quarta-feira, 1 de maio de 2013

Descalabro no Transporte Público

                              
       Em terra carioca, basta esperar a luz verde do semáforo para que o pedestre se dê conta de que os ônibus se acreditam fora da lei. Pois o sinal vermelho não lhe dá segurança para atravessar a rua. É mais prudente verificar se nenhum coletivo vem a toda para aproveitar o sinal amarelo e o primeiro vermelho, por que eles em geral na sua pressa não se acham obrigados em respeitar a vez do transeunte.
      Dirão que é um pequeno detalhe, mas diz muito sobre a anarquia no tráfego. As manchetes do Globo de hoje são bastante sintomáticas da desordem no trânsito “Sem punição, ônibus não param de matar no Rio – Triatleta morre atropelado em faixa preferencial para ciclistas em Ipanema”.
      A prefeitura do senhor Eduardo Paes não parece dar muita prioridade à efetiva regulamentação dos ônibus. Não faz muito verificou-se  que um despencado de viaduto  não era vistoriado desde a década passada. Não obstante os padrões cariocas, a sua companhia era conhecida pelos acidentes e a irresponsabilidade dos motoristas.
      Quando se fala de regulamentos, o Brasil está entre os primeiros. Se  leis bastassem, estaríamos decerto dentre os mais favorecidos. O problema não está aí, como bem sabemos. Legislar não basta. Carece educar a população – no que se incluem os motoristas e demais condutores de veículo, além dos proprietários das empresas – para que se conscientizem dos riscos e da melhor maneira de enfrentá-los, que é respeitar a norma e o seu próximo.
      Para aplicar a lei – porque não vivemos nem na Suiça, nem na Escandinávia – carecemos de fiscais. Estarrece, a respeito, que a prefeitura do Rio apenas disponha de quarenta agentes para fiscalizar toda a frota de ônibus, táxis e vans.   
      Não me consta que a prefeitura tenha carência de funcionários. Na terra do empreguismo, não há de ser o caso. Por isso é uma piada de humor negro que esse ridículo número fique responsável para aplicar a lei.
      Segundo informa o jornal, só os coletivos citadinos receberam no primeiro trimestre de 2013 51.888 multas. Entretanto, somente no mês de abril, doze pessoas morreram e 53 ficaram feridas em nove grandes acidentes com coletivos.
      Contudo, e a despeito disso, menos da metade dos motoristas infratores é punida... E basta voltar para aquele não tão imaginário sinal, que os pedestres compreenderão uma das  causas desta perigosa desenvoltura: a virtual certeza da impunidade. De que vale um sinal que passa de amarelo para vermelho? Pouco ou nada, para um condutor que tem pressa por um conjunto de fatores (longos turnos ao volante e a confiança de que escapará uma vez mais por ‘queimar’ o sinal).
       Com muita presteza e docemente constrangida, a prefeitura há de conceder em junho próximo novos aumentos na passagem de todas as conduções. Na inflação de dona Dilma, tudo está controlado menos os preços...
       O senhor Eduardo Paes, que teve reeleição tão tranquila, semelha um pouco desconectado da realidade. Não hão de faltar, é certo, expressões de pesar pelos sacrifícios – alguns deles mortais – no trânsito.
      Creio, no entanto, que a prefeitura está sobrecarregando demasiado o meio de transporte que as estatísticas acima não mostram muito seguro e confiável.  Entre muitas leis, as autoridades devem igualmente respeitar a da oportunidade.
      Semelha, acaso, sensato restringir os meios de transporte do público? Não, seria a resposta automática.
      Infelizmente, não é o que está acontecendo. Basta andar de tarde pelas calçadas da Zona Sul – e há outras, sem dúvida, disponíveis – para que o observador se conscientize de que o transporte por ônibus está deveras sobrecarregado. Em cada ponto, vemos magotes de pessoas à espera de coletivos. Em certos pontos, eles chegam a organizar-se em mais de uma fila, para obter a sua vez no ônibus com um pouco menos de atropelo e tumulto.
       Com o fechamento da estação da Praça General Osório, em Ipanema – e consta que a sua reabertura não será na otimista data indicada – o metrô deixou de ser opção válida de condução para muita gente. Nesse contexto, terá sido sensata a proibição do transporte pelas vans na Zona Sul?
       Transferir de repente para as tardas e perigosas linhas de ônibus todo o fluxo de usuários do transporte público, podando sem piedade os meios auxiliares, será realmente a melhor solução ?
       Para quem tem transporte próprio – o egoísta automóvel que sói levar um isolado passageiro – a decisão não poderia ter sido melhor, não é?  E como fica aquele ou aquela que carece de transporte coletivo, sobretudo o oferecido pelos sobrecarregados ônibus do Rio de Janeiro ?
 

 
( Fonte:  O Globo)    

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