A oportuna e muito bem documentada matéria de Natasha Madov, datada de New York, nos fala sobretudo do bairro de classe média Queens - além de
Manhattan, da classe mais alta, do Brooklyn, mais popular, do Bronx e de Staten
Island - esse mega-bairro que é o Queens
hoje concentra um terço dos casos de Covid-19, com um total de mortes que
está em 386 (o total de casos no distrito é 14.966). Como assinala, com oportunidade a
reportagem, em meio à pandemia, a presença das sirenes se tornou tão frequente
que fica impossível não prestar-lhes atenção, pela nervosa passagem das ambulâncias
e ao que elas significam.
Como assinala o artigo, se a
cidade de New York é o epicentro da crise do coronavírus nos Estados Unidos,
por assim dizer o epicentro do próprio epicentro está no hospital municipal Elmhurst, em Queens, que é um distrito
que responde por um terço dos casos de toda a megapole.
Dessarte, o coordenador de
produção Chris Jones não carece de
estatísticas para saber quão sobrecarregado está o Elmhurst. Ele está na rota das ambulâncias que se dirigem ao hospital.
Assim, ouvir-lhes a passagem se tornou tão frequente que a filhinha de onze
meses, Joni, imita o som de suas
sirenes.
'Ouvimos pelo menos duas vezes por hora",
diz. Para Jones "o pior não é ouvi-las, é saber o que elas significam."
Portador de doença autoimune, Jones faz
parte do grupo de risco para Covid-19
e está isolado com a esposa e a filhinha nos 74m2 de seu flat de um quarto desde sete de março. Desde então, só saíu do
prédio 5 vezes, porque a despeito das medidas de isolamento, não é fácil se
manter a dois metros das pessoas dentro
do edifício ou mesmo na calçada. "Deixo para colocar o lixo para fora
tarde da noite, para não correr risco de topar com alguém. E uso luvas de
látex."
New York acelera para triplicar seus leitos hospitalares, de 20 mil para 60 mil, com vistas a poder atender à
população infectada antes do pico dos casos, previsto para meados de abril. N.York
tem cerca de 170 hospitais (particulares e municipais). O governador Andrew
Cuomo, entre outras providências para esse megadesafio, quer
estabelecer central para direcionar profissionais e suprimentos para onde eles
sejam mais necessários, e não descarta a transferência de pacientes de Covid-19 para hospitais no interior do
estado. Com efeito, não só UTIs e
enfermarias estão lotadas; a prefeitura disponibilizou carros frigoríficos para hospitais, cujos necrotérios estejam
operando além da própria capacidade.
Os relatos de médicos e
enfermeiros, nas salas de emergência e UTIs,
retratam cenário apocalíptico, em que profissionais de qualquer especialidade
são transferidos para ajudar em pronto-socorros superlotados. Além da falta de materiais de proteção,
pacientes chegam tão doentes que são postos diretamente em respiradores
mecânicos, aos quais ficam conectados por semanas inteiras.
Um dos médicos do Elmhurst descreveu o volume de pacientes
como uma tsunami, com doentes
morrendo em macas ou cadeiras à espera de um leito. A crise também atinge
hospitais privados. Fotos de enfermeiros da rede Mount Sinai usando sacos de lixo por cima das vestes cirúrgicas
circularam nas redes sociais nos últimos dias. Um alívio para os hospitais
locais chegou na forma do navio-hospital da Marinha americana que atracou em
Manhattan na 2a.feira (30). O USNS
Comfort fornecerá mil leitos e doze salas cirúrgicas.
O centro de convenções Jacob
Javits, na região oeste de Manhattan, também foi convertido em
hospital de campanha com 1.200 leitos, e o governo estadual está construindo
hospitais temporários em outras partes da
cidade.
Enquanto isso, os nova-iorquinos seguem
entocados em casa, e as ruas, bem mais vazias do que o normal. As ordens executivas do prefeito Bill
de Blasio fecharam escritórios e serviços não essenciais, estabeleceram
a regra de dois metros de distância e proibiram aglomerações, mas não
obstaculizaram o direito de ir e vir. Assim, uma das cinco vezes em que Jones
colocou o pé na rua foi para ir ao parque Flushing
Meadows, em Queens. "Foi o único
lugar onde nos sentimos seguros para manter a distância necessária das outras
pessoas".
Os mais de 2800 playgrounds da cidade continuavam
abertos até o governador anunciar nesta quarta, o seu fechamento. Parques,
contudo, seguem abertos. Antes, De Biasio
já havia fechado dez parquinhos infantis municipais porque os frequentadores
não estavam seguindo a regra de manter distância entre si. O prefeito disse
ainda que autorizou a polícia a aplicar multas de US$200 a US$250, para quem
não respeitar a ordem de isolamento social.
A esposa de Jones, Jessica
Letkemann (44), espaça ao máximo as saídas com a filha pequena, porque
"as pessoas não tem noção". Ela diz que, embora as ruas estejam
vazias, muitos não se incomodam de dividir as calçadas estreitas com ela e o
carrinho de bebê e não mantêm distância, chegando a reclamar quando ela pede
que se afastem.
"Tem
entregadores andando de moto ou bicicleta na calçada, idosos indo fazer compras
e muita gente mais jovem andando com os
cachorros", descreve.
"Mas
ninguém vai à rua para passear, é para fazer algo e voltar logo depois."
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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