Uma
boa notícia, misturada entre nuvens agourentas de más novas, por força do
isolamento, três países europeus - Itália e Espanha (estas recém-saídas de
experiências desastrosas), junto com a Alemanha, lograram manter o ritmo de desaceleração, através da implantação do refúgio nos
próprios lares. Nada melhor, diante dos escassos meios da disponível medicação,
que o isolamento social para deter o tenebroso avanço dessa nova peste - que Camus não conheceu - e é agora
personi-ficada por esse estranho vírus, que é plurimus em nomes, mas sardonicamente despojado pelo modo cruel com
que devora e desfigura os pulmões (se a vítima não lograr o pontual apoio que é dado aos desesperados da sorte nas
benesses da UTI).
Nos
nédios números das cruéis estatísticas, se chega a comemorar como se as quedas no
registro das mortes - 525, na Itália, 674, na Espanha; e de infectados na
Alemanha, com aumento de 5.936, que chegam, portanto, a 91.714, como se tal
lotada câmara da morte fosse motivo de júbilo, enquanto procedem tantas
silenciosas batalhas, em que exaustos profissionais da saúde se empenham em
porfias em que a esperança, nessas lutas anônimas, é tímida assistente, em que
muitos lutam contra chamados que vítima e parentes pensam intempestivos, mas
que pela sheer force of numbers, vai
exaurindo médicos e enfermeiras.
E com
os pacientes da tão mal-falada Gripe Espanhola, eis que outro virus
maldito avança na sua horrenda colheita, na azáfama das modernas UTIs ou nos leitos da segunda classe,
reservados àquelas vítimas que não pesaram o bastante para justificar o favor -
dúbio como todo aquele em que Mãe Fortuna
tem aposta pesada - daqueles parentes que se desesperam em uma partida em que
se despedem, lenta, sofrida e raivosamente, desse jogo cruel, em que forças
estranhas jogam fichas pesadas, apostando em thanatos.
(
Fonte: O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário