Do terraço de nosso apartamento, em
Ipanema, em boa, prazerosa situação, que ganhei na loteria da vida, pelo meu
próprio esforço em trabalho honesto, aturado, por vezes difícil e até árduo,
por mexer com costumes diversos, e a presença por vezes prenhe de ameaças junto
a poderes demasiado próximos, tenho seguido, por costume conjugal, que minha
querida esposa me fez aprender, com o prazer que nos traz a visão desse eterno,
silente espetáculo que se contenta com a visão antiga do firmamento. Não há experiência que se lhe possa comparar,
se dispuseres da oportunidade para vires a tornar-te, nessa cerúlea, distante,
infinita solitude, vestida de longínquas, maravilhosas formas que se abrem com
os caprichos de tapete persa mergulhado no céu mudo e profundo, a quem visitam
riscos de luxuriantes fantasias, enquanto na sua indiferente e eterna
tolerância, esse espaço infinito nos contempla, na mudez da própria linguagem, eis
que com sublime e eterna indiferença admite à sua faustosa presença a mais um expectador dessa visão que do rei que se crê magnífico, seja ele amado dos súditos ou não, ao humilde,
tosco pastor que, em cuidando do próprio rebanho, poderá entreter-se com tal cintilante
espetáculo, de que da sua eterna mudez há gente que crê receber mensagens, além
dos próprios caprichosos signos de calendário que não está aberto para muitos. Nas noites hodiernas, malgrado as selvas
urbanas e as desenfreadas construções que barram nos campos e nas montanhas
ingressos antes abertos àqueles que se comprazem a construir - quem sabe bordar
- complexos enredos que da abóbada celeste, excluídas as interrupções ditadas
pelos maus humores das intempéries - semelham estar para sempre à disposição dos mortais - se desde o começo dos tempos, aos pastores
nos campos, e aos caçadores em ermas montanhas e densas florestas terá
proporcionado das estrelas e dos astros a visão magnífica, a cintilarem
nervosos e com esplendor alvíssimo, por vezes trêmulo, noutras faiscante,
altivo, ainda que visões fugidias as intercalem diante da humildade entranhada
do divino Pastor, e da agressiva, ostentatória presença dos guerreiros que
ousarem praticar toda série de perversa afirmação de arrogante altivez, quer vestida dos mudos, terríveis exércitos
que em marcha batida reclamam do domínio de terras do sem fim, quer se avantajam pela perfídia e as sinuosas
companhias que constróem pela força da própria resolução, enquanto outros de andrajos
costuram uniformes, à medida que avançam cobertos pelas cúmplices trevas e a
audaz transformação da fraqueza em força, sequer enjeitando os truques mofinos do ardil,
que é a arma dos fracos que cobiçam as riquezas e o luxo de outrem acaso encastelado
por velhas ou modernosas muralhas. Hoje
se queres deparar a antiga floresta, em que ainda se refugiam seus prístinos habitantes,
descendentes decerto desses mesmos indígenas com que Alexander von Humboldt[1]
o primeiro estrangeiro que nas primícias do século XVIII a terá
atravessado na sua densa, pródiga e
maravilhosa riqueza de mãe-Terra. Hoje temos a Papa Francisco que com a sua austera coragem - que arrosta a
deserta Praça de São Pedro, por conta do coronavírus, em mais uma praga a ser
vencida - convocou o Sínodo para a
Amazônia. Que os céus e o povo brasileiro contemplem no futuro a Amazônia
com a sua divina floresta conservada, para maior glória do Senhor e segundo os
estranhos, mas maravilhosos desígnios da Providência. Que a floresta
amazônica, esta maravilha do século XXI, possa ser preservada, com a ajuda e os
préstimos dos amazônidas, que são na
maioria indígenas, e destarte defendida
da ameaça de seus invasores, em especial dos madeireiros, que para ela,
mãe de todas as florestas e pulmão do Planeta Terra, constituem séria ameaça.
Com as bênçãos de Papa Francisco, preservemos
a Amazônia, que é uma das maiores riquezas naturais da Terra, orgulho do
Brasil, que na célebre metáfora traz, na verdade, para o nosso planeta os
indispensáveis pulmões para combater a poluição, denunciada pela Ciência e a
Igreja.
( Fontes: Estado de S.
Paulo e Folha de S. Paulo )
Um comentário:
Olá Pai,
Cumprimentos pela marca histórica, mas principalmente pelo lindo texto, poético e realista ao mesmo tempo.
Grande abraço e Feliz Pascoa,
Mauro
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