de uma questão de Estado, se
tratasse de interesse mais egoístico e comezinho. Quem por acaso perlustre os
jornais de hoje, 25 de abril, verá a indignação de um grande brasileiro a ser
tratado nos moldes do Senhor Bolsonaro, ele que constitui exemplo de uma
geração, em termos de afirmação da Justiça e de um Porvir de esperança para o
nosso Povo. Na indignação desse paradigma de larga geração da Nação, eu vejo a vontade de pôr cobro a tais práticas,
que são assacadas contra o Ministro Sérgio Moro, símbolo de uma geração, e a
quem compreensivelmente repugna que venha a ser tratado da maneira ora
desvendada. Temível é a justa indignação desse grande brasileiro, não por acaso
homenageado por tantos compatriotas, que se sentem orgulhosos em mostrar os respectivos
princípios, recorrendo ao procedimento de envergar-lhe na singela camisa a sua própria
efigie. Compreendo, por conseguinte, tanto a ira deste grande brasileiro,
quanto a reação de muitos outros, que se convencerão que o próprio exemplo -
sobretudo à vista de tais desmandos - não só perdura, mas encontrará em todos
os terrenos em que haja patriotas que respeitem a lição já escrita por esse
grande magistrado, e eventuais ações do gênero daquela do atual presidente,
mais do que indicam, na verdade determinam, de que é mais do que tempo de
trazermos de volta costumes e princípios, em que a Justiça prevaleça, e o
horizonte de novo mostre um panorama que mais se adeque aos princípios da Ética
e do Direito, sem nada a ver com a triste cena proporcionada pelo atual regime.
( Fontes: Folha de
S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo
)
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