O presidente Jair Bolsonaro, por força
de seu temperamento, e por séria falha de avaliação em termos do desempenho de
seus ministros, notadamente do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, julgou
possível pedir-lhe a cabeça do chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo que, além de ser indicação do titular da
Pasta, sendo diretamente a ele subordinado, exercia atribuições de
investigação, que são da alçada da P.F.
Diante de tais funções ex-officio, que são atribuição do Chefe
da Polícia Federal, não é difícil avaliar que se trata de área exclusiva de sua
atuação funcional, e que, por conseguinte, o Ministro da Justiça não poderia
admitir, que em Estado constitucional de Direito, o processo legal fosse desrespeitado, o que
levaria à exoneração, em ritmo sumário, do Chefe da P.F., que fora nomeado por indicação do próprio Ministro da Justiça,
decisão essa que viria ao arrepio da norma constitucional.
Sabe-se lá por que motivo, o
presidente da República pedia a cabeça do Chefe da P.F., mas decerto não
condizia com a prática constitucional, e ao necessário respeito que se deve aos
processos que são da competência da mais alta autoridade policial.
Não é próprio das democracias que
as normas do Direito sejam amoldadas às
conveniências e à vontade do Chefe do
Estado. Estranha sobremodo, portanto, que Presidente da República haja
intentado forçar a porta dessa via, pois estamos em democracia, e o desejo do
Presidente não é bastante para que os devidos processos atinentes à Lei venham
a ser subvertidos como se houvera poder superior às determinações
constitucionais e legais.
Com republicana firmeza, o Ministro
Sérgio Moro não se curvou à injunção do Presidente Bolsonaro, e preferiu pedir
exoneração do cargo. É um traço raro de caráter, se olharmos à volta. Ele, que
foi o juiz expoente da Lava-Jato, e
que muito contribuíu por sua determinação e exemplo a que essa página de tal
importância para o nosso País prosseguisse como fanal de Justiça e de inteireza
de caráter, mostra uma vez mais quão exemplar continua o seu próprio
comportamento, como a respectiva repercussão de sua atitude mostra à gente de
Brasília, em que as negativas de princípio surpreendem pela raridade. Muito se
engana o Poder quando imagina poder ignorar a Constituição e a Lei. Eis que a reação do Ministro Moro, que não trepida em descer da carruagem do mando ao
ver o Império da Lei ameaçado, constitui nobre, digna e providencial atitude,pois será sempre oportuno
louvar a exação dos respectivos deveres. Não se enganem os arautos e os
partidários das práticas que afrontam o Direito. A nossa História é pródiga em
exemplos de que a exação, ao conviver com o excesso, a ele se habitua.
Ainda na tarde e mesmo tardinha desta sexta-feira,
24 de abril, os espectadores da Rede Globo tiveram oportunidade de
presenciar uma extensa exposição de parte do Presidente Jair Bolsonaro em que
ele fez um longo relato da questão sob o seu ponto de vista, em que lançou
algumas acusações ao Ministro Sérgio Moro, em que procurou ressaltar en passant as condições que este último buscara colocar para garantir
a sua ulterior designação para o Supremo. Voltaram à baila o que cercara a
pós-tentativa de assassinato por Adélio Bispo, com o súbito aparecimento de
advogados de nomeada para defender quem realizara o ato tresloucado na praça de
Juiz de Fora, outras muitas dúvidas acerca de quem estaria por trás do intento
de mega atentado. Chegou mesmo a reportar o assassínio da vereadora Marielle,
com questões ligadas ao atentado de Juiz de Fora.
Sem embargo, os comentaristas da Rede Globo,
como reportaram alguns deles no programa
da Globonews, não semelharam
convencer-se muito com os argumentos do Presidente, no que tange ao seu comportamento
no que tange ao hoje ex-ministro Sérgio Moro.
Quanto mais o presidente fale
sobre o assunto, seja sobre a postura do hoje ex-ministro Moro, seja sobre
ilações mais largas sobre o affaire
Marielle e as implicações do ex-amigo da família Adriano (morto arrecém na
Bahia) e o quanto alcancem o clã Bolsonaro - e todas as suspicácias levantadas
por alguém com tantas implicações com a milícia - e as atenções e expressões de
amizade da família para quem, malgrado a medalha Tiradentes, se marca por uma
reputação com a mala vita, to say the
least, dá sinais tanto fortes quanto
comprometedores.
(
Fonte: Rede Globo )
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